O que este conteúdo fez por você?
- Levantamento da Elos Ayta Consultoria apresenta companhias que não fazem parte dos índices Ibovespa e IDIV (Índice de Dividendos) e que pagaram proventos ininterruptamente nos últimos 5 anos
- Analistas consultados pela reportagem elencam quais ações desta lista poderiam servir para uma estratégia de dividendos
- No entanto, há riscos de uma liquidez baixa, principalmente para investidores pessoa física, que possuem um patrimônio menor
Entre as empresas que remuneram os seus acionistas em maio, um nome ganhou destaque: o Banco da Amazônia (BAZA3), que pagou dividendos de R$ 6,62 por ação aos seus investidores no dia 8. Apesar de não ser a primeira vez que o banco paga dividendos bem acima de R$ 1, a instituição possui poucos investidores pessoa física na sua base acionária, são 14,964.
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A liquidez do banco também é considerada baixa – com um volume médio diário de R$ 311 mil, enquanto o padrão tido como aceitável na Bolsa por analistas é entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão por dia. Mas, afinal, em se tratando de um banco quase desconhecido, o investidor com foco no longo prazo deveria ignorar a falta de liquidez e comprar a ação para garantir os proventos elevados? Ou é melhor deixar na mesa os dividendos gordos e preferir ações mais “populares” no mercado?
Quando o assunto é liquidez as visões dos especialistas se contrapõem. Para Carlos Herrera, analista da Condor Insider, o investidor que tem o foco no longo prazo não precisa se importar tanto com liquidez. Mas, para montar uma carteira de ações pensando na aposentadoria, outros fatores devem ser observados. Entre eles a capacidade de a empresa pagar bons dividendos no futuro, governança, perenidade do negócio e conservadorismo financeiro, aponta ele.
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“Partindo da base de que o investidor tem a vida financeira nos trilhos, uma reserva de emergência e fontes de renda estável, se ele pensa numa carteira previdenciária, não deveria se importar muito com a liquidez dos papéis”, defende Herrera.
Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, tem uma visão semelhante e acredita que em ações com pouca liquidez é possível garimpar boas oportunidades para o longo prazo. “Eu gosto de empresas menores, small caps, porque nessas empresas temos maiores oportunidades, tanto de valorização quanto de dividendos, porque o mercado não acompanha estas companhias”, comenta.
Segundo Duarte, é muito mais fácil encontrar uma Vale (VALE3) ou uma Petrobras (PETR3;PETR4) cara do que uma companhia que tem menos de R$ 500 mil diários de negociação. “É muito mais simples encontrar retornos exponenciais nas empresas que o mercado não olha”, acrescenta.
Contudo, para quem busca colocar companhias ilíquidas na carteira, Duarte aconselha a não alocar mais de 5% do seu patrimônio neste tipo de empresa. Embora haja poucos analistas que acompanhem estes papéis e informações disponíveis no mercado, o analista também aconselha o investidor a olhar para a gestão da empresa investida. “Quanto mais próximo você estiver da empresa, nessas empresas menores, melhor, porque não tem quem as acompanhem no mercado”, diz.
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Há também os riscos de uma liquidez baixa, principalmente para investidores pessoa física, que possuem um patrimônio menor. Segundo Silas Nunes e Luiz Barsi Neto, assessores da Barsi Investimentos, enquanto uma ação paga bons dividendos e está em um preço aceitável, o acionista aceita carregar o ativo.
No entanto, se acontecer algum conflito na empresa, o investidor terá dificuldade de vender suas ações. “Caso ocorra uma mudança de liderança, de política da empresa ou alguma fraude que mude esse cenário, o investidor não consegue sair da companhia, por conta da liquidez. Por esse motivo, se torna muito arriscado, então não é uma boa ideia para o investidor geral ter ações de baixa liquidez”, destacam os especialistas.
Quais ações com baixa liquidez pagam bons dividendos?
Levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, para o E-Investidor apresenta 20 companhias que não fazem parte dos índices Ibovespa e IDIV (Índice de Dividendos) e que pagaram proventos ininterruptamente nos últimos 5 anos.
Na mediana de dividend yield dos últimos cinco anos, todas entregaram retornos com proventos acima de 5%. Algumas apresentam também baixa liquidez. Veja abaixo:
Empresa | Código | Setor | Dividend yield últimos 12 meses | Mediana Dividend yield últimos 5 anos | Liquidez média diária |
Elektro | EKTR4 | Energia elétrica | 26,13% | 18,71% | R$ 25 mil |
Coelba | CEEB3 | Energia elétrica | 13,10% | 13,10% | R$ 39 mil |
Equatorial Para | EQPA3 | Energia elétrica | 14,95% | 12,50% | R$ 53 mil |
Cosern | CSRN3 | Energia elétrica | 11,22% | 11,22% | R$ 8 mil |
Comgas | CGAS5 | Gás | 9,61% | 10,18% | R$ 236 mil |
Celesc | CLSC4 | Energia elétrica | 13,72% | 9,19% | R$ 225 mil |
Mercantil Investimentos | BMIN4 | Bancos | 11,31% | 8,30% | R$ 54 mil |
Rio Paranapanema Energia | GEPA4 | Energia elétrica | 20,12% | 8,10% | R$ 38 mil |
Banco Mercantil | BMEB4 | Bancos | 13,24% | 7,97% | R$ 498 mil |
Rede Energia | REDE3 | Energia elétrica | 10,86% | 7,92% | R$ 35 mil |
Whirlpool | WHRL4 | Eletrodomésticos | 8,40% | 7,75% | R$ 47 mil |
Nord Brasil | BNBR3 | Bancos | 7,50% | 7,50% | R$ 18 mil |
Grazziotin | CGRA4 | Tecidos vestuário e calçados | 9,44% | 7,27% | R$ 147 mil |
Banestes | BEES3 | Bancos | 9,27% | 6,80% | R$ 121 mil |
Aço Altona | EALT4 | Máq. e equip. industriais | 6,59% | 6,59% | R$ 71 mil |
Banese | BGIP4 | Bancos | 14,02% | 6,54% | R$ 48 mil |
Monteiro Aranha | MOAR3 | Holdings diversificadas | 8,31% | 6,53% | R$ 13 mil |
Metisa | MTSA4 | Máq. e equip. construção e agrícolas | 7,47% | 6,46v | R$ 151 mil |
Fras-le | FRAS3 | Material rodoviário | 6,46% | 5,88% | R$ 4.483 milhões |
Sanepar | SAPR11 | Água e saneamento | 7,98% | 5,45% | R$ 23.643 milhões |
Fonte: Einar Rivero, Elos Ayta Consultoria
Quais ações valem a pena para dividendos?
Analistas consultados pela reportagem elencam quais ações desta lista poderiam servir para uma estratégia de dividendos.
No curto e médio prazo, algumas empresas já conseguem remunerar bem os seus acionistas. É o caso de Elektro (EKTR4), Coelba (CEEB3), Cosern (CSRN3) e Equatorial Pará (EQPA3), aponta Gabriel Duarte da Ticker Research. O analista cita também a Fras-le (FRAS3) e a Sanepar (SAPR11).
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Segundo Duarte, contudo, existem formas de se expor a estes papéis sem enfrentar a liquidez baixa. O motivo é que boa parte destas companhias fazem parte de outras empresas. “Comprando Neoenergia (NEOE3), o investidor consegue ter exposição a Elektro (EKTR4), Coelba (CEEB3), Cosern (CSRN3), que fazem parte do portfólio da empresa”, explica Duarte.
Já no caso de Equatorial Pará (EQPA3), a exposição pode ser feita por meio da Equatorial (EQTL3), segundo o analista da Ticker. A Fras-le também integra o portfólio da holding Randon (RAPT4).
Duarte explica que a Fras-le trabalha com fabricação de peças de reposição e produtos para veículos. A companhia possui relevância no setor em que atua e tem, segundo o analista, boas oportunidades de crescimento. Apesar disso, Duarte prefere a exposição via Randon para conseguir se beneficiar de ambas as companhias.
Herrera, da Condor Insider, cita companhias como Celesc (CLSC4) e Rio Paranapanema Energia (GEPA4), além da empresa de saneamento Sanepar (SAPR11). Ele também enxerga como interessantes os bancos presentes na lista.
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Segundo Herrera, Celesc possui uma série de ativos, que fazem com que a companhia tenha um modelo semelhante a uma holding e opere de forma parecida com a Copel (CPLE6) e Cemig (CMIG4).
Em relação as distribuidoras, Elektro (EKTR4), Coelba (CEEB3), Cosern (CSRN3), Herrera, alerta para o fato de ser o segmento mais arriscado do setor elétrico, por este motivo o investidor deve ficar atendo com o endividamento, os ciclos de investimentos e a governança destas companhias.
Sanepar, preferida do mercado
Com uma liquidez mais aceitável, a Sanepar (SAPR11), presente na lista, foi apontada por vários analistas como oportunidade para dividendos. A companhia costuma remunerar seus investidores sempre no mês de junho.
Bruno Oliveira, analista da plataforma AGF, destaca que, observando um histórico de 20 anos da Sanepar, a companhia possui uma trajetória robusta de pagamento de dividendos, com um payout (parcela do lucro destinada a proventos) entre 40% e 50%.
“A Sanepar pertence a um setor perene, de saneamento, e tem bons projetos de expansão. Inclusive, está perto de atingir as metas mínimas do novo marco legal de saneamento, que definiu como data máxima o ano de 2033”, afirma.
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Já entre os riscos de investir em Sanepar, Oliveira cita decisões políticas – como o que aconteceu na pandemia – que podem acabar impactando o resultado da empresa. “Não é algo que afasta totalmente o investidor, mas certamente incomoda”, comenta.
Para 2024, a plataforma AGF tem um dividendo projetivo de R$ 1,44 para SAPR11, O preço-teto de compra para garantir no mínimo 6% de rendimento é de R$ 23,33.
Duarte, da Ticker, projeta um dividend yield de 7% para Sanepar neste ano. Ele lembra que a companhia paga dividendos altos de forma recorrente, sempre superando o patamar de 6%. “Ela ganhou um processo na justiça que pode colocar no bolso da empresa cerca de R$ 4 bilhões”, afirma.
A remuneração se trata de precatórios, no valor de R$ 3,6 bilhões, explica Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest. Contudo, ainda não há certeza de quando ocorrerá este pagamento. “Para uma empresa com valor de mercado de R$ 8,27 bilhões, R$ 3,6 bilhões representa bastante coisa”, avalia Biz. Na visão dos analistas, o valor provavelmente viraria dividendos.
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Biz também defende que a Sanepar é uma oportunidade para uma carteira de dividendos, por ser uma empresa eficiente inserida num segmento resiliente e perene e que aporta previsibilidade na geração de receitas através de contratos de longo prazo. “A empresa possui um histórico de resultados resilientes e distribuiu dividendos nos últimos 10 anos de forma ininterrupta. Por esse motivo, acredito que essa tendência deve continuar no futuro”, afirma o analista.
Entre os riscos, cita possíveis revisões tarifárias da Agepar (Agência Reguladora do Paraná), que nem sempre acompanham os índices inflacionários. Outro risco, segundo Biz, seria a forte necessidade de investimentos para se adequar ao marco de saneamento. “Mas a empresa deve mitigar isso com parcerias público privadas para captar recursos”, reforça.
Biz espera que a Sanepar entregue um dividend yield de 6,2% em 2024.
Oportunidades para o longo prazo
Para aquele investidor que tem a paciência para esperar as companhias se consolidarem e receber dividendos interessantes apenas no longo prazo, Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, cita três empresas: Aço Altona (EALT4), Metisa (MTSA4) e Fras-le (FRAS3).
Na Aço Altona, que trabalha com fabricação de peças industriais para o segmento de mineração, Queiroz destaca que a companhia converte praticamente 100% do seu caixa, tem uma estrutura boa de capital e baixo endividamento. “Isso permite imaginar um dividend yield potencial de 15% a 20% nos próximos anos”, avalia.
Na visão de Queiroz, contudo, se trata de uma empresa para carregar por entre 2 e 4 anos para finalmente usufruir do dividendo elevado. “A Aço Altona tem investimentos a serem feitos no curto prazo, por isso os dividendos não devem ser tão interessantes neste período, mas ela tem todos os fundamentos e qualidades para ser um ativo de longo prazo”, pontua.
Já a Metisa, que fabrica peças e implementos agrícolas e de metalurgia, pode remunerar melhor os investidores no curto prazo, de acordo com Queiroz. Ele destaca que a companhia está descontada e pode entregar um dividend yield superior a 30% nos próximos 2 ou 3 anos.
“Mas o investidor precisa ter a noção de que é um papel de baixa liquidez, pouca visibilidade, não faz parte de nenhum índice, mas a empresa entrega sólidos fundamentos para essa construção de dividendos de curto prazo, em um valuation muito barato e dentro de um setor que tem perspectiva de continuar crescendo”, destaca o analista da L4 Capital.
Já em relação a Fras-le, que fabrica peças de automóveis, Queiroz acredita que a companhia tem um forte crescimento pela frente e muito investimento a ser feito, motivo pelo qual não tem espaço para dividendos no curto prazo.
Ele cita que a companhia está em um processo de expansão nos Estados Unidos, que pode também incluir fusões e aquisições. “É por esse motivo que nos próximos dois anos ela não deve ser uma forte distribuidora de proventos”, avalia.
Mas, a partir do terceiro ano, a companhia pode render frutos, segundo o analista. Quem comprar e carregar pode ser interessante. Sem dúvida, ela teria todas as características de uma boa distribuidora de dividendos daqui para frente”, diz.
Fora da lista também há oportunidades
Os analistas citam também empresas que não estão no levantamento, mas que podem vir a pagar bons dividendos no longo prazo e por tal motivo valeria a pena o aporte. A maioria delas também tem uma liquidez reduzida.
Queiroz destaca a empresa de resíduos Orizon (ORVR3) e a Hidrovias do Brasil (HBSA3), que trabalha com transporte hidroviário e logístico.
Herrera, da Condor Insider, cita a CSU Digital (CSUD3), que acredita está descontada e mostrou uma ótima geração de caixa nos últimos 30 anos. O dividend yield esperado para CSU neste ano pelo analista é de 7%.
Outra companhia seria a Syn (SYNE3), do setor imobiliário e de construção. “A Syn monetizou ativos, com os quais deve amortizar dívidas e poderia distribuir dividendos no longo prazo”, afirma.
Há ainda o Banco da Amazônia (BAZA3) que segundo Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos, costuma a ter um payout (parcela do lucro destinada a proventos) histórico entre 40% e 50%. O analista cita que nos últimos anos, no entanto, o payout até chegou a recuar para 20%.
“É uma empresa boa pagadora de dividendos, não tem nada que prejudique a companhia, a não ser sua liquidez”, observa. Sobreira comenta que, pela falta de liquidez, muitas vezes a companhia acaba não negociando a um preço atrativo para os investidores. No entanto, possui bons fundamentos. “O crescimento do lucro da empresa foi de 37% nos últimos cinco anos, a receita avançou 22%, a margem dela é boa e o lucro por ação elevado”, destaca.
A cotação também disparou nos últimos cinco anos, de acordo com Sobreira, chegando a saltar quase 600%. “É um banco que tem forte perspectiva de crescimento”, afirma.
Sobreira projeta um dividend yield entre 6% e 7% para os próximos 12 meses.