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Pacote de más notícias ameaça dividendos desta empresa do setor de energia

Analistas esperam por queda dos dividendos no curto prazo, em meio a novos investimentos e endividamento

Pacote de más notícias ameaça dividendos desta empresa do setor de energia
Analistas veem dividendos menores para a TAEE11 no curto prazo. (Foto Marcelo Min/Estadão)
O que este conteúdo fez por você?
  • Taesa (TAEE11) enfrenta um cenário difícil, combinação de alavancagem elevada, menor número de projetos em andamento, resultados financeiros não tão expressivos e uma revisão em sua política de dividendos
  • No 1T24, a companhia divulgou uma mudança na base de cálculo de sua política de dividendos, que agora será feita a partir do lucro líquido regulatório
  • Analistas esperam por queda no dividend yield de curto prazo, em meio à necessidade de novos investimentos e endividamento alto

Uma das ações preferidas dos investidores para ganhar dividendos recorrentes está com a distribuição de proventos ameaçada para 2024. A Taesa (TAEE11) enfrenta um cenário difícil, combinação de endividamento elevado, menor número de projetos em andamento, resultados financeiros não tão expressivos e uma revisão em sua política de dividendos. Um combo que fez o mercado revisar as projeções de dividend yield para o curto prazo.

A Taesa divulgou seu balanço financeiro referente ao primeiro trimestre de 2024 no dia 9 de maio. O Ebtida Regulatório reportado foi de R$ 485 milhões, abaixo dos R$ 491 mi que esperava o mercado. Junto com os números, a companhia de transmissão anunciou uma mudança em sua política de dividendos.

Em fato relevante, a Taesa informou que passará a utilizar o lucro líquido regulatório, e não o IRFS (padrão internacional de contabilidade), na base de cálculo para a distribuição de proventos. A proposta é remunerar os acionistas com o mínimo de 75% do lucro líquido regulatório em 2024 e, a partir de 2025, propor a distribuição entre 90% a 100% desses valores.

“Os investidores pessoa física gostam muito da Taesa porque, não só é uma empresa que se valorizou muito nos últimos 5 anos, como paga dividendos em torno de 8% a 10% ao ano”, diz Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimento. “Só que, ao mudar a base de cálculo para o lucro líquido regulatório, o montante potencial de dividendos reduz”.

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A medida não altera muito do processo de geração de valor para o acionista de longo prazo. Mas aqueles que mantêm a TAEE11 na carteira com foco no recebimento de proventos devem ser impactados negativamente, ao menos no curto prazo.

Na avaliação da Genial Investimentos, a mudança do dividendo para a contabilidade regulatória é um avanço, tendo em vista a aderência do método em relação a geração de caixa da empresa. Ainda assim, traz como um efeito prático a redução do yield esperado para 2024 – após a divulgação da mudança, a corretora reduziu a estimativa de dividendos da Taesa de 11% para 8% no ano.

“O rendimento esperado de dividendos para o ano de 2024 deve ser pressionado pela aplicação dessa política enquanto os próximos anos devem ser normalizados em relação ao pay-out histórico. O evento é marginalmente negativo Para investidores focados em dividendos, o evento é marginalmente negativo”, destacam Vitor Sousa e Israel Rodrigues, analistas do setor elétrico da Genial.

Velhos desafios no radar

Segundo a Taesa, a mudança na base de cálculo dos dividendos tem como visa “a execução do planejamento estratégico e maior previsibilidade por parte do mercado” e “reforça a estratégia da Companhia baseada no crescimento sustentável e solidez financeira”. Mas a redução dos proventos pagos pela companhia não é uma possibilidade que surge agora na tese da companhia.

Há algum tempo, analistas chamam a atenção para o nível de endividamento da empresa. A dívida líquida sobre Ebitda em 12 meses da Taesa, que mede o nível de alavancagem de uma companhia, está em 3,8 vezes; a maior entre os pares. Uma “pedra no caminho” dos novos investimentos no radar da empresa.

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Para a Genial, uma questão se impõe: a Taesa deveria focar primeiro em reduzir sua alavancagem para então viabilizar novos projetos e aumentar a receita, ou deveria priorizar a aquisição de novos projetos para elevar a receita e acelerar sua desalavancagem? Não há resposta certa, mas todos os caminhos apontam para uma queda da remuneração de investidores.

“Em ambos os cenários, a empresa enfrentará perdas potenciais, seja por perder oportunidades de aquisição no curto prazo ou por ampliar ainda mais seu endividamento”, explicam os analistas Vitor Sousa e Israel Rodrigues. “Já tínhamos adiantado que uma das possibilidades para a Taesa seria diminuir o fluxo de pagamento de dividendos para acelerar o processo de desalavancagem e abrir espaço para entrada de novos projetos, uma vez que quando adquiridos, os novos projetos demoram cerca de 3/4 anos para começarem a gerar receita”, afirmam.

Há cerca de um ano, circulou no mercado rumores de que a companhia estaria se preparando para realizar uma oferta de ações para captar cerca de R$ 2 bilhões. O follow-on teria como objetivo captar recursos para os leilões de linhas de transmissão de energia que aconteceram no segundo semestre de 2023.

À época, como mostramos aqui, analistas acreditavam que a companhia poderia optar pela operação para ter caixa para adquirir novas concessões sem precisar reduzir o pagamento de investidores – isso porque, como parte dos contratos vigentes da companhia estão com prazos avançados, o mercado já entendia que havia a necessidade de a companhia ganhar novos projetos nos leilões.

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A Taesa logo se pronunciou, dizendo que não havia decisão formal sobre o tema, e o follow-on realmente não saiu. Mas isso mostra como este não é um tema que entrou agora no radar.

Flavio Conde, da Levante, destaca que a mudança na política de dividendos pode ter sido a alternativa encontrada. Como muda a base de cálculo da distribuição, reduz os valores e a serem pagos aos investidores; abrindo espaço para que a companhia consiga atuar no endividamento ou desenvolver os novos projetos que são essenciais para a recomposição da receita futura.

“É um dilema que vale para todas as empresas do setor. As companhias precisam crescer, vão ter que se endividar temporariamente por causa dos novos investimentos; isso aumenta a despesa financeira, diminui a receita financeira e aí cai o lucro líquido. Naturalmente, eles distribuem menos dividendos”, explica. “Essa mudança na base de IRFS para lucro regulatório foi feita justamente para não deixar a empresa tão alavancada”.

Ação cara

Apesar de ser um papel queridinhos dos investidores e uma empresa bastante sólida no mercado de energia brasileiro, analistas não têm recomendado a compra das ações da Taesa. O consenso de mercado disponível no Broadcast traz sete recomendações para as units TAEE11: duas de venda, cinco neutras.

O primeiro ponto por trás desse posicionamento é o atual preço dos ativos. A média dos preços-alvos entre as recomendações do Broadcast é de R$ 36,84 por papel, um potencial de valorização muito pequeno em relação à atual cotação. O entendimento é que o valuation está elevado, principalmente em relação ao dos pares Alupar (ALUP11) e Isa Cteep (TRPL4).

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Flávio Conde, da Levante, explica que a métrica de valuation mais utilizada para avaliar os ativos do setor de energia é o EV/Ebitda, um indicador que relaciona o valor da companhia com a sua geração de caixa. Isso porque, ao contrário da métrica de preço sobre lucro (P/L), também muito utilizada no mercado, o cálculo do EV/Ebitda leva em conta o endividamento de determinada companhia; um ponto importante na avaliação das elétricas.

“O EV/Ebitda da Isa Cteep em 2024 é de 6,7 vezes e o da Alupar, de 6,5 vezes. O da Taesa é de 9,5 vezes”, destaca Conde. “Em relação aos pares, é o papel mais caro.”

Em um contexto de valuation esticado e dividendos menores no curto prazo, a Genial Investimentos é uma das que tem recomendação de manter as ações da Taesa. Em relatório divulgado logo após a publicação do balanço 1T24 da companhia, os analistas da corretora destacaram que o resultado não foi negativo, mas tampouco justifica que a empresa seja negociada acima de seu valor justo. “Pelas nossas estimativas, com a empresa negociando com uma Taxa Interna de Retorno Implícita de 8,3% em termos reais, contra 6,13% das NTN-Bs 2045, aos atuais níveis de preço não vemos razões para uma recomendação mais agressiva ao papel.”

A EQI Research também prefere se manter neutra no papel. “Preferimos outros nomes do setor, considerando que a empresa enfrenta um desafio de alavancagem crescente, perspectiva de queda de receita no médio-longo prazo e uma provável redução nos dividendos que antes eram vultuosos”, diz Luis Moran, analista da EQI Research, em relatório.

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As duas recomendações de venda da TAEE11 são do Itaú BBA, que está restrito no papel, e do Santander, que têm como preço-alvo R$ 35,95 e R$ 35,02, respectivamente.

Sobre a TAESA (TAEE11)

A Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. (Taesa) é uma empresa brasileira que atua no setor de transmissão de energia elétrica. Fundada no início dos anos 2000, a Taesa é especializada na construção, operação e manutenção de ativos de transmissão.

Em 2003, a empresa italiana Terna S.p.A. assumiu as concessões das companhias de transmissão de energia Novatrans e TSN. Em 2006, a Terna estabeleceu a holding Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. para administrar as concessões. Nesse mesmo ano, as ações da empresa foram listadas na Bolsa de Valores de São Paulo.

A Terna vendeu a holding para a CEMIG e o FIP Coliseu em 2009 e a empresa passou a se chamar Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A (Taesa). Nos anos seguintes, a Taesa realizou dois IPOs para impulsionar seu crescimento e em 2013 ocorreu uma Oferta Pública Secundária, que arrecadou um total de R$ 1,3 bilhão.

A Taesa está presente em todas as cinco regiões do país, atuando em 18 estados e no Distrito Federal. A empresa é responsável por cerca de 14 mil quilômetros (km) de linhas de transmissão, sendo mais de 11,5 mil km destinados à operação e manutenção e cerca de 2,5 mil km em construção. Aproximadamente 100 subestações de transmissão em todo o território nacional estão sob controle da companhia.

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A empresa detém por volta de 40 concessões autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com prazos que variam de 2030 a 2057. Na B3, está listada com ações ordinárias (TAEE3), preferenciais (TAEE4) e units (TAEE11).

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