

O aumento dos impostos sobre produtos importados colocados pelo presidente dos EUA, Donald Trump, começa a valer nesta terça-feira (4). A partir de hoje, produtos do Canadá e do México que chegarem ao país norte-americano vão sofrer com o tarifaço de Trump com impostos adicionais de 25%. No caso da China, a taxa foi dobrada, acumulada agora em 20%. Analistas ouvidos pelo E-Investidor comentam que, no geral, o Brasil será pouco impactado, com algumas empresas da Bolsa correndo riscos e outras se beneficiando do cenário.
Para Ernesto Revilla, economista do Citigroup para a América Latina, entre os países latino-americanos, o México é o mais vulnerável por ter o segundo maior superavit comercial com a economia americana. Brasil e Argentina, ambos com déficit com os Estados Unidos, estão entre os menos vulneráveis.
“A Argentina e o Brasil não estão em risco dado o déficit comercial com os EUA”, afirma relatório produzido por Revilla e seu time, que serviu de base para um vídeo enviado hoje para clientes do banco americano. “O México é singularmente vulnerável a tarifas relacionadas ao comércio.”
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Segundo informações do Broadcast, o banco americano prevê crescimento de 2,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) da região este ano. “Contudo, as maiores economias, Brasil e México, estão em desaceleração e vão continuar assim”, afirmou em vídeo do banco para investidores.
No cenário para a inflação, os índices de preços estão em convergência para as metas dos bancos centrais, disse o economista, mas com divergências. As taxas de juros devem continuar caindo no México e Colômbia, enquanto devem seguir em alta no Brasil.
Em termos de efeitos de tarifas, no México, as exportações representam quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média da América Latina é de 24%. No Brasil, uma economia mais fechada, é pouco menos de 20% e na Argentina menos de 15%.
“O comércio do México é extremamente concentrado nos Estados Unidos, com 80% de suas exportações”, disse Revilla no vídeo, ressaltando que a média da região é 33%.
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Em termos de superavit comercial com os Estados Unidos, o México tem o segundo maior no mundo, de US$ 172 bilhões, só perdendo para a China, com US$ 295 bilhões. “Muitos dos países da América Latina têm um déficit comercial com os EUA, o que os protege do tarifaço de Trump”, disse ele.
Assim, com exceção do México, a América Latina pouco importa para o enorme déficit comercial dos EUA. Além disso, a economia mexicana aumenta a participação no déficit comercial americano.
Temores de tarifaço de Trump podem aumentar para as empresas brasileiras
Para Virgilio Lage, analista da Valor Investimentos, o impacto real no Brasil de fato não será tão significativo, mas o mercado pode temer que as promessas da taxação do aço brasileiro se confirmem. Ele aponta que a ArcelorMittal pode ser uma das empresas impactadas em caso de exportações para os Estados Unidos se o presidente americano confirmar as tarifas sobre o aço, levantadas recentemente.
“As empresas de siderurgia podem ter a rentabilidade afetada devido à queda com as exportações. O agronegócio brasileiro também pode ser impactado pelo tarifaço de Trump e ter quedas de receitas”, diz Lage. No entanto, o analista reforça que o aumento de impostos sobre os produtos brasileiros ainda não aconteceu e que isso seria somente um temor do mercado.
Já Alexandre Motonaga, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que, se as tarifas ficarem somente sobre México e Canadá e não recaírem sobre o Brasil, o agronegócio brasileiro pode encontrar uma oportunidade de vender seu produto mais barato e encontrar um novo mercado. Ainda assim, ele lembra que esse fator pode gerar um efeito reverso, com o produto brasileiro dominado a prateleira no início e o presidente dos EUA impondo tarifas sobre os produtos brasileiros em resposta ao fenômeno.
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Cassius Pimenta, contador e conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (CRCGO), explica que, se o tarifaço de Trump recair sobre os produtos brasileiros, como o agronegócio, é possível haver uma queda do preço dos produtos nas prateleiras, devido ao aumento da oferta.
“A longo prazo, contudo, a medida seria prejudicial, pois não absorvendo o mercado doméstico os produtos eventualmente não exportados e não havendo o redirecionamento da produção para outros países, poderá haver a redução de empregos diretos destas indústrias, até a paralisação de plantas industriais”, diz Pimenta.
Alexandre Motonaga, da FGV, recorda que o tarifaço de Donald Trump também pode fazer o dólar subir no médio prazo. Isso porque, com a alta das tarifas, o imposto será repassado para o consumidor americano. Essa questão pode gerar inflação e fazer com que o banco central dos Estados Unidos, Federal Reserve (Fed), eleve juros, o que deve impulsionar o dólar mundialmente.
“Isso pode provocar uma alta do dólar ante o real. No entanto, vale lembrar que esse não seria o principal motivo para uma alta da moeda americana em relação ao real. Se o Fed subir os juros, a bolsa brasileira vai cair por isso. Todavia, a nossa economia interna, com questões fiscais das contas públicas, pesa mais que as tarifas de Trump sobre o preço do dólar ante real”, diz Motonaga.
O que fazer em meio ao tarifaço de Trump?
Em linhas gerais, os analistas preveem volatilidade nos próximos dias. Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, comenta que o mercado brasileiro só não está caindo hoje pelo fato de hoje ser feriado de carnaval. No entanto, ele afirma que essas questões afetam o mercado em todo mundo e que, amanhã, a tendência é de queda. “Precisamos ver se o mercado vai digerir essa situação ou se o mercado vai continuar mais depressivo”, aponta Souza.
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Virgilio Lage, da Valor Investimentos, comenta que o investidor deve ver se possui empresas do setor de siderurgia, que podem ser tarifadas. E ver aquelas que podem se beneficiar, como a Gerdau, por ter unidade nos EUA e poderem ganhar com o mercado interno americano. Nesse sentido, ele recomenda redução de participação em empresas que podem sofrer com as tarifas e aumento de participação em empresas que podem ganhar com as tarifas. “Ainda assim, vale lembrar que o Brasil não foi tarifado ainda. Desse modo, no curto prazo, o que teremos é volatilidade do mercado. E para se proteger disso, o ideal é alocar a maioria dos recursos na renda fixa, para assim, proteger o seu patrimônio”, diz Lage.
Motonaga, da FGV, compartilha do mesmo pensamento. Segundo ele, a renda fixa brasileira está “excelente” com a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,25% ao ano. “Nesse momento, só vale a pena ir para renda variável a pessoa que acompanha o mercado diariamente e tem perfil de Day Trade. Isso porque a volatilidade deve ser grande no mercado. Por isso, se a pessoa não tiver esse perfil, o melhor é ir para a renda fixa nesse período do tarifaço de Trump”, argumenta o professor da FGV.
(Com informações do Broadcast e colaboração de Beatriz Rocha)