- Tesouro Direto teve alta no primeiro trimestre do ano para a maioria dos seus títulos
- Perspectiva de queda na taxa de juros influencia a escolha de investimento em títulos prefixados ou com parte prefixada
- Avaliações sobre a prioridade para títulos pré não são unânimes devido aos riscos envolvidos
O Tesouro Direto encerrou o primeiro trimestre de 2023 com alta na maioria dos títulos. Entre os 23 títulos categorizados com dados anuais, que incluem pós-fixados (Tesouro Selic), prefixados (Tesouro Prefixado) e híbridos (Tesouro IPCA+), apenas um reportou queda no acumulado dos três primeiros meses de 2023.
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O cenário de manutenção dos juros em patamar considerado alto historicamente – a taxa Selic se encontra em 13,75% ao ano – ajudou a beneficiar a renda fixa nos últimos meses, ao contrário do que ocorre com a renda variável, que registra fuga de investidores de ativos de maior risco. No entanto, com a possibilidade de inversão da curva de juros, analistas discutem se chegou o momento de reajustar a exposição entre as categorias do Tesouro.
De acordo com os especialistas entrevistados pelo E-Investidor, a curva já chegou no topo e deve começar a cair ainda neste ano. O boletim Focus mais recente, da última segunda-feira (27), mostra que pela sexta semana seguida a maior parte do mercado projeta uma Selic de 12,75% ao final de 2023, o que significaria corte de um ponto porcentual na taxa.
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A possibilidade de que a taxa de juros caia nos próximos meses está entre as questões que influenciaram o desempenho dos títulos. E é exatamente isso que deve entrar no radar de quem investe no Tesouro. Como as categorias são beneficiadas em diferentes cenários, a mudança de rota da economia representa menos ou mais ganhos para cada título.
Em termos gerais, cada modalidade de investimento cumpre uma função importante no portfólio de acordo com o ciclo econômico. Os prefixados têm vantagem quando há quedas da taxa de juros, o pós se beneficia da alta da Selic e o IPCA+ defende o investidor contra quadros inflacionários.
Revisão
A principal atenção no momento está voltada para o Tesouro Selic. Por ser um título pós-fixado ajustado pela taxa de juros, ele é diretamente beneficiado pela elevação da curva, o que tem sido visto desde 2021. No caso de cortes, os rendimentos passam a ser menores.
“Agora que os juros tendem a cair, os títulos prefixados ou com parte prefixada são mais indicados para investidores com perfis de risco adequados, pois apresentam melhor desempenho no curto prazo quando há cortes na taxa de juros”, avalia o economista e sócio da DOM Investimentos, Thiago Calestine.
A economista Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais, diz que é o momento de fazer maiores exposições ao prefixado para aproveitar que a demanda ainda está baixa. “Por conta da expectativa de redução dos juros, todo mundo vai começar a olhar para esses ativos e com isso as instituições vão ofertar a taxas menores”, afirma.
O Portfólio Manager de Alocação de Ativos da da Principal Claritas, Rodrigo Cabraitz, diz que a análise do novo arcabouço fiscal pode impulsionar a abertura aos pré-fixados, com destaque para aqueles com vencimentos mais longos, que tiveram maiores dificuldades no primeiro trimestre deste ano. Isso porque as perspectivas econômicas ficariam mais claras.
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“Se tivermos um arcabouço crível, a curva terá boa performance. A tomada de risco de títulos mais longos deve ser um movimento natural com regras fiscais consistentes”, considera o especialista. Veja a primeira impressão do mercado sobre o plano apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Riscos
As avaliações sobre a prioridade por títulos prefixados para os próximos meses não são unânimes. O analista de renda fixa da Nord Research Christopher Galvão é um dos que defendem maior cautela. “Os prefixados estão com taxas elevadas, mas não é preferência dado a sua chance de perda”, diz Galvão, sobre os riscos envolvidos.
O analista da Nord concorda com a possibilidade de ganho com um arcabouço bem aceito pelos investidores, mas pondera: “Sem que as regras sejam críveis, poderemos ter um aumento da perspectiva de risco fiscal, com alta de juros futuros e risco do prefixado”, diz. “Com a Selic elevada, seguimos preferido o pós-fixado. Ainda que a taxa de juros venha a cair, dada a informação que temos, ela seguirá elevada”, acrescenta Christopher Galvão.