O que este conteúdo fez por você?
- Em abril deste ano, o "Primo Rico" lançou o streaming de educação financeira Finclass, uma espécie de Netflix dos investimentos
- "Eu já atingi minha liberdade, agora eu faço pelo Brasil, pelas pessoas. Virou minha missão de vida”, afirma
- Nigro bateu um papo com o E-Investidor sobre a volatilidade da bolsa de valores nos últimos meses. Ele também fala sobre a reforma tributária que, segundo ele, é motivo de preocupação para os investidores
- A recomendação do especialista, no entanto, é aproveitar as oportunidades e ressignificar a volatilidade
No Youtube são 5,14 milhões de inscritos, no Instagram 5,5 milhões de seguidores. Aos 31 anos, Thiago Nigro, o Primo Rico, conquistou uma legião de pessoas interessadas em suas dicas e recomendações de investimentos.
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Na semana passada, durante a estreia do desafio do “Mil ao Milhão”, a live no Instagram comandada por Nigro atraiu cerca de 80 mil pessoas em plena madrugada, às 5h06 da manhã. Todos interessados em saber: como chegar ao primeiro milhão?
O objetivo é ensinar aos investidores o caminho das pedras para atingir a tão sonhada liberdade financeira.
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Mas quem vê Nigro como um verdadeiro fenômeno das finanças hoje, não imagina que ele também já passou por maus bocados nos investimentos. Aos 18 anos, ele recebeu R$ 5 mil dos seus pais e como já era fascinado por mercado financeiro, resolveu investir tudo na bolsa de valores. O resultado não foi nada bom: ele perdeu todo o dinheiro em um prazo de uma semana.
“O meu erro foi, primeiro, a ignorância, eu não tinha conhecimento. Segundo, o excesso de confiança, eu achava que sabia tudo. Investir é algo natural do dia a dia e eu fui muito confiante, ignorante, ganancioso e arrogante”, diz. Segundo ele, a combinação dessas características é uma mistura explosiva que só pode gerar resultados desastrosos ao investidor.
Após o baque, Nigro se dedicou aos estudos. Ainda durante a faculdade de Relações Internacionais, realizou cursos e conquistou cinco certificações para operar no mercado financeiro. Depois de se profissionalizar, ele se tornou sócio da Investpartner Investimentos e chegou a fundar sua própria consultoria em 2015, a M.Nigro Investimentos, vendendo sua parte em 2017. Mas sua carreira realmente decolou em 2016 por conta do canal Primo Rico, no YouTube. O negócio cresceu e ficou gigante, agora chamado de Grupo Primo.
A influência de Nigro é gigantesca. Segundo ele, a fama tem suas vantagens e desvantagens. Mas falar de investimento para milhares de pessoas requer muita responsabilidade. “Eu nunca digo o certo a se fazer, eu sempre digo o que é errado. Eu falo sobre princípios, porque eles sim estão certos”, diz.
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Em abril deste ano, Nigro lançou o streaming de educação financeira Finclass, uma espécie de Netflix dos investimentos. “Eu já atingi minha liberdade, agora eu faço pelo Brasil, pelas pessoas. Virou minha missão de vida”, afirma.
Nigro bateu um papo com o E-Investidor sobre a volatilidade da bolsa de valores nos últimos meses. Ele também fala sobre a reforma tributária que, segundo ele, é motivo de preocupação para os investidores. A recomendação do especialista, no entanto, é aproveitar as oportunidades e ressignificar a volatilidade.
Confira os principais trechos da entrevista.
E-Investidor – Você iniciou o desafio “Do Mil ao Milhão” na última semana. Como chegar ao primeiro milhão?
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Thiago Nigro – Não existe formula mágica. Todas as pessoas que tentam descobrir uma, ou que acham que encontraram uma receita, acabam ficando no meio do caminho, porque de fato essa fórmula não existe. Para chegar ao milhão ou em qualquer resultado extraordinário, é preciso trabalhar três pilares: gerir bem as finanças pessoais, investir em bons negócios e ganhar dinheiro com o seu trabalho.
Essa diferença entre o que você ganha e o que você gasta deve ser investida, por isso, a gente precisa aprender sobre investimento para multiplicar esse dinheiro com mais eficiência. Se você mexer um pouco em cada alavanca: finanças pessoais, investimentos, e no crescimento profissional, você vai conseguir chegar, mais cedo ou mais tarde, no objetivo final.
E-Investidor – É possível atingir esse objetivo com um aporte modesto e sem correr grandes riscos?
Nigro – É possível sim, com certeza. Existe uma questão matemática envolvida: se você faz aportes modestos, de R$ 200 a R$ 300 por mês, por exemplo, é possível chegar, mas vai demorar muito para alcançar o valor.
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Se você tiver disposto a estudar um pouco mais, a chance de aumentar a sua rentabilidade é muito grande. Como estamos falando de um investimento de longo prazo, aumentando a rentabilidade você pode encurtar de cinco a dez anos essa jornada. Se estiver disposto a poupar um pouco mais para investir, você também vai economizar muito tempo.
Ou seja, com investimentos modestos você vai chegar, mas vai demorar. Mas não faz sentido se conformar com essa realidade, por isso é importante se desenvolver na profissão, porque é isso que vai te dar patrimônio para investir. É possível, mas não é provável. A gente não pode se enganar, se iludir.
E-Investidor – Como o sobe e desce da taxa básica de juros nos últimos dois anos pode interferir nesse objetivo?
Nigro – Pode interferir no objetivo sim. De forma geral, o sobe e desce é ruim quando você não sabe o que está fazendo.
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Olhando pelo lado dos investimentos, para uma pessoa que é rentista, que quer ganhar dinheiro na renda fixa, os seus investimentos vão render menos com a taxa de juros baixa. Por outro lado, é positivo para o empreendedor porque a economia fica mais aquecida. Do lado das finanças pessoais, os financiamentos ficam mais baratos, então as pessoas gastam menos e, por consequência, economizam mais.
Hoje existe um movimento de alta, mas se olharmos para os últimos 20 anos, a tendência secular no mundo é de taxa baixa. A cada século desde 1.300, a taxa de juros caiu. No Brasil, nos últimos 20 anos, chegamos a ter uma taxa muito alta, beirando os 15% ao ano, mas a nossa taxa caiu. O problema é que ela caiu muito rapidamente e de uma forma não natural, então é esperado que ela volte um pouco pra cima agora.
Como o processo de enriquecimento leva tempo, é possível que o Brasil ainda tenha uma tendência de médio e longo prazo de queda da taxa de juros, embora hoje isso esteja sendo reajustado pra cima. Mas isso não é ruim, de forma alguma, e não vai impactar seriamente a construção de patrimônio do investidor.
E-Investidor – Muitos ainda não investem porque dizem que “ganham pouco”. É possível investir com pouco e ainda assim ter bons retornos?
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Nigro – Ter um bom retorno não tem muita relação com ter muito ou pouco dinheiro. Hoje a barreira para investir bem é o conhecimento, porque com R$ 100 ou R$ 1.000 mil você consegue investir legal. Quando eu falo de investimento, acho interessante as pessoas pensarem em tudo que dá retorno.
Por exemplo, investir seu tempo para aprender, ler, adquirir conhecimento para empreender pode fazer você ganhar mais dinheiro e retorno do que o investimento em si. No mercado financeiro, você pode ter um bom retorno sim, mas sobre uma base muito pequena, então não é isso que vai mudar o jogo no começo. No longo prazo, sim.
E-Investidor – Qual é a sua dica de ouro para quem pensa em investir, mas ainda tem medo?
Nigro –O segredo é a experiência, que vai tirar o seu medo, e o conhecimento, que vai te impulsionar a dar o primeiro passo. Se você aliar um pouco de estudo com a prática, você perde o medo ao longo do tempo.
Eu sempre digo pra começar com pouco: se a pessoa tem R$ 100 mil para investir, começa com R$ 1 mil. Se tem R$ 1 mil, começa com R$ 100, porque se der tudo errado, você perde pouco. Mas a maior chance é de você ganhar com os investimentos. E quando isso começa a acontecer, você vai ficando mais confiante, até o momento em que o investidor já fica segura no que está fazendo, entende e sente familiaridade.
Warren Buffet sempre diz que você deve começar colocando só um pé no rio para depois entrar com os dois. Minha dica é essa: estude e comece. Mas não fique estudando apenas, porque a pessoa que só estuda vira uma obesa mental, ela estuda e não pratica, isso não traz resultado.
E-Investidor – Qual foi o seu principal erro quando começou a investir?
Nigro – O meu erro foi, primeiro, a ignorância. Eu não tinha conhecimento. Segundo, o excesso de confiança, eu achava que sabia tudo, achava que era investidor. Investir é algo natural do dia a dia e eu fui muito emocionado, muito confiante, ignorante, ganancioso e arrogante.
Quando você mistura essas coisas, o combo é explosivo. Eu errei em tudo que dava para errar nesse começo, mas para quem erra cedo isso não é uma má notícia. Temos que fazer exercício de longo prazo, imagina se eu errasse isso lá na frente? Aí sim seria um grande problema, ainda bem que errei cedo, e foi bom porque aprendi e não errei mais.
E-Investidor – Nos últimos meses, o Ibovespa tem oscilado fortemente como consequência dos ruídos políticos e fiscais. Com as eleições presidenciais de 2022 já no radar, o investidor deve se preocupar?
Nigro – As eleições sempre são turbulentas na bolsa de valores. Historicamente, em ano de eleição, a bolsa sempre sobe ou desce. Ou seja, aumenta a volatilidade. Isso pode atrapalhar, mas a volatilidade tem que ser ressignificada para o investidor. Será que ela é ruim mesmo? A volatilidade gera oportunidade. Então, deve preocupar o investidor? Eu acho que não, mas deve ser um ponto de atenção.
A eleição gera oscilação e gera também oportunidade. Se você já investe, o conselho é acompanhar. Se você investe e tem um capital fora da bolsa, é bom ficar de olho nas oportunidades. Agora se você está de fora, está correndo o risco de, por algum motivo, a bolsa subir e perder os ganhos. Por isso, o ideal é sempre diversificar e não olhar pra volatilidade como algo ruim, mas como algo bom que gera pontos de entrada interessantes e permite comprar mais barato quando os outros não acreditam nos negócios. As pessoas são muito medrosas e é justamente quando as pessoas estão medrosas que a gente encontra as oportunidades mais legais.
E-Investidor – Independentemente do perfil de risco, qual é a melhor forma de proteger a carteira contra crises?
Nigro – A melhor forma é diversificando o patrimônio. A ideia é que você monte um time: atacante, defesa e goleiro. Quando eu monto uma carteira de investimentos, parte dela tem o atacante, que são as ações, que são os ativos que mais devem render na carteira. Mas também tem o goleiro, que são os ativos de renda fixa, que vai garantir estabilidade e flexibilidade para resgatar o dinheiro.
E tem a defesa, que são os investimentos em ações nos EUA, exposto ao dólar, que sobre desde 1994 aqui no Brasil, e também em investimentos imobiliários, porque a terra é escassa e não dá para fazer mais terra. A terra simplesmente existe e os seres humanos não param de nascer. É possível montar uma carteira diversificada de R$ 1 mil, R$ 5 mil, R$ 10 mil, é muito acessível.
E-Investidor – O mercado financeiro está acompanhando de perto a Reforma Tributária. Na sua avaliação, existe motivo para preocupação?
Nigro – Motivo para preocupação sempre existe. Afinal de contas, de alguma forma vamos ser impactados. Se pagarmos mais impostos, isso é ruim, ninguém quer pagar mais imposto em um País em que já se paga tanto imposto. Por outro lado, o Brasil não está conseguindo controlar as contas, então precisamos retirar recursos de algum lugar.
As reformas são necessárias hoje, mas do jeito que estão sendo apresentadas, eu vejo que de um lado a gente ganha, e de outro a gente perde. Ela tem que ser olhada sim com preocupação, porque se a gente deixar o negócio rolar, sem discutir isso e sem reivindicar algumas mudanças, a chance de sermos penalizados, em especial os investidores, é muito grande. Por outro lado, sempre existe espaço para não o investidor não ser tão penalizado.
Se a reforma tributar dividendos, mas diminuir o imposto, o que vai acontecer é que as empresas devem distribuir menos dividendos. Se o investidor aportar em empresas que não pagam dividendos, essas empresas vão ter resultados ainda maiores. Sempre tem uma forma de ganhar dinheiro, desde que o investidor entenda o que está acontecendo antes das outras pessoas, porque as pessoas demoram muito pra reagir. Existe sim motivo de alerta, mas toda preocupação está acompanhada de uma oportunidade.
E-Investidor – A taxação de proventos prevista na reforma do IR pode criar um efeito de rebalanceamento nas carteiras voltadas para empresas que pagam bons dividendos aos acionistas?
Nigro – É muito possível porque o dividend yield pode ter uma relação mais baixa depois disso, mas aí você tem um custo de oportunidade. Os FIIs, supondo que não sejam tributados, continuam com a mesma rentabilidade e as ações diminuem, então é natural que exista um rebalanceamento para alguns investidores mais conservadores, mas pode ser uma questão momentânea.
E-Investidor – Em abril deste ano você anunciou, em primeira mão ao E-Investidor, o lançamento da plataforma de ensino via streaming Finclass. Como você avalia o desempenho do streaming nos seis primeiros meses de atividade?
Nigro – Avalio como uma experiência em constante evolução. O Finclass nasceu com uma promessa excelente, a gente entrega um ótimo conteúdo e temos os maiores investidores do mundo dentro da plataforma, como Howard Marks e outros. Desde o início nos preocupamos em ouvir nossos clientes e atender aos pedidos deles. Está sendo uma experiência gostosa e de muito aprendizado. Fiquei bastante impressionado que o público que assinou o Finclass é mais premium, embora o ticket seja mais baixo que os cursos de educação financeira e investimentos.
Vimos também uma grande movimentação do mercado após o lançamento. A maior parte dos ícones de finanças vieram falar com a gente para estarem atrelados à plataforma pelo branding e muita gente do mercando olhando para o produto e fazendo o mesmo. Já vi várias plataformas sendo lançadas com uma proposta parecida desde então. É natural que mercado surfe na onda do que está dando certo e do que é legal para o cliente.
E-Investidor – Antes do lançamento você afirmou que “o mercado financeiro mudaria para sempre”. Você já vê os primeiros sinais dessa mudança?
Nigro – Com certeza, é só olhar para a quantidade de plataformas que estão sendo lançadas após o Finclass e o número de pessoas que estão estudando em cursos pagos depois disso, o número vem aumentando muito. Ao mesmo tempo, o nível de qualidade de produção e a exigência dos clientes, também aumentou. O mercado de educação financeira mudou e isso faz parte da evolução. A gente vai ter que se reinventar novamente com o tempo como qualquer inovação e produto exigem.
E-Investidor – O Brasil ocupa a 74ª posição no S&P Ratings Services Global Financial Literacy Survey, ranking global de educação financeira com 144 países. Na pesquisa, apenas 35% dos brasileiros responderam corretamente sobre conceitos financeiros básicos. Como você avalia essa realidade?
Nigro – Temos um problema estrutural gigantesco no Brasil. Não temos educação financeira na base e ela não é culturalmente disseminada também. Nossos pais não ensinaram isso e nossos avós não ensinaram aos nossos pais. Isso está mudando, mas o impacto dessa mudança ainda vai demorar para ser vista. Eu encaro isso como um espaço gigantesco para realizar nosso propósito, mas temos muito trabalho para fazer.
As pessoas que me seguem têm uma jornada de evolução, mas eu não falo com todo mundo ainda, eu falo com 10 milhões de pessoas, mas o Brasil tem 200 milhões de habitantes. Eu fico muito triste de ver essa realidade porque o que mudou a minha vida foi aprender sobre dinheiro. Eu vi muitas vidas sendo destruídas pelo mau uso das finanças. Por outro lado, eu sei que essa realidade vai mudar, os maiores influenciadores de finanças do mundo estão no Brasil e a gente tem feito um trabalho forte nesse sentido.
O que me dá esperança é que as pessoas estão se interessando cada vez mais por dinheiro e a gente percebe isso pelo número de pessoas que começam a nos seguir e interagir. Sou esperançoso e otimista, acho que a gente vai conseguir mudar esse jogo no médio e longo prazo.
E-Investidor – O que falta para o brasileiro se relacionar melhor com o dinheiro?
Nigro – Poderia responder alguns clichês, como conhecimento, mas não acho que é isso. Acho que falta uma mudança de cultura mesmo, porque lidar com dinheiro é muito mais uma questão de emoção do que de conhecimento técnico. É como eu querer te ensinar a gastar menos dinheiro, mas é só você gastar menos dinheiro. Não é conhecimento técnico que vai mudar, é a sua motivação.
A gente aqui no Brasil nasce achando que o rico é do mal, todo vilão é rico. Essa cultura faz a gente se afastar da direção de construir patrimônio de alguma forma, é desmotivador. Essa não é a realidade, o dinheiro é uma coisa boa. Então o que falta pra gente é ressignificar o dinheiro como sendo algo bom e não ruim. Essa é uma mudança importante e estrutural, porque como a maioria dos brasileiros não tem condições, falar de dinheiro parece um grande problema, um grande tabu. Aliás pesquisas indicam que falar de dinheiro é um tabu maior que falar de sexo.
E-Investidor – As criptomoedas já entraram no radar dos investidores e tomaram conta do noticiário. Você é um entusiasta dos ativos digitais?
Nigro – Eu comprei bitcoin pela primeira vez em 2012, então sou entusiasta há bastante tempo, mesmo antes de estar na moda. O meu interesse maior sempre foi em ações, em negócios, sempre falei muito mais sobre isso, mas nunca deixei de olhar para as criptomoedas. A promessa e a filosofia que está por trás das criptos são muito bacanas, eu admiro e concordo. Inclusive compramos uma participação em um exchange de criptomoedas, na Biscoint. Eu não só tenho criptos como sou sócio de uma exchange. Sou muito fã desse mercado, sou entusiasta e torço pra que dê certo.
E-Investidor – Acredita que o bitcoin tem potencial para se tornar a nova moeda global?
Nigro – Seria muita ousadia minha dar uma opinião dessa. Acho que alguma criptomoeda pode sim ocupar esse espaço, só não sei se será o bitcoin. Gostaria que fosse, já que eu tenho bastante bitcoin.