Contra o real, o dólar também tem caído em 2025. Após superar pela primeira vez na história a marca de R$ 6 em novembro de 2024, a moeda americana cede 11,23% ante a brasileira neste ano. Na segunda-feira (16), chegou a fechar o dia cotada a R$ 5,4861, no menor nível desde outubro.
Bancos estrangeiros têm estimado um cenário ainda desafiador para o dólar nos próximos meses. As últimas projeções do Morgan Stanley apontam para uma queda de 9% no índice DXY até a metade de 2026, aos 91 pontos, o que levaria o índice ao menor patamar desde 2021, durante a pandemia de covid-19.
O cenário base do JPMorgan também aponta para uma desvalorização adicional do dólar frente às principais moedas até o final do ano e acende um novo sinal de alerta: o de que essa fraqueza ocorra de forma mais rápida no médio prazo.
Diante disso, o banco reiterou que a diversificação de moedas é sempre uma estratégia prudente, independentemente das taxas de câmbio. “A diversificação cambial não só ajuda a mitigar o risco associado à concentração em uma única moeda, como também proporciona acesso a oportunidades de investimento em diferentes mercados”, avalia em relatório.
Dólar em queda: o que tem pressionado a moeda americana?
Segundo especialistas, diversos fatores ajudam a explicar o dólar em queda na economia global e muitos deles estão associados às medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No começo de abril, o republicano anunciou diferentes tarifas de importação para outros países, no que chamou de Liberation Day – Dia da Libertação, em português.
De lá para cá, os EUA recuaram em algumas taxas e firmaram negociações com outras nações. O mais novo pacto deve ser feito com a China. Na última quarta-feira (11), Trump afirmou que o acordo com o gigante asiático está concluído, sujeito à aprovação final do próprio republicano e do presidente chinês, Xi Jinping, de acordo com publicação na rede Truth Social.
Mesmo com as atualizações mais recentes, os desdobramentos da disputa tarifária ainda pesam no mercado. “A sinalização de uma possível volta de políticas protecionistas tem aumentado a percepção de risco em relação à economia americana, o que tende a afastar o capital estrangeiro e pressionar o dólar. O mercado teme impactos negativos no comércio global e na competitividade das empresas dos Estados Unidos”, afirma Elson Gusmão, diretor de operações da Ourominas.
Para Carlos Honorato, professor da FIA Business School, as constantes idas e vindas nos acordos comerciais também geram insegurança e ampliam a pressão sobre a moeda americana. “Esse movimento de avanço e de retrocesso que ele coloca nas negociações efetivamente cria uma instabilidade na moeda. Então, é provável que no curto e médio prazo o dólar fique mais depreciado”, diz.
Juros nos EUA e a pressão sobre o dólar
Um outro ponto também deve chacoalhar os mercados nos próximos meses: o projeto orçamentário de Trump, apelidado de “big beautiful bill” – “grande e belo projeto de lei”, em português. O texto, que foi aprovado por 215 a 214 votos na Câmara, propõe redução de impostos, tendo um impacto estimado de US$ 2,4 trilhões em dez anos à dívida nacional, que já ultrapassa US$ 36 trilhões. As estimativas são do Congressional Budget Office, agência governamental que produz análises econômicas independentes.
Marcos Weigt, diretor de tesouraria do Travelex Bank, explica que o aumento expressivo da dívida dos EUA pode elevar a percepção de risco fiscal no país, afastar investidores de Treasuries (títulos públicos americanos) e reduzir a demanda por dólar. “No médio e longo prazo, déficits elevados podem pressionar a moeda, especialmente se houver dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal americana”, afirma.
Na lista de fatores que ajudam a acentuar a queda do dólar, está também a possibilidade de corte de juros nos Estados Unidos, tese corroborada por dados recentes de inflação. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), divulgado na última quarta-feira (11), subiu 0,1% em maio ante abril. Analistas consultados pelo Projeções Broadcast esperavam alta mensal de 0,2%.
Um eventual relaxamento monetário no país reduziria o diferencial de juros dos Estados Unidos em relação a outras economias desenvolvidas, o que diminuiria a atratividade das operações de carry trade – estratégia de investimento que consiste em tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investir em outro que ofereça taxas mais altas.
Vale trocar dólar por euro? Veja o que dizem os especialistas
Enquanto o dólar recua no ano, o euro sobe 11,67% em relação à moeda americana. Na quinta-feira (12), a divisa europeia chegou a renovar o maior nível contra o dólar desde 2021, atingindo o patamar de US$ 1,1596. Nesse cenário, começam a surgir dúvidas entre os investidores: será que vale a pena repensar a alocação da carteira e considerar uma troca de exposição cambial?
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, avalia que, apesar da perda pontual de influência americana no cenário mundial, os fundamentos de longo prazo da economia dos Estados Unidos permanecem sólidos. Ele lembra que a zona do euro também não está isenta de problemas. “A região convive com um crescimento econômico persistentemente baixo, população envelhecendo, menor protagonismo tecnológico em relação aos Estados Unidos e dificuldades de coordenação política entre os países-membros. Isso limita o apelo do euro como substituto real do dólar no longo prazo”, avalia.
Para Honorato, da FIA, a divisa americana ainda é uma moeda insubstituível. “Eu não acho que faça sentido você substituir o dólar pelo euro nem por qualquer outra moeda. O dólar tem uma reserva de valor muito grande justamente por ser a reserva de valor do mundo”, destaca.
Em relatório, o JPMorgan vai na mesma linha e ressalta que a fraqueza do dólar não coloca em dúvida seu status como moeda de reserva. Embora o banco considere que ainda existe margem para um desempenho mais fraco da moeda americana, impulsionado pela realocação global de ativos, nenhuma outra moeda pode rivalizar com ela em termos de reservas internacionais, liquidação de operações ou infraestrutura financeira.
Ainda assim, o euro valorizado pode ter espaço na carteira como forma de diversificação junto com o dólar, segundo Weigt, do Travelex Bank. “O euro tem se fortalecido em 2025 com a postura mais firme do Banco Central Europeu (BCE) no combate à inflação. Vale pela diversificação, mas é preciso considerar o diferencial de juros entre EUA e Europa”, afirma.