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Ibovespa tem pior queda na transição de governo desde FHC em 1994

A média do movimento do índice quanto ao valor de mercado nos 25 dias após a eleição é de alta de 0,25%

Ibovespa tem pior queda na transição de governo desde FHC em 1994
FHC foi presidente até 2022, quando Lula assumiu o posto por mais oito anos. Em seguida, Dilma comandou o Brasil até sofrer impeachment em agosto de 2016. Bolsonaro entrou no posto de 2018 a 2022, quando perdeu a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva, que assumirá a presidência em 2023 (Fonte: Pixabay) .
  • Um levantamento realizado por Einar Rivero, do TradeMap, a pedido do E-Investidor, apontou como o principal índice da B3 despenhou 25 dias depois de cada presidente brasileiro ter ficado em 1º lugar na disputa presidencial, entre 1994 e 2022
  • Vale destacar que não é possível fazer comparações entre os governos, pois, as realidades macroeconômicas e políticas de cada período são diferentes
  • Para especialistas, o próximo presidente precisa indicar os nomes que vão integrar os ministérios, principalmente da Economia, Fazenda e Planejamento

Desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou as eleições para assumir a cadeira de presidente em janeiro de 2023, o mercado teve desempenho negativo. Em 25 dias, o Ibovespa perdeu 4,79% em valor de mercado. Essa quantidade é a maior desde que Fernando Henrique Cardoso (ex-PSDB) ganhou o pleito em 1994.

Um levantamento realizado por Einar Rivero, do TradeMap, a pedido do E-Investidor, apontou como o principal índice da B3 despenhou 25 dias depois de cada presidente brasileiro ter ficado em primeiro lugar na disputa presidencial, entre 1994 e 2022. O estudo considerou o valor de mercado de cada ano.

Vale destacar que não é possível fazer comparações entre os governos, pois as realidades macroeconômicas e políticas de cada período são diferentes.

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Há 28 anos, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o peessedebista conquistou 55,22% dos votos, enquanto o petista ficou com 39,97%. Porém, o mercado tinha dúvidas na época sobre como seria a gestão do novo presidente, já que via a economia passando por um momento de baixo crescimento enquanto novas medidas de estabilidade econômica eram tomadas, declarou os analistas da Terra Investimentos.

Victor Bueno, analista de Small Caps da Nord Research, lembra que após escândalos de corrupção ligados a Fernando Collor estourarem, o então presidente sofreu impeachment em 1992 e, com isso, seu vice-presidente Itamar Franco assumiu o posto. Ele então nomeou uma nova equipe econômica liderada por FHC, que assumiu como ministro da Fazenda, ao final de 1993.

No ano seguinte, na tentativa de controlar a inflação e retomar os rumos da economia brasileira, o governo anunciou o Plano Real. “Mas o controle inflacionário e as boas expectativas geradas em torno do mandato de FHC não foram suficientes para acalmar os ânimos do mercado. Nos primeiros momentos após as eleições, a Bolsa de Valores teve desvalorização de 8,65%”, declarou o especialista.

Na prática, o mercado tinha dúvidas se o Plano Real daria certo e se o governo conseguiria manter suas políticas de controle inflacionário. Gustavo Gomes, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos contou também que o fato do Ciro Gomes ter assumido a cadeira de ministro da Fazenda, substituindo Rubens Ricupero, envolvido no Escândalo da Parabólica, também não agradou os investidores.

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No entanto, Fernando Henrique conseguiu se mostrar eficiente no ponto de vista econômico, tanto que conseguiu se reeleger na eleição de 1998, novamente vencendo Lula, com 53% dos votos válidos contra 31,7% do petista. “Com o controle da inflação e do câmbio, além de não ter congelado preços no Brasil, FHC ganhou ainda mais força para o segundo mandato e o mercado reagiu bem, com a Bolsa subindo 3,66% após as eleições”, afirmou o analista da Nord.

Luiz Inácio Lula da Silva

As duas eleições seguintes, de 2006 e 2006, foram ganhas por Lula, líder do Partido dos Trabalhadores. No primeiro governo, o mercado apresentou forte volatilidade no começo, porque havia uma preocupação sobre os riscos fiscais e uma hiperinflação, já que os juros estavam na casa dos 26% – o dobro do que é hoje (13,75%). No entanto, com o discurso de que o presidente estava preocupado com a economia o mercado ficou mais aliviado, o que refletiu no bom desempenho do índice, explicou o sócio da Acqua Vero Investimentos.

O analista da Nord também lembra que apesar das desconfianças com relação à entrada de um governo de esquerda, Lula escreveu a “Carta aos Brasileiros”, acalmando os ânimos da população de que não realizaria grandes mudanças políticas e econômicas. Dessa forma, o mercado aguardava por sinalizações mais concretas sobre os próximos anos.

Já no segundo mandato, o petista conseguiu entregar uma performance esperada pelo mercado, visto que existia um "boom" de commodities na época, e também fez com que o País entrasse no superávit primário (resultado positivo de todas as receitas e despesas do governo).

Com isso, o presidente petista ganhou ainda mais força para um novo mandato e venceu as eleições de 2006, derrotando mais uma vez um candidato do PSDB, dessa vez Geraldo Alckmin. No segundo turno, o petista ficou com 48,6% dos votos válidos, enquanto o peessedebista alcançou 41,6%, apontaram os dados do TSE.

Dilma e o Impeachment

A ex-presidente Dilma Rousseff chegou ao posto em 2010, quando venceu José Serra, com 56,05% contra 49,93%, no segundo turno. O queda levemente baixa do Ibovespa de 0,50% nos 25 dias seguintes foi resultado de uma dúvida do mercado sobre quais seriam as políticas econômicas do governo.

Segundo os analistas da Terra, mesmo que sem uma certeza, havia uma crença de que ela daria continuidade às políticas de Lula, “beneficiado muitos setores da Bolsa, por meio dos programas sociais do governo”.

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Quanto a vitória para o segundo governo, que ocorreu entre 2014, de acordo com Gomes, da Acqua Vero, o benchmark do mercado brasileiro foi impactado por dois fatores, que resultaram na alta de 2,47%: nos Estados Unidos, os Republicanos ganharam a eleição, o que trouxe um alívio para o mercado internacional, que procurou tomar mais riscos, buscando investimentos em países emergentes, como o Brasil; e Rousseff também indicou uma equipe econômica mais ortodoxa.

Dentre os nomes estavam: Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini.

Bolsonaro e Lula

Após um longo período o sob governos de esquerda, Jair Bolsonaro foi eleito no segundo turno das eleições de 2018, vencendo o candidato do PT, Fernando Haddad. Com uma equipe econômica comandada por Paulo Guedes (liberal por essência), o mercado reagiu positivamente, subindo 2,24%, nos primeiros 25 dias após a eleição, apontou Bueno, analista da Nord.

Régis Chinchila, especialista da Terra, também afirmou que “o governo Bolsonaro tinha uma equipe econômica com foco no mercado, que já havia se comprometido em realizar as reformas necessárias para que o país retomasse o crescimento. Naquele momento, as expectativas para o mandato eram positivas”.

Porém, quatro anos depois, o atual presidente foi o primeiro candidato a não conseguir se reeleger ao pleito. Ele perdeu para o Lula, com 49,1% dos votos válidos, contra os 50,9% do petista, no segundo turno.

Nas últimas semanas, de acordo com Bueno, a reação de queda de 4,79% não está “necessariamente” ligada ao nome do vencedor, mas sim às primeiras sinalizações do futuro presidente, principalmente com relação às questões da PEC de Transição, com possíveis furos no teto de gastos, e à também possível nomeação de sua equipe econômica, com pessoas que não agradaram o mercado para o Ministério da Fazenda, como Fernando Haddad.

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Chinchila também disse que “o mercado tinha uma percepção favorável quanto ao possível governo Lula, pelos seus mandatos anteriores. Mas as primeiras ações e falas sobre a estabilidade fiscal do País e mercado financeiro quebram as expectativas que o mercado tinha sobre o governo”.

O texto, que ainda precisa ser debatido pelos deputados e senadores, propõe retirar o Bolsa Família do teto de gastos sem prazo determinado, uma medida que custaria R$ 175 bilhões já no próximo ano, além de deixar espaço para gastos adicionais no valor de R$ 22,9 bi.

O mercado deve continuar no mesmo caminho?

De acordo com Louise Barsi, economista e sócia do AGF (Ações garantem Futuro), o mercado esperava por um candidato que mantivesse as reformas, a independência das estatais e fosse fiel ao teto e gastos e às políticas fiscais. “Infelizmente, não é o que estamos vendo [...] o mercado apostou que Lula iria se direcionar para um governo parecido com o que foi em 2022, mas parece que irá acenar para algo mais parecido com o tripé-econômico feito na era Dilma”.

Na avaliação de Barsi, o mercado já antecipou um possível aumento na inflação no próximo ciclo, tanto que os juros futuros apresentaram uma sequência de alta nos últimos dias. Para que o movimento de queda seja arrefecido, é preciso que haja uma trégua sobre as incertezas políticas e econômicas de Lula.

Segundo a economista, o próximo presidente precisa indicar os nomes que vão integrar os ministérios, principalmente da Fazenda e Planejamento - que foi unificada no governo Bolsonaro e deve ser desdobrada em 2023. Veja como montar suas posições em um cenário político marcado por fortes incertezas.

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