O Assaí (ASAI3) anunciou na noite desta quinta-feira (17) redução em suas projeções de abertura de 20 lojas para 10 lojas em 2025. A medida tem como foco reduzir o investimento e o endividamento da companhia, cuja alavancagem pode chegar a 2,6 vezes no próximo ano. Para analistas do mercado financeiro, a notícia foi positiva e muito bem-vinda, porque a redução do endividamento da empresa tende a colocar a varejista em situação financeira confortável.
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O fato de o Assaí focar na diminuição da dívida deixa os analistas do Bradesco BBI e da Ágora Investimentos otimistas, já que, comentam, quanto maior a alavancagem da empresa, mais vulnerável se encontram os lucros. Conforme os especialistas, o alto endividamento prejudica a capacidade ofensiva de investimento, especialmente no contexto de um ciclo de alta da taxa de juros. No pregão desta sexta-feira, as ações ASAI3 estavam sendo negociadas em alta até o início da tarde.
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Eles comentam ainda que, em termos de fluxo de caixa, o serviço da dívida consome aproximadamente entre 45 e 50% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). “Embora fosse uma grande conquista se a empresa pudesse atingir 2,6 vezes a dívida líquida sobre Ebitda até o final de 2025, não estamos modelando tal melhoria por enquanto, visto que estimamos um endividamento de 3,4 vezes para a empresa ao longo do próximo ano”, afirmam os analistas. “Os investimentos para abertura de lojas são uma das poucas opções que a gestão tem para controlar a alavancagem, porque a inflação dos alimentos, a concorrência e outras coisas estão além de seu controle”, explicam Pedro Pinto do Bradesco BBI e Flávia Meireles da Ágora Investimentos.
No relatório, a Ágora destaca que as projeções da casa já falavam do Assaí com a abertura de dez lojas. Segundo as estimativas do BBI, a varejista de alimentos deve encerrar 2025 com uma alavancagem de 3,4 vezes com a abertura delas. A projeção, no entanto, considerava a abertura de dez lojas com um investimento de R$ 1,4 bilhão. Todavia, empresa divulgou ontem uma faixa de R$ 1 bilhão a R$ 1,2 bilhão.
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Os analistas da Safra Corretora, antiga Guide Investimentos, dizem que a notícia é um bom sinal de que a empresa do atacarejo está comprometida com a desalavancagem, evidenciada pelo ritmo mais lento de aberturas de lojas e pelos investimentos controlados. A corretora diz que os gestores do Assaí comentaram sobre formas de melhorias para a margem de lucratividade bruta da empresa, como melhores condições de pagamento com os fornecedores, políticas comerciais com preços otimizados, estratégia de agrupamento de lojas e melhor variedade.
“Em nossa opinião, margens mais altas serão cruciais para a empresa alcançar suas projeções de endividamento. No geral, consideramos o anúncio como uma boa notícia, embora gostaríamos de ver melhorias para incorporar uma melhor perspectiva de margem em nossos números”, aponta a Safra Corretora.
Existe outra forma para o Assaí reduzir o endividamento?
Na visão do Santander, o anúncio de corte nas projeções de lojas revela um passo necessário para a rede de supermercados aliviar a alavancagem enquanto compromete ligeiramente o crescimento de curto prazo. Outro ponto visto como positivo pela equipe do Santander é que a empresa disse ainda que tomaria algumas medidas para reduzir a alavancagem caso o anúncio de ontem não seja o suficiente.
Segundo o Santander, o Assaí poderia fazer a operação de sale and leaseback, que usa imóveis como capital de giro. A empresa venderia o imóvel, mas continuaria utilizando o mesmo como inquilino. O dinheiro da venda cairia diretamente no caixa do Assaí. Assim, o contrato seria de longuíssimo prazo e estaria no formato built to suit. A expressão significa que o prédio alugado é construído sob medida para o uso da companhia.
“Ainda assim, o plano de expansão revisado traz impactos limitados às nossas premissas de Ebitda, com a redução de 34% em nossa previsão de lucro líquido para 2025 atribuída principalmente as projeções de Selic mais altas”, argumentam Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, que estimam R$ 724 milhões de lucro líquido do Assaí em 2025.
Vale a pena comprar a ação do Assaí?
A Ágora Investimentos e o Bradesco BBI dizem que o momento para a empresa é fraco. Os analistas do grupo estimam que o papel está sendo negociado a um preço atrativo para o investidor, principalmente pela métrica Preço/Lucro, que está em 9,9 vezes. A recomendação para ASAI3 é de compra, com preço-alvo de R$ 10, uma alta de 41,6% na comparação com o fechamento de quinta-feira (17), quando a ação encerrou o pregão a R$ 7,06.
A equipe do Santander comenta que está otimista com o papel e seus múltiplos atraentes e recomenda compra com preço-alvo de R$ 12 para o fim de 2025. A cifra equivale a uma potencial alta de 70% na comparação com o fechamento de quinta-feira (17). Ainda assim, os especialistas lembram que o Assaí (ASAI3) possui riscos para o investidor, como desalavancagem financeira mais lenta do que o esperado, ambiente competitivo acirrado pressionando as vendas e deterioração do ambiente macro, com taxas de juros mais altas para um consumo deprimido por muito tempo.
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