- Na quarta-feira (26), a valorização foi de 11,3%, com as ações cotadas a R$ 46,76
- Por trás do movimento comprador, estão as expectativas de retomada dos vôos no Brasil e os rumores de que a companhia aérea teria a intenção de comprar a Latam Brasil
- Para os especialistas, apesar da alta observada na sessão de ontem, a visão continua neutra para os papéis
Os papéis da Azul (AZUL4) sofreram na quarta-feira (26), a maior alta em um pregão desde o dia 20 de maio de 2020, quando os ativos subiram 12,31%. A valorização foi de 11,31%, com os papéis cotados a R$ 46,76. Por trás do movimento comprador, estão as expectativas de retomada dos vôos no Brasil e, principalmente, os rumores de que a companhia aérea teria a intenção de comprar a Latam Brasil.
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Caso o negócio realmente saia do papel, seria criado um duopólio da aviação no Brasil – hoje dividido praticamente entre Azul (37,89%), Latam (28,02%) e Gol (32,98%), segundo dados do site Aviação Brasil, referente ao 1º trimestre de 2021. Neste cenário, a rentabilidade do segmento teoricamente subiria, já que existiriam apenas duas empresas disputando uma demanda reprimida de tráfego aéreo.
O fato de a Latam Airlines estar em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, em tese, facilitaria a compra das operações. “Quando uma empresa entra em recuperação, o objetivo dela é conseguir se organizar financeiramente para conseguir pagar as obrigações de forma mais tranquila. Isso a torna mais suscetível a movimentos de consolidação”, diz Bruno Lima, head de renda variável da Exame Invest.
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Em entrevista ao Estadão, o presidente da Latam Airlines, Jerome Cadier, afirmou não ter intenção de ‘desmembrar’ a empresa e vender a operação brasileira. A empresa também encerrou na última terça-feira (25) o acordo de compartilhamento de voos que tinha com a Azul.
Segundo Lima, haveria dificuldade de aprovar a operação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), tendo em vista tentativas recentes de consolidação. “Quando a gente pensa o que aconteceu com Localiza e Unidas, que estão em um setor [locação de automóveis] muito mais fragmentado, me parece que essa discussão de Azul e Gol tem chance menor de ir em frente”, afirma. “Ainda sim, o mercado colocou no preço.”
Para Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos, a compra seria benéfica para a Azul, que abocanharia uma fatia grande do mercado de aviação. Entretanto, apesar da alta observada na sessão, ainda existem poucas informações e confirmações para dar um veredito sobre o papel. “Isso já estava no radar dos investidores desde o anúncio da recuperação judicial da Latam”, diz. “É necessário aguardar maiores informações em torno dessa estratégia, e, por isso, mantemos uma postura neutra no momento.”
Lima também tem uma visão neutra para os papéis da Azul. Segundo o especialista, o patamar de preço das ações não é interessante. “Até vemos um potencial de alta, mas não o suficiente para indicar a compra.”
Apostas na queda e Short Squeeze
De acordo com Lima, cerca de 5% do valor de mercado das ações em circulação da Azul e da Gol estão em aluguel. Isso significa que muitos investidores estão ‘vendidos’ no papel, ou seja, apostando na queda de curto prazo. Com os rumores sobre a aquisição da Latam, que se concretizados têm potencial para jogar a AZUL4 para cima, a tendência desses investidores que estão vendidos é fecharem essas posições rapidamente – e com prejuízo. No final, o movimento eleva ainda mais a alta dos ativos.
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“Isso gera o tão conhecido short squeeze. Nós acreditamos que isso aconteceu na quarta-feira em alguma magnitude. Não sei precisar o quanto, mas com certeza está ajudando esse processo de alta das ações, dado a notícia da potencial consolidação”, explica o especialista da Exame Invest.
O short squeeze foi o movimento que inflou as ações da GameStop, varejista americana de games, em mais de 600% em janeiro. Na época, grandes fundos de hedge tinham grandes posições vendidas no ativo. Com o movimento comprador de pessoas físicas, dirigidos por integrantes do fórum Reddit, as ações subiram muitos desses megainvestidores tiveram que desfazer as posições, realizando prejuízos milionários.
Retomada do setor é incerta
Nas últimas semanas, os investidores das aéreas foram impactados positivamente pelas projeções feitas pela Gol para o 2º semestre de 2021. A empresa diz que está de olho nos sinais de retomada da demanda por viagens, com aumento de 4% nas vendas durante a terceira semana de abril, em comparação ao mesmo período do ano passado. A companhia também informa que deve realizar um aumento de capital de R$ 512 milhões.
O anúncio, que veio no relatório de resultados do 1º trimestre da Gol, deu suporte para uma alta em todo setor aéreo, inclusive para os papéis da concorrente Azul. “Os dados demonstram que o setor de aviação civil possui perspectivas diante da expectativa de retomada da economia brasileira, sendo beneficiada pela reabertura dos negócios e pelo aumento da circulação de pessoas”, explica Vieira, da Toro.
Ainda assim, seria cedo para falar em recuperação, uma vez que muitos passageiros ainda têm receio de viajar por conta dos riscos de contaminação pela covid-19. Segundo Vieira, esses temores relativos à segurança das viagens afetam as operações e fazem com que a situação das aéreas seja delicada no curto prazo.
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