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“As ações da Petrobras estão atrativas para os investidores”, diz Santander

Aline Cardoso, head de estratégia e ações do Santander, diz que o Fed só deve iniciar o corte de juros a partir de setembro

“As ações da Petrobras estão atrativas para os investidores”, diz Santander
Aline Cardoso é head de estratégia e pesquisa de ações do Santander Brasil (Foto: Santander/Divulgação)

Com os dados da atividade econômica dos Estados Unidos acima do esperado, o Santander Brasil revisou suas estimativas para o início de corte de juros no país. Aline Cardoso, head de estratégia e ações, diz que o Banco Central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), deve realizar novos cortes a partir de setembro deste ano. Inicialmente, a instituição previa o movimento em junho.

Na visão da analista, quanto mais o Fed demorar para começar o ciclo de afrouxamento monetário, menos espaço o Brasil pode ter para cortar juros. “Isso acontece porque, se o diferencial de juros ficar muito grande, teremos uma desvalorização do real ante dólar, o que tende a gerar inflação e deixa a autoridade monetária brasileira mais conservadora”, afirma.

Com as mudanças no radar, o banco decidiu revisar o preço-alvo para a bolsa de valores, até então de 160 mil pontos para o Ibovespa até o fim deste ano. A nova projeção deve ser divulgada em meados de maio.

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Na última semana, outro fator entrou nos holofotes do mercado. A Petrobras (PETR4) aprovou o pagamento de 50% dos R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários. O valor havia sido retido pela empresa no início de março e causou grande descontentamento entre os investidores. Segundo Cardoso, a estatal volta a ficar atrativa para o investidor, visto que a empresa passa a ter capacidade de pagar 30% do seu valor de mercado em dividendos em apenas dois anos em meio à retomada desse provento.

Veja os principais trechos da entrevista:

E-Investidor – O Ibovespa cai 5,7% no acumulado de 2024. O mercado está pessimista?

Aline Cardoso – Entramos no ano com a narrativa de que o Banco Central Brasileiro cortaria a Selic até 9% ao ano até o fim de 2024. Em paralelo, o mercado também esperava que o Fed começasse a cortar entre março e junho. Se esse cenário fosse confirmado, teríamos um ano bom para a Bolsa, com a volta do fluxo de pessoa física e captação. Porém, os meses iniciais de 2024 não confirmaram a narrativa do mercado. Com a inflação não convergindo para a meta tão rápido como se esperava, o mercado mudou as projeções e agora a equipe do Santander no Brasil estima que o corte de juros do Fed comece em setembro, mas há chances do corte ir para novembro. Já a equipe do Santander dos EUA, acredita que o corte de juros só deve começar em novembro.

E o que isso significa para o Brasil?

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Olhando só para o Brasil, temos condições de levar o juro para um dígito. Isso porque os dados de inflação mostram um controle do aumento de preços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado na sexta-feira (26), teve uma alta de 0,21%, abaixo da nossa expectativa de 0,31%.  O problema é a economia americana impacta todos os outros mercados do mundo. Quanto mais eles demorarem para começar o ciclo de afrouxamento monetário, menos espaço temos para cortar aqui, porque se o diferencial de juros ficar muito grande, teremos uma desvalorização do real ante dólar, o que tende a gerar inflação. Neste caso, a autoridade monetária brasileira fica mais conservadora.

Com essa turbulência e mudança nas projeções, você pode citar duas ações para investidor ter na carteira?

Temos recomendação de compra para Direcional, com preço-alvo de R$ 31 para o fim de 2024. Estamos otimistas pelo fato de o governo fazer de tudo para melhorar a possibilidade de as pessoas de baixa renda conseguirem comprar os imóveis com o programa Minha Casa Minha Vida. Além disso, o preço do aço está mais barato, o que também ajuda nas margens da companhia. Já a segunda empresa é a Totvs, que recomendamos compra com preço-alvo de R$ 43 para o fim do ano. A empresa possui uma tese estrutural de longo prazo e cresceu bem nos últimos 10 anos. Estimamos que esse crescimento continue acelerado, com uma alta de 15% a 20% do lucro nos próximos anos. O fato é que o mercado exagerou muito com o pessimismo no papel, por causa disso, a ação está descontada e interessante para o investidor.

O que o investidor pode esperar das ações da Petrobras após a aprovação dos 50% dos dividendos extraordinários?

As ações da Petrobras estão atrativas para os investidores, que devem ter o papel na carteira como um investimento de longo prazo. Temos essa visão positiva devido a diversos fatores. O primeiro é o preço do petróleo, a commodity está em um patamar que faz a Petrobras gerar muito mais caixa do que antes. Portanto, ela tem uma capacidade de pagar muito mais dividendos. Devido aos acontecimentos recentes, estimamos um dividend yield em torno de uns 15% por ano. Isso quer dizer que, em dois anos, a empresa tem a capacidade de pagar 30% do seu valor de mercado em dividendos. Isso faz uma bruta diferença para a tese de investimentos.

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A proposta de reforma tributária entregue pelo governo nesta semana pode ser um gatilho de alta ou de baixa para o Ibovespa?

A proposta foi muito bem recebida pelo mercado, visto que o texto que regulamenta a reforma foi em linha do que o mercado já esperava. No entanto, justamente por ser em linha e não superar as expectativas do mercado, a medida acaba não se torna um gatilho de curto prazo para a Bolsa. É inegável que a proposta traz um efeito positivo, especialmente na produtividade da economia, mas é algo gradual e com a implementação sendo realizada ao longo de oito anos.