Os setores que se destacam são o de telecomunicações e o de energia elétrica, com dois representantes cada no ranking. Telefônica Brasil (VIVT3) e Tim (TIMS3) bateram seus recordes no começo de julho, ao atingirem R$ 32,4 e R$ 22,6, respectivamente. Cemig (CMIG4) e Engie (EGIE3) chegaram a R$ 11,18 e a R$ 48,82, nesta ordem.
A visão do mercado é que o impulso do Ibovespa ocorreu por uma combinação de dois fatores: o destravamento de valor impulsionado pela perspectiva de fim do ciclo de alta da Selic e a melhora nos fundamentos das companhias, após uma temporada positiva de balanços do primeiro trimestre.
Na visão de Rodrigo Vignoli, sales de renda variável da InvestSmart XP, o movimento não é especulativo. Pelo contrário, investidores têm realizado uma seleção de ações mais criteriosa. “Setores que estavam travados pela Selic elevada voltaram a atrair fluxo e, dentro deles, as empresas com maior qualidade se sobressaíram”, diz.
O cenário, no entanto, mudou nos últimos dias, quando o IBOV chegou a completar sete sessões consecutivas de queda – a maior série negativa desde agosto de 2023. Marcelo Nantes, head de renda variável do ASA, observa que a discussão sobre as medidas necessárias para equilibrar as contas do governo pressionou o índice, com destaque para o impasse sobre eventual aumento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
“Soma-se a isso o anúncio, por parte do governo dos Estados Unidos, de uma tarifa de 50% sobre importações de produtos brasileiros, além da abertura de uma investigação sobre práticas comerciais desleais”, contextualiza.
Ações brasileiras estão ‘caras’?
As ações que bateram recordes ainda têm potencial de valorização, segundo Vignoli, da InvestSmart XP. Mesmo com a alta recente, o especialista entende que muitos dos papéis continuam com valuations atrativos, seja em termos de preço sobre lucro (P/L) ou em geração de valor ao acionista.
Ele explica que a alta das cotações não foi aleatória, mas sim acompanhada por uma melhora nos fundamentos das empresas e pela mudança na percepção de risco-futuro com as chances de corte de juros. “Obviamente, o cenário precisa continuar colaborando, mas o ponto de entrada ainda parece interessante para o investidor com foco no médio e longo prazo”, avalia.
Direcional (DIRR3): a campeã de ganhos
Dentre as ações que atingiram máximas em julho, a construtora Direcional (DIRR3) é a que mais sobe em 2025, com uma alta de 68,93% no ano. Rafael Ragazi, sócio e analista da Nord Investimentos, afirma que o movimento está relacionado à expansão do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que tem recebido estímulos no governo Lula.
Neste ano, houve a criação da Faixa 4 do MCMV, voltada para a classe média. “Desde que teve a troca de governo, o cenário para as empresas que atuam nesse segmento melhorou e a Direcional foi uma das companhias que mais se aproveitou desses ventos favoráveis”, afirma Ragazi.
O analista explica que não apenas os resultados da companhia cresceram, como também ocorreu uma reprecificação das suas ações, com o mercado ficando mais otimista com o papel. Apesar de não enxergar que DIRR3 está “cara”, ele acredita que a MRV (MRVE3) é um nome mais interessante do setor, por operar com múltiplos menores.
Na parte de exploração de imóveis, o nome que se destaca na lista é o Iguatemi (IGTI11). Danielle Lopes, sócia e analista da Nord, vê que o movimento de alta da ação tem conexão com a retomada da confiança no segmento, com a empresa se sobressaindo pela classe e qualidade dos ativos que possui, posicionando-se em shoppings de regiões de alto padrão.
Telecomunicações e energia elétrica: os setores vencedores
No caso das duas empresas de telecomunicações presentes no ranking – Telefônica e Tim –, Nantes, do ASA, vê que as companhias têm conseguido repassar preços com mais consistência e capturar sinergias da aquisição de ativos da Oi (OIBR3), após a privatização da concorrente. “Associado a um ciclo de capex (despesas de capital) menos intensivo, têm apresentado forte geração de caixa e níveis atrativos de pagamento de dividendos”, afirma.
Do lado das elétricas, a Cemig também se destaca pela distribuição de proventos, como os R$ 596,7 milhões – equivalentes a R$ 0,21 por ação – em juros sobre capital próprio (JCP) anunciados em junho.
Já a Engie pode se beneficiar da nova implementação de ajustes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que permitirá o aumento do escoamento de energia do Nordeste para o Sudeste em até 1,5 gigawatts (GW), especialmente durante o período noturno. “Isso pode favorecer a redução dos cortes de geração, conhecidos como curtailment”, diz Hugo Cabral, analista da Nord.
Embraer (EMBR3): do estrelato ao pessimismo
No começo de julho, a Embraer (EMBR3) viveu seu melhor momento na Bolsa e atingiu o preço recorde de R$ 83,49. Além dos resultados positivos nos balanços recentes, o fechamento de negócios atrativos também impulsionou a fabricante de aeronaves, que ainda teve uma boa performance no Paris Air Show, evento do setor aéreo na capital francesa.
“A Embraer vinha de um ótimo ritmo de crescimento de resultados e novos contratos, com aumento consistente de entrega de aeronaves e carteira de pedidos em alta”, afirma Lopes, da Nord.
Tudo mudou, porém, com o anúncio de Donald Trump de uma tarifa de 50% sobre produtos enviados do Brasil aos Estados Unidos – taxa que pode mexer diretamente com a companhia. Na terça-feira (15), o CEO da empresa, Francisco Gomes Neto, estimou um impacto de cerca de R$ 50 milhões por avião da Embraer. Com isso, os efeitos nas receitas da fabricante seriam próximos a R$ 2 bilhões em 2025 e de R$ 20 bilhões até 2030.
Apesar dos últimos balanços positivos da companhia, a Nord não tem recomendação de compra para o papel, que agora opera a R$ 68,73. “Não temos visibilidade após a possibilidade do tarifaço e da comparação difícil com os resultados atuais”, destaca Lopes.
Santos Brasil (STBP3): OPA no radar
A alta das ações da Santos Brasil (STBP3) está relacionada a uma negociação envolvendo o seu futuro. Em abril, o grupo CMA Terminals assumiu o controle da companhia, depois de desembolsar R$ 6,3 bilhões por uma fatia de 47,9% da empresa, elevando a sua participação no negócio para 51%.
Com isso, a CMA comprometeu-se a realizar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para comprar as ações da Santos Brasil que seguem em circulação no mercado. Para isso, a companhia ofereceu um pagamento de R$ 13,60 por ação, ajustado pela taxa Selic.
Nantes, do ASA, explica que o movimento dos papéis está relacionado à estratégia de arbitragem, que consiste na compra de um ativo no mercado onde o preço está mais baixo e na venda onde o preço é mais alto.
Já Jonas Carvalho, CEO da Hike Capital, enxerga que as ações da empresa ainda podem subir mais. “O valuation, em cerca de 7,6 vezes EV/EBITDA – indicador que relaciona o valor da companhia (EV) e o seu Ebitda (geração de caixa) – ainda sugere potencial de valorização, especialmente se a OPA avançar sem obstáculos regulatórios.”
Nomes sólidos e com bons dividendos
O único banco a marcar presença no ranking é o BTG Pactual (BPAC11). Para Ragazi, analista da Nord, a empresa consegue entregar um crescimento consistente, mesmo em momentos onde o cenário não é favorável para o mercado de capitais. Isso ocorre pela diversidade de negócios da companhia.
O especialista também destaca a alta rentabilidade do BTG, sendo que o Retorno Ajustado sobre o Patrimônio Líquido (ROAE) atingiu 23,2% no primeiro trimestre do ano. “A recomendação é de compra, porque, mesmo com o balanço positivo, a ação negocia a 10 vezes o lucro por ação, um excelente múltiplo”, diz.
Outro nome considerado sólido que integra a lista é a Porto Seguro (PSSA3). Carvalho, da Hike Capital, enxerga que a empresa, além de oferecer dividendos robustos, tem entregado bons resultados, com lucro de R$ 832 milhões no último trimestre.
Já a Sabesp (SBSP3), dona do maior preço entre as ações do Ibovespa da lista, avançou pelo perfil defensivo do setor de saneamento, segundo Carvalho. Por prestar serviços essenciais, seus papéis costumam trazer estabilidade à carteira em momentos de volatilidade.