A Embraer (EMBR3) sente os maiores solavancos da turbulência tarifária. No fechamento, as ações da companhia caíram a R$ 73,32. Segundo os analistas do BTG Pactual, as tarifas pressionam diretamente a empresa, visto que os Estados Unidos representam cerca de 60% das vendas de jatos comerciais e executivos da companhia. “Ajustar preços é aparentemente mais fácil na aviação comercial, já que a aeronave E1 não tem substituto direto no mercado americano. Um aumento tarifário de 50% parece ser um desafio muito maior a ser superado”, dizem Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Samuel Alkmim, que assinam o relatório do BTG.
Os analistas do UBS BB calculam um impacto de aproximadamente US$ 70 milhões nos custos da Embraer, com queda de 13% na margem líquida da companhia em 2026 para cada aumento de 10% nas tarifas. Já a XP Investimentos vê dois impactos principais: uma queda entre 14% e 15% no lucro Antes de juros e impostos (Ebit) a cada 10 pontos porcentuais das taxas, principalmente devido à montagem final dos jatos executivos da Embraer em suas instalações no Estado americano da Flórida. O segundo impacto esperado ocorre sobre a demanda dos modelos E1s, que enfrentam um ambiente inflacionário.
A guerra comercial pode levar a um adiantamento de entregas, o que significa risco para a Embraer na visão da XP. A corretora aponta ainda que a medida pode ser uma ferramenta de barganha, mas que deve manter a preocupação dos investidores em alta, visto o impacto significativo da tarifa sobre a Embraer. Confira a reportagem completa sobre os impactos na fabricante de aeronaves aqui.
No caso da Minerva (BEEF3), do setor de frigoríficos, a ação também sofre no pregão de hoje. Gianluca Di Mattina, da Hike Capital, lembra que cerca de 40% das exportações totais da empresa são voltadas aos EUA. “A imposição de tarifas reduziria a competitividade da empresa frente aos players locais (como Tyson Foods), impactando diretamente volumes e preços de exportação. A empresa também pode sofrer com represamento de estoque e compressão de margens no curto prazo”, diz o especialista.
Outras empresas que podem ser impactadas
Os analistas do BTG Pactual dizem que o setor de papel e celulose será afetado por causa daSuzano (SUZB3). Os analistas dizem que a empresa tem 15% das receitas advindas dos EUA. Eles explicam que a principal questão do momento diz respeito se a companhia conseguirá redirecionar volumes com sucesso para outros lugares, especialmente em um momento em que a demanda global por celulose (principalmente na China) permanece fraca.
“Pelo menos os preços atuais da celulose de madeira de lei, em torno de US$ 500 por tonelada, parecem representar um piso de preço, o que deve ajudar a conter o impacto financeiro, mesmo que os volumes mudem ou as margens fiquem sob pressão”, explicam Leonardo Correa e Marcelo Arazi, que assinam o relatório do BTG.
O Citi reforçou a preocupação com a Suzano, pois as tarifas de Trump devem fazer com que a empresa enfrente dificuldades no curto prazo. No entanto, a exportadora se beneficia de estar no trimestre de menor custo da indústria, com escala global e flexibilidade. Assim, a expectativa do banco é de que, no médio prazo, a empresa realoque volumes para outras regiões, potencialmente Europa, já que os EUA precisariam buscar volumes de outras alternativas de suprimento de custo mais alto, uma vez que têm déficit de fibra de madeira dura. Por isso, os especialistas dizem ser improvável que as tarifas afetem materialmente os fundamentos da empresa.
O Citi diz ainda que se a promessa do presidente americano se confirmar em 1º de agosto, data estimada para início da vigência das tarifas, o banco projeta um impacto negativo de 7% no lucro líquido da Azzas (AZZA3) e de 4% no da Alpargatas em 2026 – veja os detalhes nesta reportagem. Apesar disso, a exposição dessas exportações é limitada: 3% da receita da Azzas e 5% da Alpargatas, segundo o Citi. O banco não considerou efeitos cambiais ou impactos indiretos sobre outras empresas, como Lojas Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Natura (NTCO3).
O que o investidor deve fazer agora?
Os analistas recomendam cautela para o investidor neste momento. Humberto Aillon, especialista em finanças e negócios da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), diz que se a visão do investidor continua sendo de longo prazo, o melhor é mantê-las até ter um pouco mais de visibilidade dos próximos passos. “Na outra ponta, quem está buscando novas alocações, o melhor é esperar, dado que o desdobramento dessas negociações pode ir para um caminho de prejudicar em larga escala as vendas de algumas exportadoras”, explica Aillon.
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Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, recomenda que o investidor busque dolarizar parte de sua carteira. “Para quem ainda acreditava na queda contínua do dólarfrente ao real, vista nos últimos meses, teve uma boa amostra da força da divisa americana e o quanto ela é requerida em momentos de crise”, argumenta Sant’Anna.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, esclarece que caso as tarifas se mantenham, espera-se algum alívio ao fim do primeiro semestre de 2026, quando a agenda política nos EUA pode mudar. Até lá, a priorização para o investidor deve ser dada à resiliência da carteira, com foco em qualidade e em diversificação.