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Ações do setor de tecnologia sofrem em 2022. Entenda os motivos

Inflação e taxa de juros são as principais causas para a baixa performance, na visão de analistas

Ações do setor de tecnologia sofrem em 2022. Entenda os motivos
No acumulado do ano, os papéis das empresas de tecnolgias sofrem com quedas (Foto: Envato Elements)
O que este conteúdo fez por você?
  • Segundo analistas, as empresas do setor de tecnologia costumam ser penalizadas com aumento da taxa de juros e da inflação por terem fluxo de caixa previsto para os próximos anos
  • Além disso, as companhias costumam depender de investimentos de outras empresas ou de instituições financeiras para conseguir realizar suas operações
  • Apesar do cenário ser ruim, os analistas apontam que há oportunidades de investimentos no setor

O ano de 2022 começou ruim para as empresas de tecnologia. Um levantamento feito pela Economatica a pedido do E-Investidor mostra que, de 26 companhias do setor de tecnologia, apenas nove estão com saldo positivo no acumulado deste ano.

O desempenho do Índice Tech Brasil, que mede a performance das empresas tech listadas na B3, confirma que o cenário não está favorável para o setor. Até o último dia 27 (último dado disponível), o índice amargava uma queda de 9,2%, enquanto o Ibovespa tinha ganho de 7,4% no acumulado do mesmo período.

Diversos fatores contribuem para o baixo rendimento da ações. Com a elevação nos juros e a escalada da inflação, companhias como as de tecnologia, que possuem promessas de retorno e de crescimento a longo prazo, são as mais penalizadas.

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Segundo Aline Tavares, analista da Spiti, a maior parte do valor de mercado dessas empresas está projetado para os próximos anos. Na prática, quando se calcula o valuation (termo em inglês para estimar o valor real de uma empresa), os analistas projetam o fluxo de caixa das companhias e definem o valor de mercado com uma taxa de desconto. “Nesta taxa de desconto, usamos os juros futuros que são uma precificação do mercado sobre a perspectiva dos juros para daqui a 10 anos”, explica.

Quando há um cenário de aumento da inflação, Aline acrescenta que os investidores costumam prever novas altas da taxa de juros para os próximos anos. Com isso, o valor das empresas tende a cair. “É isso que está acontecendo. Além disso, quando temos altas na taxa de juros, há uma desaceleração econômica. Então, teoricamente, o crescimento das empresas nos próximos anos pode ser prejudicado”, acrescenta a analista da Spiti.

Entre os meses de agosto de 2020 até os primeiros dias de março de 2021, o índice Tech Brasil performou com saldo positivo nos acumulados mensais, exceto no mês de setembro. De acordo com Daniel Jannuzzi, da Magnetis, gestora do índice Tech Brasil, como as taxas de juros estavam mais baixas na época, havia um movimento de liquidez no mercado brasileiro e global.

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As empresas se beneficiaram e as restrições impostas pela pandemia, como os decretos de isolamento social, também contribuíram para esse resultado.

Por outro lado, os desempenhos mensais caíram ao longo do segundo semestre de 2021 no momento em que o Banco Central (BC) realizou sucessivos aumentos da Selic para tentar frear o crescimento da inflação. O cenário internacional também pressionou a performance dos ativos.

Além disso, as Ofertas de Públicas de Ações (IPOs) na B3 ao longo de 2021 podem ter contribuído para as quedas registradas na precificação dos papéis das companhias. De acordo com um levantamento feito pela PWC a pedido do E-Investidor, as empresas do setor de tecnologia da informação foram as que mais registraram IPOs no ano passado.

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Segundo Wagner Chavez, analista de Investimentos da SFA Investimentos, esse fator também implica na derrocada do preço das ações em momento de alta de juros e aumento da inflação.

Por estarem em estágio inicial, as companhias não possuem capital suficiente para se proteger da volatilidade de mercado. “De um modo geral, essas empresas precisam de dinheiro de terceiros para que consigam tocar com suas operações”, diz Chavez.

O problema é que, em um cenário econômico de alta inflação e de elevação de taxas de juros, o investidor costuma evitar ativos mais suscetíveis às volatilidades do mercado. “Neste momento, o mercado prefere empresas mais consolidadas com um fluxo de caixa positivo e até com previsão de dividendos”, afirma.

Ações e onde investir

Ao analisar de perto a performance das empresas do setor de tecnologia, a maioria iniciou 2022 com perdas. O levantamento feito pela Economatica a pedido do E-Investidor selecionou 26 companhias dos segmentos de intermediação e serviços financeiros digitais, e-commerce, desenvolvimento e comercialização de software, hardware e de dados listadas na B3.

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Desse total, apenas nove apresentaram um saldo positivo no acumulado deste ano. Os papéis da Clearsale (CLSA3) foram os que apresentaram o melhor resultado no acumulado de 2022, ao registrar uma alta de 23,5% em janeiro. Os da Modalmais (MODL11) vêm na sequência, com valorização de 20%.

Embora tais números sejam positivos, Rafael Bombini, especialista em renda variável da EWZ, acredita que o resultado se deve a um “alívio” na precificação dos papéis após essas empresas terem registrado um saldo negativo no acumulado do ano passado.

O motivo, segundo ele, está mais associado ao movimento de compra das ações dessas companhias por investidores estrangeiros, que tem sido maior do que em outros períodos ao longo de 2021.

"Naturalmente, quando você tem menos gente vendendo, você começa a ter uma recuperação das ações”, explica Bombini. No entanto, o especialista em renda variável acredita que as boas performances não devem durar por muito tempo devido à perspectiva de aumento da taxa de juros, principalmente a dos Estados Unidos. “Isso (o movimento de alta de juros) deve pesar em todos os os mercados. Então, a gente teve um alívio, mas será um mercado muito volátil até se resolver os juros nos Estados Unidos e quem vai concorrer às eleições no Brasil”, avalia.

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Apesar da perspectiva ruim, há oportunidades de investimentos. João Abdouni, analista da Inversa, recomenda a compra das ações do Banco Inter (BIDI11), que possui 9% de participação do índice Tech Brasil. “A gente acha que a empresa possui um valuation interessante. Temos um preço-alvo para o BIDI11 de R$ 34,90”, afirma.

Já o BTG Pactual recomenda a compra das ações da ClearSale (CSLA3). Para o banco, a empresa de proteção contra fraude em e-commerce no Brasil possui grande participação no mercado brasileiro e está mais barato do que o de outras empresas do segmento no mercado global. “A ClearSale está negociando a 1,9x EV/Vendas para 2022E, um grande desconto para seu par mais óbvio, a empresa israelense antifraude Riskified (3x EV/Vendas em 2022E)”, informa o BTG, em relatório.

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