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Mercado

Acordo entre Mercosul e União Europeia vai mexer com o mercado financeiro?

Entenda as possíveis consequências do “aperto de mãos” que demorou 25 anos para acontecer

Acordo entre Mercosul e União Europeia vai mexer com o mercado financeiro?
Bandeira da União Europeia. (Foto: Pixabay)
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  • Depois de 25 anos de negociações, o Mercosul e a União Europeia finalmente fecharam o acordo de livre comércio entre os blocos econômicos
  • O tratado pode impulsionar o comércio e investimentos entre as regiões. Contudo, não possui efeito imediato, já que ainda precisa ser validado pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia
  • Quando o assunto é mercado de capitais, entretanto, o maior impacto deve ser sentido “via dívidas”, segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Isto porque a maior parte das empresas possivelmente beneficiadas estão fora da Bolsa, mas ainda devem captar via mercado em um cenário de demanda maior

Depois de 25 anos de negociações, o Mercosul e a União Europeia finalmente fecharam o acordo de livre comércio entre os blocos econômicos. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (6) durante a reunião da cúpula dos líderes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, integrantes do grupo sul-americano, na cidade de Montevidéu (URU).

O tratado pode impulsionar o comércio e investimentos entre as regiões. Contudo, não possui efeito imediato, já que ainda precisa ser validado pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia.

Para Felipe Sant´Anna, especialista em mercado da Star Desk, pode ser que a proposta ainda faça “alguns aniversários” antes de ser posta efetivamente em prática e que se trata de um “acordo assinado que não define ou resolve nada”.

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“O Conselho da UE, por exemplo, é formado por representantes de cada país e precisa do voto favorável da maioria deles, mas, quando olhamos para as opiniões dos chefes de Estado europeus, já conseguimos ver a batalha que será travada. A França já se colocou amplamente contra o acordo”, afirma Sant’Anna. A França enfrenta uma onda de protestos de agricultores locais, que temem serem prejudicados pelo acordo comercial com o Mercosul, que possui grandes exportadores de commodities agrícolas, como o Brasil. O CEO global da varejista francesa Carrefour (CRFB3) chegou a falar publicamente sobre boicotar carnes do Mercosul.

De qualquer forma, a proposta sai da inércia após duas décadas e tem potencial positivo para a economia brasileira. Quando o assunto é mercado de capitais, entretanto, o maior impacto deve ser sentido “via dívidas”, segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Isto porque a maior parte das empresas possivelmente beneficiadas estão fora da Bolsa, mas ainda devem levantar capital via mercado para impulsionar os resultados, em um cenário de aumento de demanda em função do acordo.

“Empresas aqui no Brasil, ou na América do Sul como um todo, terão acesso a esse mercado europeu, que é muito maior do que temos aqui internamente”, diz Cruz. Veja o setor mais beneficiado e aquele que deve enfrentar maiores dificuldades.

Agronegócio nos holofotes

De acordo com os especialistas consultados pelo E-Investidor, o agronegócio brasileiro deve sair ainda mais fortalecido caso o acordo seja aprovado e posto em prática. Empresas exportadoras de commodities agrícolas, como frigoríficos e produtores de milho, arroz, açúcar e etanol, devem passar a ter acesso ao robusto mercado consumidor europeu.

“Por isso que vimos uma resistência grande a esse acordo entre os produtores na União Europeia. Eles sabem que são menos competitivos que os produtores brasileiros. Sabem que, mesmo tendo de atravessar o oceano, os produtos brasileiros vão chegar mais baratos e possivelmente acabar jogando os preços dos produtos locais para baixo”, afirma Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Essa também é a visão de Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital. “O agronegócio deve colher os maiores benefícios”, diz. Por outro lado, há outras regiões, como Ásia e Oriente Médio, que ainda devem ser mais representativas para as exportações brasileiras do que a Europa, mesmo com o acordo. “O que torna os impactos do acordo, em termos relativos, menores.”

Indústria gera preocupação

Se o forte agronegócio brasileiro tende a se beneficiar com a possível abertura comercial, a indústria de transformação acende um sinal amarelo. André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, ressalta que é preciso ter cautela para que o novo acordo não represente um problema grave para esse setor.

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“Da mesma forma que o francês médio dentro do setor agropecuário não consegue competir com o agropecuário brasileiro, diversos setores da indústria de transformação brasileira não têm capacidade de competir com a indústria de transformação da União Europeia”, afirma Galhardo.

Para Argenta, economista-chefe da CM Capital, os impactos do acordo entre Mercosul e União Europeia devem ser menores na indústria, uma vez que o brasileiro já consome esses produtos no mercado externo. “A demanda interna, que já recai sobre a oferta internacional, pode ser realocada para a Europa em detrimento de outras regiões que ascenderam como grandes fornecedores nos últimos anos”, afirma.