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Por que perda de US$ 100 bi do Adani Group não abalou mercados da Índia

Ações do grupo entraram em queda livre, mas não impactaram ecossistema financeiro do país

Por que perda de US$ 100 bi do Adani Group não abalou mercados da Índia
O fundador do Adani Group, Gautam Adani. Foto: REUTERS/Amir Cohen
  • As ações do grupo indiano Adani despencaram de forma espetacular depois do grupo ter sido acusado de fraude e manipulação de mercado por uma pequena empresa intermediária de Nova York
  • Porém, a Índia abriga cerca de 1,5 milhão de empresas e um mercado de ações bem capitalizado: a bolsa do país oscilou confortavelmente entre US$ 3 trilhões e US$ 3,5 trilhões no ano passado
  • Ao chamar o Adani Group de “o maior vigarista da história financeira”, a Hindenburg Research, empresa de investimentos de Nova York, fez um comentário otimista em relação à Índia, chamando-a de “uma superpotência emergente com um futuro empolgante

Quando as ações do Adani Group, até bem pouco tempo atrás o maior conglomerado da Índia, iniciaram sua queda livre no final do mês passado, fazendo desaparecer mais de US$ 100 bilhões em questão de dias, alguns observadores temiam que isso pudesse derrubar os mercados de capitais do país e, com eles, a economia indiana.

Essa seria uma perspectiva assustadora não apenas para a Índia, mas para o mundo. A economia do país recentemente ultrapassou a da Grã-Bretanha, tornando-se a quinta maior do mundo, e é a única dessas maiores – incluindo a China – que registrou um crescimento forte e constante desde que as restrições para conter a pandemia foram flexibilizadas.

Mas os temores de um contágio mais amplo no mercado não viraram realidade. As ações indianas como um todo têm se mantido em grande parte estáveis desde a queda das ações do Adani. O principal índice de mercado da Índia está quase 2,5% acima de onde estava há um ano, ainda que as ações dos EUA tenham caído mais de 4% durante o mesmo período.

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A estabilidade confirma a dimensão e a aparente força do cenário empresarial indiano em geral. As ações do Adani despencaram de forma espetacular depois do grupo ter sido acusado de fraude e manipulação de mercado por uma pequena empresa intermediária de Nova York. Porém, a Índia abriga cerca de 1,5 milhão de empresas e um mercado de ações bem capitalizado: a bolsa do país oscilou confortavelmente entre US$ 3 trilhões e US$ 3,5 trilhões no ano passado.

Ao chamar o Adani Group de “o maior vigarista da história financeira”, a Hindenburg Research, empresa de investimentos de Nova York, fez um comentário otimista em relação à Índia, chamando-a de “uma superpotência emergente com um futuro empolgante”.

Mais diretamente, o banco central do país, o Reserve Bank Of India, sinalizou recentemente a que continuaria com as atividades como de costume, elevando as taxas de juros em 0,25 ponto percentual e deixando em aberto a possibilidade de novos aumentos. Isso coloca-o em sintonia com seus pares ocidentais, que também estão priorizando conter a inflação.

A preocupação inicial, já que as consequências das acusações da Hindenburg obrigaram o Adani Group a cancelar uma grande oferta de ações em 1º de fevereiro, era que a praga da dúvida se espalhasse pelos mercados de capitais da Índia. Será que os investidores indianos ou estrangeiros liquidariam as ações e títulos da Índia aleatoriamente de repente, com medo de que o valor delas também despencasse?

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A reputação do sistema regulatório indiano foi prejudicada e o primeiro-ministro Narendra Modi tem enfrentado problemas devido aos seus laços estreitos com o fundador do Adani Group, Gautam Adani. Entretanto, as ações de outras empresas, sejam elas de infraestrutura ou de áreas não relacionadas, estão se saindo bem. O lado discreto do capitalismo indiano pretende continuar ganhando dinheiro, sem se importar com onde os destroços do império Adani possam ir parar.

Desde que Modi assumiu o poder, Adani deixou claro que sua empresa estava a serviço do governo indiano, e quando seu conglomerado foi atacado pela Hindenburg, lançou uma defesa nacionalista, acusando seus opositores de causar “angústia aos cidadãos indianos”.

A natureza da ligação entre as empresas de Adani e Modi, no entanto, não é típica do capitalismo indiano no século 21. Saurabh Mukherjea, fundador da Marcellus Investment Managers em Mumbai, disse que na última década US$ 1,5 trilhão em valor foi adicionado ao mercado indiano, 80% vindo de apenas 20 empresas.

Algumas delas, como as do Adani, fazem muito barulho, vangloriando-se de sua influência e de suas ligações políticas. Mas 90% são “franquias regulares e bem administradas”, disse Mukherjea. Os líderes das “maiores e mais consistentes máquinas de fazer dinheiro mantêm a boca fechada e evitam correr riscos”.

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Ainda é cedo demais para dizer até onde irá a derrocada do Adani Group ou como ele ficará depois disso tudo. A queda calamitosa no preço das ações de um conglomerado que já foi avaliado em US$ 220 bilhões parou no início da semana passada, quase na metade do caminho para chegar a zero, quando os caçadores de pechinchas adquiriram ações a preços de liquidação. Mas as ações do Adani voltaram a cair no final da semana; o MSCI World, um índice influente, decidiu diminuir parte do peso das ações na sexta-feira, o que, por sua vez, levou os investidores a vender suas ações.

Nathan Anderson, o fundador da Hindenburg, tuitou que o trabalho da empresa havia sido “validado” pela decisão do MCSI. Desde que a Hindenburg acusou o Adani de crimes financeiros, alguns bancos se recusaram a aceitar as ações do grupo como garantia, e a Moody’s rebaixou na sexta-feira sua classificação para seis títulos do Adani, deixando-os quase sem grau de investimento.

Outros defenderam o Adani, de forma cautelosa. Os sinais ainda são contraditórios: o fundo soberano da Noruega, por exemplo, liquidou suas participações em três ações do Adani ao mesmo tempo em que o Goldman Sachs classificou a Adani Ports, uma subsidiária do grupo, como uma ação “para se comprar”.

Aswath Damodaran, professor de finanças da Universidade de Nova York, escreveu que, mesmo que o pior dito a respeito do Adani se provasse verdade, ele não praticou “um golpe”. Ao aceitar enormes quantias de dívida para alimentar o seu crescimento, escreveu Damodaran, o Adani assumiu “um risco, talvez mal avaliado”, embora não seja incomum no setor de infraestrutura, principalmente num lugar como a Índia, onde os investidores talvez esperem um crescimento robusto nos próximos anos.

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Um dos temores que se tornaram realidade quando as ações do Adani Group começaram a cair foi o de que seus problemas poderiam repercutir com seus credores e afetar outros mutuários. Mas, conforme seus livros são analisados, tornou-se claro que sua dívida está concentrada entre os credores apoiados pelo estado indiano, principalmente a Life Insurance of India (corretora de seguros de vida do setor público do país) e o State Bank Of India, e por bancos estrangeiros. Nenhum dos dois representa um grande risco de transtornos para os cidadãos comuns da Índia, mas se a corretora de seguros de vidas tiver perdas de bilhões, isso poderia impor uma sobrecarga ao déficit orçamental do país.

De qualquer modo, existe o perigo de que o Adani talvez tenha fontes secretas de influência. Se fosse descoberto que ele tinha empréstimos ocultos por meio de algumas das empresas de fachada verificadas pela Hindenburg, isso poderia ajudar a explicar por que o conglomerado tentou fazer com que sua avaliação tivesse proporções astronômicas.

Se o Adani acabar falindo – não se sabe ao certo o grau de probabilidade desse risco – seus grandes planos para a construção do sonho de infraestrutura e painéis solares de Modi iriam por água abaixo. Mesmo assim, seus principais ativos, como portos e redes de energia elétrica, manteriam seu valor se fossem assumidos pelos credores./TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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