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‘Taxa de juros alta é remédio amargo contra a inflação’, diz Rachel de Sá

Para a chefe de economia da Rico, não é porque a renda fixa ficou mais atrativa que a variável perdeu espaço

‘Taxa de juros alta é remédio amargo contra a inflação’, diz Rachel de Sá
Rachel de Sá, chefe de Economia da Rico Foto: Divulgação Rico
  • Rachel de Sá conversou com o E-Investidor sobre o cenário dos investimentos com a Selic a 10,75%
  • "A taxa de juros alta é um remédio amargo, mas necessário para controloar o que é ainda pior, a inflação", aponta a chefe de economia da Rico
  • Para o investidor, a conclusão é: em ano eleitoral, não faça nada diferente do que você faria em qualquer outro ano. Mantenha sua carteira diversificada, olhe para o horizonte de investimento, respeite o seu perfil de risco e não tente fazer "trade eleitoral"

A taxa básica de juros, a Selic, subiu para 10,75% ao ano na quarta-feira(2), após o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevar os juros em 1,5 ponto percentual. Essa é a oitava alta consecutiva no índice, que passou do menor patamar histórico de 2%, no início de 2021, para o atual nível de dois dígitos pela primeira vez em quatro anos e meio.

A chefe de Economia da Rico, Rachel de Sá, conversou com o E-Investidor sobre o impacto da nova taxa nos investimentos. Além disso, a especialista chama atenção para as expectativas em relação ao momento do freio do Copom na taxa, que deve acontecer ainda no primeiro semestre, segundo ela.

A especialista sugere aos investidores que, mesmo com a valorização de ativos de renda fixa por conta da alta da Selic, existem oportunidades nos ativos de renda variável. “Não é porque a renda fixa se tornou mais atrativa agora que a renda variável morreu. Ainda existem investimentos atrativos na Bolsa, a depender do perfil do investidor e das metas desejadas”, diz.

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Na renda fixa, Sá destaca a atratividade de ativos atrelados à inflação e à taxa de juros, mas alerta o investidor a acompanhar os movimentos futuros para identificar o momento de freio, assim como possíveis elevações inesperadas.

Já em ativos de renda variável, a líder da corretora indica a busca por fundos geridos por profissionais que possam identificar ações promissoras mesmo em período de incerteza. Além disso, Sá destaca fundos com exposição internacional, assim como as commodities, como boas opções no cenário doméstico atual.

Pensando em 2022, a especialista deixa dicas valiosas para os investidores. “Não faça nada diferente do que você faria em qualquer outro ano. Mantenha sua carteira diversificada, olhe para o seu horizonte de investimento, respeite o seu perfil de risco e não tente fazer ‘trade eleitoral'”, afirma.

Confira os principais destaques da entrevista:

E-Investidor – O que muda nos investimentos com a taxa de juros chegando aos dois dígitos?
Rachel de Sá – Esse é um movimento que já vem acontecendo, é a consolidação dos dois dígitos. Chegamos aos 10,75% e existe a expectativa de aumento, que deve chegar perto de 12%, segundo as projeções do Focus.

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Na Rico, nossa projeção é que a Selic chegue até 11,5%, mas pode ser um pouquinho maior, e isso deve ser suficiente para o Banco Central trazer a inflação de volta para a meta em 2023.

Com esse contexto, entendemos que o mercado já estava bastante precificado. Para o investidor pessoa física que acompanha a Rico ou outras instituições sérias, ele pode entender que essa taxa de dois dígitos já estava considerada na hora das recomendações.

Nesse panorama, vemos que é um momento de entender como algumas classes de ativos, sobretudo de renda fixa, começam a ficar mais atrativas, enquanto outras podem ficar mais atrás.

Há um ano, ao investir em ativos pós-fixados, como o Tesouro Selic, o rendimento seria de aproximadamente 3%. Na próxima reunião, em março, esse número deve chegar a 11,5%. Ou seja, essa atratividade aumentou bastante não só quando olhamos para o Tesouro, mas outros ativos como as debêntures de empresas, os outros títulos do tesouro (prefixado e híbrido) que utilizam essa métrica.

O outro efeito que é importante olhar é que a taxa básica de juros serve exatamente como base para todos os outros juros na economia, nesse ponto é essencial ter cuidado para avaliar a solicitação de crédito como nos financiamentos.

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Nesse cenário, quais são os principais ativos para o investidor ter na carteira?
Sá – O que indicamos em uma carteira pensando no médio prazo, é que o investidor tenha compreensão dos seus próprios objetivos. Com a Selic atual, é claro que mudam algumas perspectivas, mas a diversificação continua super importante.

Não é porque a renda fixa se tornou mais atrativa agora que a renda variável morreu. Ainda existem investimentos atrativos na Bolsa, a depender do perfil do investidor e das metas desejadas. Os investidores que estavam olhando para ações na Bolsa antes da alta da Selic porque respeitavam o seu perfil, não têm motivos para não continuar olhando. Porém, para quem não tem esse apetite de risco, deve se manter afastado.

Para investidores individuais, buscar fundos geridos por profissionais é sempre uma boa opção para quem quer manter uma exposição na Bolsa, seja um fundo multimercado, fundos com participação nos mercados internacionais. Estes, inclusive, podem ser boas estratégias considerando que 2022 deve ter uma turbulência doméstica.

A inflação alta tende a beneficiar ativos reais, dessa forma, outra dica é olhar para o setor de commodities. Muitos analistas pensaram que esse segmento iria desvalorizar, porque já estava em alta, mas observamos um movimento de valorização continuada.

Essa alta mostra que a renda fixa ficou mais atrativa? Sem dúvidas. Mas não significa que ativos em outras classes perderam espaço. Até porque a expectativa é que a Selic passe a cair até o final do ano, chegando ao patamar neutro, calculado por volta de 7%. Pensando nisso, não se deve confiar em deixar tudo no Tesouro Selic como garantia eterna, mas precisamos saber que existe o espaço. Por exemplo, é o melhor ativo para reserva de emergência por conta da liquidez e da segurança. Mas a diversificação vai dar mais oportunidade.

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Mesmo dentro do Tesouro, os híbridos como as NTN-B vão pagar inflação mais uma variação. Isso é importante também porque a taxa de juros está alta justamente para combater esse número.

Com a taxa subindo para 10,75%, podemos dizer que 2022 vai ser o ano da renda fixa?
Sá – Falando de um país como o Brasil, que tem taxas de juros historicamente altas, é difícil afirmar isso. De 2013 a 2017 tivemos a Selic sempre acima dos dois dígitos, chegando até a 14%. Antes disso, esteve em patamares ainda maiores. Se qualquer outro país do mundo estivesse nessa situação, poderíamos até dizer que sim.

No Brasil, temos um problema estrutural de inflação alta e os nossos juros acabam refletindo isso. Desde que o mercado começou a cair nos últimos anos, o Brasil conseguiu alcançar ganhos institucionais importantes, como a reforma da previdência e o teto de gastos. Com tudo isso implementado, o mercado evoluiu muito.

Podemos dizer que é um ano de destaque, mas falamos que a renda fixa sempre tem um espaço na carteira e continua tendo essa participação, que se torna ainda mais atrativa. Mas não, necessariamente, é o ano da renda fixa por três motivos: ela nunca perdeu relevância, não vejo outra classe em detrimento dela e, por fim, pelo histórico do País.

O Ibovespa aliviou as perdas de 2021 em janeiro, o que resultou no melhor fechamento mensal desde dezembro de 2020. O aumento dos juros pode barrar esse respiro da Bolsa?
Sá – Essa nova alta já está bastante precificada, até porque o Banco Central deixou muito claro que iria subir esse 1,5 ponto percentual. Nesse momento, é hora de prestar atenção ao comunicado. O BC vai parar de subir, vai ter mais um aumento? O que vai acontecer?

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No ponto de vista da Bolsa, o que está puxando consideravelmente é que, em tese, tende a gerar uma reação imediata negativa. Vimos a alta no fim de janeiro como reflexo do ponto de vista internacional, chamado de rotação. Ou seja, os investidores estão saindo de um tipo de investimento, como empresas de growth (crescimento) e indo para outros ativos, especialmente empresas de value (valor), que geram lucro no presente.

Isso acontece por conta da elevação de alta de juros nos Estados Unidos e porque a Bolsa brasileira tem bastante peso em empresas de valor, por exemplo, instituições financeiras e setor de commodities. Empresas de segmentos tradicionais dão retorno hoje e não sofrem tanto com alta de juros, podendo em alguns casos até ser beneficiado.

Lembrando que cerca de 40% do Ibovespa é de companhias de commodities, que estão em alta contrariando o que era esperado porque elas vêm de um histórico recente de crescimento forte.

O movimento do Banco Central é suficiente para tentar conter a inflação? 
Sá – O BC controla a inflação o quanto está sendo demandado por bens e serviços na economia, por meio do crédito. Porém, tem outras variáveis que não são controladas. Por exemplo, quando vemos a alta dos combustíveis influenciada por questões geopolíticas fazendo com que o barril de petróleo se aproximasse aos US$ 100.

Nesse caso, avaliamos que, de fato, existe uma expectativa de que esses movimentos que têm causado uma onda inflacionária global percam força nos próximos meses. Fábricas e portos ficaram fechados ou limitados por muito tempo, causando um desequilíbrio na produção industrial mundial, influenciando a cadeia produtiva como um todo. Isso está se normalizando, mas ainda deve demorar.

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Avaliamos como positivo o movimento de alta dos juros nos Estados Unidos para o Banco Central brasileiro, isso porque os juros aqui têm subido há algum tempo. Além disso, o Fed segurando a inflação, nos ajuda a manter os preços mais baixos internamente também porque existe uma inflação importada.

Por conta de tudo isso, acreditamos que a inflação deve finalizar o ano a 5,2% porque o BC vai conseguir amenizar, mas ainda vai ser impactado pelas variáveis externas.

É consenso que a economia entrará em recessão de fato em 2022? Qual deve ser o impacto da atividade econômica no mercado?
Sá – Esse aumento de juros é exatamente a forma que o BC tem para reduzir a atividade econômica. Para reduzir a pressão sobre os preços, o órgão político-monetário desaquece a economia tornando o crédito mais caro. Acreditamos que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja zero, o que reflete uma política monetária contracionista.

Já vemos os primeiros sinais efetivos, mas essas decisões demoram cerca de nove meses a um ano para fazer efeito na economia como um todo.

Costumo falar que o único fator que pode ser pior do que os juros elevados em uma economia é a inflação alta. A taxa de juros alta é um remédio amargo, mas necessário para controlar o que é ainda pior, a inflação.

O ano de 2021 já foi bastante volátil para a Bolsa. É possível que 2022 seja marcado por ainda mais volatilidade, considerando também as eleições presidenciais?
Sá – Fizemos uma avaliação na qual constatamos que a volatilidade brasileira não é necessariamente maior em ano de eleição, como acontece com outros mercados. A volatilidade está sempre presente no Brasil, porém isso não significa que não temos maior incerteza. Ano eleitoral sempre tem esse fator impactando o mercado de renda fixa, assim como a precificação do real.

Em um país com grande problema fiscal, a incerteza política é uma grande dúvida. Embora não tenhamos visto maior volatilidade na Bolsa, o que é bom, é um ano de cautela e isso impacta a atividade do consumidor, do empresário e do conjunto como um todo.

Para o investidor, a conclusão é: em ano eleitoral, não faça nada diferente do que você faria em qualquer outro ano. Mantenha sua carteira diversificada, olhe para o horizonte de investimento, respeite o seu perfil de risco e não tente fazer “trade eleitoral”.

É possível fazer ajustes para se proteger da inflação, aproveitar oportunidades no mercado internacional, mas nada que seja diferente do que seria em anos não eleitorais.

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