- A varejista conseguiu na Justiça proteção contra credores que queiram antecipar o pagamento de dívidas e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) deu 30 dias corridos para a empresa entrar com pedido de recuperação judicial
- Mas o cenário pode piorar. Caso a varejista entre em recuperação judicial, as regras da B3 são claras: a ação sai do principal índice da Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa
- Além disso, alguns fundos de investimento tem a regra de que somente podem investir em companhias listadas no Ibovespa
A descoberta de inconsistências financeiras bilionárias no balanço da Americanas (AMER3) assusta o mercado, dado que a companhia tem uma participação importante no setor varejista e faz parte da carteira do IBOV. Mas o cenário pode piorar.
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Caso a varejista entre em recuperação judicial, as regras da B3 são claras: a ação sai do principal índice da Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa.
Na sexta-feira (13), a Americanas obteve na Justiça proteção contra credores que queiram antecipar o pagamento de dívidas e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) deu 30 dias corridos para a empresa entrar com pedido de recuperação judicial. O pedido se deu porque as inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões comunicadas pela empresa podem levar ao vencimento antecipado de R$ 40 bilhões em dívidas. Leia: Quem é PwC, a auditoria que aprovou as contas da Americanas.
Investidores impactados
Se a Americanas sair do carteira do Ibov, o investidor pode ter diversos prejuízos. Ele mantém a ação no seu portfólio, mas terá dificuldade de ver o preço do ativo se recuperar e terá problemas para vender o papel. Segundo Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, a saída de qualquer companhia do benchmark reduz a liquidez do ativo. Hoje, a companhia tem uma participação no Índice Bovespa de 0,098%.
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Apesar de a porcentagem no Ibovespa parecer pequena se comparada com a de outras empresas, como a Vale – que tem participação de 16,24% -, a carteira é somente composta por companhias que tenham sido negociadas em pelo menos 95% dos pregões nos últimos três anos, movimentado pelo menos 0,1% do total do mercado à vista em volume financeiro e não seja classificada como penny stock (preço da ação é menor que R$ 1) nos últimos três anos.
Na prática, são ativos mais interessantes aos brasileiros que queiram comprar e vender papéis sem problemas, já que há uma liquidez maior nas ações. Veja a última atualização feita no portfólio do índice.
Além disso, alguns fundos de investimento tem a regra de que somente podem investir em companhias listadas no Ibovespa.
Caso algum cotista pondere comprar um fundo na expectativa de aproveitar o setor de varejo terá que checar na lâmina, documento que detalha as regras daquele produto de investimento, se determinada empresa ainda fará parte do portfólio caso entre em recuperação judicial. Se a medida jurídica for adotada, os gestores desses fundos são obrigados a vender os papéis daquela companhia.
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Vale destacar que o processo de compra e venda das ações da Americanas seguirá normal mesmo com a recuperação judicial, como qualquer outro ativo. De todo modo, Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, não considera interessante ter papéis da companhia neste momento. A queda acumulada da AMER3 de quase 99% desde o pico, em 2020, aponta que a única saída para aqueles que ainda querem permanecer no papel é “rezar para ter um turnaround (dar a volta por cima, em tradução livre) que, talvez, tenha efeito positivo daqui a uma década”, diz o especialista.
Até o momento, segundo os entrevistados pelo E-Investidor, quem quiser vender sua ação terá facilidade, já que o volume negociado por dia da empresa se mantém desde antes das polêmicas.
Veja o levantamento da Economatica sobre como foi o volume desde janeiro de 2022:
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Nesta terça-feira (17), a ação AMER3 caiu 2,06%. No acumulado de janeiro, o papel cai 80,31%.
Apesar das notícias negativas, vender o papel ainda é fácil porque há quem acredite na possível recuperação da varejista, afirma Brasil. “Sei que é difícil para o investidor perder tanto dinheiro, mas é melhor vender a posição e levar a Americanas como aprendizado do que se prender a especulações”.
Luis Novaes, especialista da Terra Investimentos, por sua vez, dá outra saída para os acionistas. “Eles poderão pedir uma indenização na Justiça”. Esse deve ser o início de um grande processo de recuperação que pode durar anos.
Para isso, é necessário entrar em contato com um advogado e compreender quais são os diretos e formas de solicitar uma compensação por danos morais individuais e uma indenização por danos materiais.
Outras partes afetadas
Ferrer, da Empiricus, também ressalta que desde que as informações sobre o rombo apareceram, o rating (avaliação) da companhia mudou, o que tende a afastar ainda mais os investidores. A medida serve para que investidores saibam o nível de risco dos produtos que estão adquirindo.
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No dia seguinte ao anúncio da dívida de R$ 20 bilhões, a Ágora Investimentos colocou os papéis da varejista em “revisão”. Outras casas como XP, Citi, Itaú e Bradesco BBI também suspenderam as recomendações. A nota deve ficar mais baixa se a companhia entrar em recuperação judicial.
Gustavo Pazos, analista de Research da Warren, por sua vez, lembra que outro braço impactado pela companhia é o “business”, ou seja, a relação da Americanas com seus credores, como bancos e investidores que possuem debêntures.
Com uma possível recuperação judicial, os pagamentos das dívidas bancárias e das debêntures – investimento no qual a pessoa “empresta dinheiro” para uma companhia esperando ser ressarcida com juros – serão adiados. De acordo com o Estadão/Broadcast, o Bradesco e o BTG Pactual são os maiores bancos credores da Americanas, com dívidas no total de R$ 4 bi.
Especialistas estão no aguardo para entender o real impacto bilionário na companhia, que deve ser divulgado apenas no balanço financeiro do 4º trimestre de 2022 – com previsão de ser divulgado em 29 de março -, para talvez mudar a indicação do que fazer com a varejista.
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Phil Soares, chefe de análise da Órama, ressalta outro lado do impacto financeiro da companhia. Conforme o resultado financeiro do 3º trimestre, a Americanas tem um marketshare (participação no mercado nacional) de 30,1%, mas, segundo o especialista, esse número pode ser reduzido nas próximas semanas.
Ele explica que Via (VIIA4), Mercado Livre e Magazine Luiza (MGLU3) devem ocupar uma parcela do mercado que a Americanas tem, porque os brasileiros podem ficar receosos em comprar produtos na companhia.
Posição da B3
Gilson Finkelsztain, presidente da B3, disse na terça-feira (17) que a Americanas pode ser excluída do Índice de Sustentabilidade das Empresarial (ISE).
No caso do ISE, pela metodologia, a B3 faz perguntas à empresa após a descoberta do problema, no caso da Americanas, o rombo de R$ 20 bilhões, e pode decidir por sua exclusão da carteira, que é replicada por vários fundos. Com base nas respostas – ou na ausência delas – a B3 toma a decisão.
Quando perguntado por jornalistas se as auditorias deixaram de funcionar, tanto em Americanas como no IRB, Finkelsztain disse que é difícil discordar deste ponto.
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Com informações da Agência Estado