As ações da Apple (AAPL34) desabam no pregão desta quinta-feira (3) após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar seu tarifaço global na tarde da última quarta-feira (2). O presidente americano anunciou tarifa base de 10%, que será cobrada de países como Brasil e Argentina, e uma tarifa máxima de 50% a ser cobrada de Lesoto e Saint Pierre e Miquelon.
Às 15h54min, as Brazilian Depositary Receipt (BDRs) da Apple derretiam 10,50%, a R$ 57,03. No mercado americano, as ações da companhia desabavam 9,28%, a US$ 203,12. Para Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, o principal fator para a queda é que o tarifaço de Trump deve cobrar uma taxa de 34% sobre os produtos importados da China e a Apple fabrica cerca de 90% desses produtos no mercaso chinês. “Ou seja, a companhia terá que decidir entre incorporar essa taxa e reduzir sua margem de lucro ou repassar isso para os clientes, deixando o Iphone mais caro nos Estados Unidos”, diz Lage.
De acordo com Gerson Brilhante, analista da Levante Inside Corp, as tarifas de Trump também devem recair sobre outros países onde a Apple produz, como Vietnã (46%) e Índia (26%). “Isso eleva custos em cerca de US$ 8,5 bilhões por ano, comprimindo margens brutas (atualmente cerca de 44%) em até 4 pontos percentuais se não repassado”, diz Brilhante.
Guy Peixoto Neto, investidor independente com formação em Harvard, diz que, para manter a lucratividade, a Apple precisaria aumentar em cerca de 6% o preço médio de seus produtos. Dado que os iPhones têm margens brutas entre 35% e 38%, essa pressão exige decisões estratégicas: absorver parte do custo ou repassá-lo ao consumidor.
O Iphone pode ficar mais caro no Brasil com tarifaço de Trump?
Nos Estados Unidos, há uma grande possibilidade de o tarifaço de Trump deixar o Iphone mais caro. Isso porque o aumento de impostos será nas terras americanas e, se a Apple decidir repassar o imposto para o consumidor, o produto tende a ficar mais caro. Já no Brasil, a definição aponta que um reajuste no preço do Iphone é pouco provável.
Gerson Brilhante, da Levante, explica que se o reajuste for feito só nos Estados Unidos, lugar onde a empresa será taxada, o repasse da Apple para o consumidor faria o preço do Iphone sair dos US$ 1.000 para US$ 1.142 (+14%), com absorção parcial e corte nas margens de lucro.
Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, também avalaia que um aumento de preços no Brasil é um cenário menos provável.“No Brasil, o preço já é elevado devido à atual carga tributária”, argumenta Lage.
No entanto, Peixoto Neto diz que a Apple pode optar por repassar o aumento de preços globalmente, para não ter um impacto somente nos Estados Unidos, assim, o reajuste seria diluído por todo o planeta. “Neste caso, a estimativa é de um aumento de 6% no preço do Iphone pelo mundo para neutralizar os efeitos tarifários”, explica Neto. Ou seja, um aumento no preço do Iphone no Brasil parece algo distante, mas não impossível.
É hora de comprar as ações da Apple?
Apesar da forte queda nesta quinta-feira (3) e da empresa ser vista como robusta, a maioria dos analistas ouvidos pela reportagem fala que o investidor não deve entrar no papel agora. Lage, da Valor Investimentos, explica que o melhor é esperar esse período de turbulência no mercado passar. “O melhor é aguardar não só pelas tarifas de Trump, a companhia está sendo negociada acima do preço que consideramos justo”, recomenda.
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Gerson Brilhante, da Levante, lembra que o papel é negociado a 25 vezes o lucro, com um cenário complexo pela frente, o que mostra que o caminho da Apple não será fácil no futuro. “Acreditamos que a empresa já está negociando próximo ao seu preço alvo, trazendo nossa recomendação para neutra”, explica.
Já Guy Peixoto Neto acredita que a ação AAPL tem potencial. Ele diz que a Apple permanece com fundamentos sólidos, histórico de inovação, fluxo de caixa robusto e um ecossistema fortemente integrado. “Mesmo com as pressões de curto prazo, o retorno sobre capital investido (ROIC) está em 33,16%, e o EV/EBITDA gira em torno de 24,98 vezes — patamares compatíveis com empresas de altíssima qualidade”, ressalta.
O especialista calcula que a ação chegará ao patamar de US$ 205 e US$ 215 nos próximos 12 meses, o que equivale a altas de 12% e 17% em relação ao patamar atual, mesmo com os desafios geopolíticos que a Apple (AAPL34) deve enfrentar no horizonte.