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- Foi divulgada nesta quarta-feira (21) a ata da reunião de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), realizada nos dias 30 e 31 de julho
- A ata mostra que a "vasta maioria" dos membros do FOMC espera que seja apropriado cortar juros na próxima reunião, marcada para os dias 17 e 18 de setembro, caso os dados continuem a vir dentro do esperado
- Especialistas dão como certo o início do ciclo de afrouxamento monetário por lá e explicam por que isso é bom para o Brasil
Foi divulgada nesta quarta-feira (21) a ata da reunião de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), realizada nos dias 30 e 31 de julho. O grupo manteve a taxa de juros dos Estados Unidos inalterada na faixa entre 5,25% e 5,5% naquela ocasião, mas o ciclo de juros altos por lá pode estar com os dias contados. Ao menos, é o que indicou o documento.
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A ata mostra que a “vasta maioria” dos membros do Fed espera que seja apropriado cortar juros na próxima reunião, marcada para os dias 17 e 18 de setembro, caso os dados econômicos continuem a vir dentro do esperado. Alguns integrantes do colegiado destacaram que havia espaço para um corte de 25 pontos-base já naquele encontro de julho, dado o progresso na inflação e o aumento na taxa de desemprego.
O documento confirma o que o mercado já vinha especulando havia um tempo: o tão esperado ciclo de cortes de juros nos EUA deve começar em setembro. Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a pergunta que permanece em aberto agora é o tamanho do corte. “Após a publicação da ata, houve ajustes nos contratos de juros que agora colocam 60% de probabilidade do corte ser de 0,25 pontos-base (bps, na sigla em inglês) e 40% para um corte de 0,50 bps. Os mercados nos EUA reagiram positivamente”, destaca.
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E isso pode impactar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a mesma data de setembro. Por aqui, a desancoragem das expectativas de inflação em um momento de transição de mandatos na presidência do Banco Central faz uma parte cada vez mais relevante do mercado acreditar que a instituição monetária precisará subir a taxa básica de juros brasileira, a Selic, na próxima reunião. Mostramos aqui a opinião de grandes gestores do mercado sobre o tema.
“Podemos inferir que as chances de um aumento da taxa Selic já em setembro perdem força se o corte de juros nos EUA for de 0,5 bps. Por outro lado, se o Fed decidir por 0,25 bps pode ficar difícil evitar um novo aperto por aqui”, diz Igliori.
A mensagem repercutiu bem no mercado. Logo após a divulgação da ata. “Os dirigentes reforçaram a mensagem dovish que posiciona a instituição para um possível corte de juros na próxima reunião, perspectiva que fez hoje o dólar se afastar das máximas e a Bolsa retomar sua força”, destaca Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus. Por volta das 16h55, o dólar recuava, pressionando o índice DXY, que mede a divisa americana ante uma cesta de seis rivais fortes, a operar no menor nível desde dezembro de 2023. A cotação da moeda americana, que chegou a ser negociada a R$ 5,50 no início da tarde, cedeu para R$ 5,48.
Apesar de importante, a ata do Fed não é o único evento da semana que dará sinais sobre o futuro da política monetária nos EUA. Na sexta-feira (23) acontece o Simpósio de Jackson Hole, um evento de economia sempre marcado pelo discurso do presidente do Fed, Jerome Powell. Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, explica que o evento é importante, pois a ata traz observações dos dirigentes do BC americano com dados de inflação e mercado de trabalho referentes a julho. Desde então, novos indicadores já foram divulgados.
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A mensagem de Powell pode ser, portanto, “mais atualizada” do que a ata do FOMC. “É esperado que nós tenhamos uma queda em setembro, mas o Fed entende que os dados posteriores serão absolutamente importantes para a definição da política monetária futura”, diz Argenta.
Bom para o Brasil
Como contamos nesta reportagem, os cortes de juros nos EUA também são positivos para o mercado brasileiro. Desde a virada de 2023 para 2024, quando o mercado começou a esperar pelo início do afrouxamento monetário por lá, os cortes dos juros são consideradas um dos principais gatilhos positivos para mercados emergentes. Um cenário que pode beneficiar o Brasil.
A alta da taxa de juros americana tirou liquidez dos mercados de risco, porque fez aumentar o retorno do investimento considerado o mais seguro do mundo, os títulos públicos americanos. Com o receio de uma recessão econômica forte por lá, o fluxo de dólar sai dos mercados emergentes em busca de maior proteção; o que penalizou muito o Ibovespa ao longo de 2024.
Aos poucos, os gringos têm voltado a olhar para a B3. Julho foi o primeiro mês de entrada positiva de capital estrangeiro por aqui e agosto dá continuidade a essa tendência, com uma entrada de R$ 7,6 bilhões até a segunda-feira (19). Isso ajudou o IBOV a bater o maior patamar de fechamento de sua história, de 136 mil pontos.
No acumulado de 2024, no entanto, o saldo ainda é negativo em R$ 28,8 bi. Isso dá um sinal de que pode haver espaço para altas ainda maiores no Ibovespa, caso os gringos voltem de vez para o mercado brasileiro. “Esse é o principal fator. Se o fluxo estrangeiro continuar, o Ibovespa pode subir bastante e ainda ter múltiplos (P/L, preço sobre o lucro, ou EV/EBITDA) em linha com o que vimos nos últimos 10 anos”, afirma Luís Moran, chefe de análise da EQI Research. “Se o fluxo não continuar, contudo, não há fundamento que sustente os preços”, diz ele. Espera-se que o corte de juros nos EUA sinalizado pela ata do Fed colabore com esse movimento de entrada de dinheiro gringo.
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