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- Os três primeiros pregões desta semana trouxeram uma novidade para os investidores de Bolsa: um recorde de fechamento do Ibovespa, que superou os 136 mil pontos pela primeira vez em sua história
- Ao que tudo indica, a Bolsa brasileira pode continuar vivendo um momento favorável pela frente
- Para especialistas, a peça-chave é o início do ciclo de cortes na taxa de juros dos Estados Unidos
Os três primeiros pregões desta semana trouxeram uma novidade para os investidores de Bolsa: um recorde de fechamento do Ibovespa, que superou os 136 mil pontos pela primeira vez em sua história. Somente nos 20 primeiros dias de agosto, o índice acumula uma valorização de 6,61% – o suficiente para zerar o mau desempenho acumulado nos primeiros seis meses de 2024 e estender uma leve alta de 1,70% no ano.
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Como mostramos nesta outra reportagem, trata-se de uma virada de chave importante. Apenas dois meses atrás, o IBOV chegava ao “fundo do poço” do exercício: com 119,1 mil pontos, acumulava um prejuízo de 11,21% em 2024. De lá para cá, a reviravolta incluiu um salto de mais de 14% e, agora, teve esse novo recorde alcançado. Os dados foram levantados por Einar Rivero, CEO da Elos Ayta.
Luís Moran, chefe de análise da EQI Research, explica que as ações estão subindo porque é cada vez mais evidente que o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), vai iniciar em setembro o movimento de corte de juros no país. Desde a virada de 2023, esse é tido como o principal gatilho para os mercados globais, especialmente os emergentes. A alta das taxas americanas torna mercados de risco, como o Brasil, menos atrativos; o que reduz o fluxo de investidores estrangeiros na B3.
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“O fluxo de investimentos estrangeiros em ações, que era francamente negativo até junho, se tornou positivo de julho em diante. Esses recursos estão puxando os preços e ainda há muito espaço para alta, que levaria os múltiplos apenas para níveis próximos do patamar histórico”, destaca Moran. “Ou seja, mesmo subindo bastante, o Ibovespa ainda estaria abaixo do que esteve na média da última década, estamos apenas vendo uma normalização de uma situação de preços muito deprimidos.”
Até a segunda-feira (19), dado mais recente disponibilizado pela B3, o mês de agosto registrava uma entrada de R$ 7,698 bilhões em capital estrangeiro na Bolsa, o que explica boa parte do desempenho positivo das ações brasileiras no Ibovespa no período.
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, lembra que os ativos brasileiros estavam e ainda estão baratos, e por isso entram na mira do capital internacional no momento em que a dinâmica da economia americana permite maior apetite por risco. Mas há outros fatores internos beneficiando a Bolsa. Nas últimas semanas, os ruídos em relação ao cenário fiscal no Brasil se atenuaram e o governo federal vem reforçando a mensagem de que está sim comprometido em reduzir as despesas para se manter fiel às metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal.
Leia também: Incerteza fiscal afeta fluxo para o Brasil e apetite estrangeiro, diz economista
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“O quadro positivo também foi possível em função dessa melhora no ambiente doméstico, com uma mudança de percepção sobre o ajuste fiscal e uma maior sinalização de comprometimento do governo para redução de gastos com objetivo de atingir a meta fiscal deste ano e dos próximos”, explica França. “Também é importante mencionar que agora em agosto vimos o término da temporada de resultados do segundo trimestre e, em geral, os números foram bons, alinhados até mesmo a uma leitura de atividade econômica mais forte no Brasil”.
Tendência de alta no curto prazo do IBOV
Depois de o Ibovespa bater seu recorde de fechamento por dois dias seguidos, o índice da B3 seguiu em alta. O Ibovespa fechou em alta nesta quarta e renovou o seu recorde histórico de encerramento pelo terceiro dia seguido, com valorização de 0,28%, aos 136.463,65 pontos.
Sob o ponto de vista da análise gráfica, é possível que a Bolsa brasileira continue em uma sequência favorável de curto prazo. Também conhecida como análise técnica, esse método de estudo tenta identificar padrões de comportamento no mercado para detectar tendências de preços.
- Por que os grandes gestores do mercado dão como certa a nova alta da Selic em setembro?
Na segunda-feira (19), os indicadores analisados pelo BB Investimentos apontavam que a Bolsa seguiria sua tendência de alta ao longo desta semana, desde que superasse o topo histórico, que vinha se mostrando uma resistência consolidada. E isso aconteceu.
“A análise gráfica nos mostra que o Ibovespa opera muito próximo ao limite superior de um canal de alta. Nesse patamar, é comum a ocorrência de curtos períodos de realização, mesmo dentro da tendência”, diz a análise do BB-BI. “Os volumes transacionados na última semana foram superiores à média das últimas semanas, também amparados pela safra de divulgação de balanços do 2T24, que avaliamos como positiva, com o fluxo estrangeiro como principal direcionador do desempenho das ações”, acrescenta o relatório. Dos 201 papéis do Ibovespa monitorados, 57% tinham tendência de alta ou alta consolidada no curto prazo.
Os gráficos do Itaú BBA também apontam para isso. O Diário do Grafista, feito pelo analista Fabio Perina, destaca que o Ibovespa está próximo dos 137 mil pontos, um patamar que pode ser alavancado tendo em vista que os índices de ações americanos SP&500 e Nasdaq superaram novas máximas e abandonaram a tendência de baixa de curto prazo.
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“A nossa opinião é que o IBOV está em tendência de alta no curto prazo, venceu mais uma batalha ao superar a máxima de dezembro do ano passado e a maioria dos índices setoriais da B3 como SMLL, INDX, IEEX, ICON e IFCN superaram a máxima da semana passada. Depois de um rali de duas semanas, o mercado continua esticado e mostra até o momento força de que pode continuar a subida”, explica o analista.
Há fundamentos para o Ibovespa continuar subindo?
Mesmo que muitos fatores apontem para a continuidade do bom momento da Bolsa brasileira no curto prazo, no médio é mais difícil prever o que pode acontecer. Com a perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos em setembro, parte do mercado começa a projetar que a Selic faça o caminho contrário e retome o ciclo de altas por aqui. Como mostramos nesta reportagem, o entendimento é de que o Banco Central precisa reforçar a credibilidade e o compromisso com a meta de inflação em um momento de transição na instituição.
Ricardo França, da Ágora, destaca que um possível novo ajuste na Selic parece já estar no preço e não seria uma grande surpresa capaz de minar o bom humor em relação à Bolsa. A peça-chave será mesmo o cenário lá fora. “Esse processo de corte de juros pelo Fed traz um ambiente muito propício para o investidor global aumentar sua exposição a ativos de risco e o Brasil continua sendo um dos valuations mais baratos entre países emergentes. Então temos uma oportunidade de manutenção dessa tendência favorável para o Ibovespa”, diz.
O problema estaria em uma eventual mudança relevante no ritmo da economia americana, que indicasse uma desaceleração brusca nos EUA. “Diria que esse é o ponto de atenção. Se mais para frente começarmos a ver uma hipótese de recessão, o mercado pode ter um momento de acomodação e volatilidade para os preços”, explica França.
Tudo correndo bem – sem uma recessão americana ou novos problemas no cenário doméstico –, os especialistas acreditam que o Brasil está bem posicionado para voltar ao radar dos investidores estrangeiros ao longo deste segundo semestre. Mesmo com o fluxo positivo de julho e agosto, o acumulado de 2024 ainda está negativo em R$ 28,872 bilhões.
Isso dá um sinal de que pode haver espaço para altas ainda maiores no Ibovespa, caso os gringos voltem de vez para o mercado brasileiro. “Esse é o principal fator. Se o fluxo estrangeiro continuar, o Ibovespa pode subir bastante e ainda ter múltiplos (P/L, preço sobre o lucro, ou EV/EBITDA) em linha com o que vimos nos últimos 10 anos”, afirma Moran, da EQI. “Se o fluxo não continuar, contudo, não há fundamento que sustente os preços.”
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