- Taxa básica de juros cresce 0,75 pontos percentuais alcançando 4,25%, segundo decisão do Copom
- Os investimentos de renda fixa pós-fixada ganham impulso, enquanto a pré-fixada pode sofrer no curto prazo
- O Copom elevou a projeção da Selic para o fim do ano de 6,25% a.a. neste ano e para 6,50% a.a. em 2022
Confirmando a previsão da reunião de maio e as expectativas do mercado, a Selic, taxa básica de juros cresceu 0,75 pontos percentuais alcançando 4,25% ao ano, segundo decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quarta-feira (16). O dia também foi marcado pela divulgação da taxa de juros do Estados Unidos, mantida entre 0 e 0,25%.
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Com o aumento da Selic pela terceira vez seguida no ano, os investimentos de renda fixa pós-fixada ganham impulso, enquanto os pré-fixados podem sofrer no curto prazo. Os juros maiores também atraem investidores estrangeiros, favorecendo a apreciação da moeda brasileira.
Por conta dos juros americanos baixos e o aumento da taxa brasileira, o real voltou a se valorizar frente ao dólar. No intradia, a moeda americana chegou a mínima de R$ 4,99, menor valor desde junho de 2020, mas fechou a R$ 5,06.
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O Copom elevou a projeção da Selic para o fim do ano para 6,25% a.a. neste ano e para 6,50% a.a. em 2022. Embora o aumento signifique uma “normalização monetária”, após quase um ano em mínima histórica, o impacto no mercado deve ser pequeno, dado que a decisão já era esperada.
“Os ativos que tendem a ser marginalmente beneficiados são os de renda fixa pós-fixada, como CDB e Tesouro Selic (LFT). Ativos marginalmente penalizados com essa decisão são a Bolsa, de uma forma geral, e os fundos imobiliários”, comenta Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset.
Para o analista e gestor de fundos da Valora Investimentos Paulo Fleury, este cenário contribui com as estruturas de crédito privado. “Com uma Selic de 7%, desde os produtos high grade (títulos mais confiáveis), pagando 2% de prêmio a mais que o CDI, até os high yield (títulos de maior retorno), pagando até 8% de prêmio acima do CDI, o investidor consegue minimamente 9% de retorno absoluto para 2022 sem volatilidade, em um ano em que outros mercados prometem bastante oscilação devido às eleições”.
De acordo com o sócio e economista da VLG Investimentos e professor da FIA Leonardo Milane, é possível um aperto monetário maior do que o previsto para os próximos meses. “O comunicado não foi brando, percebe-se o reconhecimento de uma uma inflação mais persistente do que era imaginado”, avalia.
Inflação e contexto nacional
Assim como o aumento dos juros, o comunicado chegou com um tom de temor pelo aumento da inflação, com projeções de 5,8% para 2021 e 3,5% para 2022.
Em relação à próxima reunião, o Comitê espera novo aumento de 0,75 p.p., mas a projeção pode ser realinhada de acordo com a inflação. “O Comitê ressalta que essa avaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação”, informou em comunicado.
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Segundo o economista-chefe do Banco Bradesco, Fernando Honorato, em live da Ágora Investimentos, um novo aumento deve ocorrer na próxima reunião, com base nas expectativas de juros para 2022. “Mesmo que o próximo aumento seja maior que 0,75 p.p., a decisão será uma estratégia de estímulo com o intuito de ancorar as expectativas do mercado para a taxa de juros em torno de 6,5%, considerada neutra, seja com passos de 0,75 p.p. ou passos mais largos.”
O estrategista da Davos, Mauro Morelli, ressalta a menção à crise hídrica no País pelo Copom, que aumenta tarifas e, consequentemente, contribui para o crescimento da inflação no curto prazo. “Esses movimentos devem ser concentrados no curto prazo, porque no médio e longo prazo o BC garante um crescimento mais sustentável”, analisa.
Juro americano
Além da decisão do Copom, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, divulgou a taxa de juros nos EUA. Assim como o esperado, o Fed não fez alteração e manteve a taxa entre 0 e 0,25% ao ano, sinalizando dois aumentos até 2023. Na última reunião, em março, não havia expectativa de aumento até 2024.
Embora a projeção econômica dos EUA para o PIB até o fim de 2021 tenha crescido de 6,5% para 7,0%, a expectativa para a taxa de desemprego manteve-se inalterada desde a última reunião, com 4,5%. Segundo Powell, a inflação pode ultrapassar as projeções e permanecer mais do que o esperado, mas não haverá mudança na política monetária sem uma sinalização antecipada.
Após o discurso do presidente do Fed, o mercado respondeu negativamente. “Pode ser que o mercado esteja começando a não acreditar na ideia de inflação transitória”, afirma o head de renda variável da Aplix Investimentos, Aroldo Holanda Filho. Ele complementa que existe a possibilidade do Fed precisar tomar “atitudes mais drásticas” caso a inflação aumente, o que pode ser negativo para o mercado.
De acordo com Paloma Brum, analista de investimentos da Toro, os investidores tendem a deslocar ativos de maior risco para os títulos públicos ou papéis de empresas cíclicas. O que pode significar maior desconto na precificação de ações das empresas do perfil growth, como as big techs e as de comércio eletrônico.
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“Isso ocorre porque o crescimento acelerado de negócios com este perfil de growth depende de financiamentos que, por sua vez, tendem a ficar mais caros com juros do Tesouro mais elevados”, explica Brum.
Por outro lado, as empresas de value tendem a ser beneficiadas neste movimento, pois as suas atividades estão mais relacionadas com o ciclo econômico do momento.
Expectativas
Para João Guilherme Penteado, CEO da Apollo Investimentos, a expectativa é de uma Selic na faixa de 6% para o final do ano, podendo chegar até 6,5% ao ano. Segundo ele, as altas de juros atingem muitos setores, seja para o bem ou para o mal.
Penteado sugere que o setor bancário tende a se beneficiar. “Já o maior impacto negativo deve ser visto no setor de construção civil, dado que os aumentos da Selic afetam diretamente quem busca por financiamentos imobiliários”, afirma.
Já no fim de 2019, antes da pandemia, a taxa básica de juros vinha caindo, apesar de ter começado o ano em 6,5% ao ano, chegou a 4,5% ao ano no final de 2019, montando o cenário para a diminuição drástica com o auge da crise do coronavírus. De agosto de 2020 até janeiro deste ano, a taxa manteve-se em 2%, considerada mínima histórica.