O BB reportou um lucro líquido ajustado de R$ 7,374 bilhões no primeiro trimestre de 2025, uma queda de 20,7% em relação a igual período de 2024. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) foi de 16,7% no trimestre, recuo de 4,98 pontos percentuais em base anual e de 4,16 pontos percentuais em três meses.
Um dos pontos que mais pressionaram os resultados foi a Resolução nº 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que começou a valer neste ano. De forma geral, a medida obriga as instituições financeiras a anteciparem as “provisões”, dinheiro reservado para cobrir os calotes dos clientes. Nesta matéria, explicamos os detalhes sobre a norma e mostramos quais devem ser as instituições mais afetadas.
Com a entrada em vigor da resolução, um dos fatores que pesaram negativamente no balanço do Banco do Brasil foi a disparada de 1,85 ponto porcentual na inadimplência em sua carteira de crédito do setor rural, de 1,19% no primeiro trimestre de 2024 para 3,04% no primeiro trimestre de 2025. Isso acontece porque o segmento do agronegócio tem sofrido com empresas em recuperação judicial, o que exige que o BB provisione antecipadamente os possíveis calotes.
Além dos números piores, outro ponto que causou insegurança foi o banco ter colocado em revisão o guidance (projeção) de custo do crédito, margem financeira bruta e lucro líquido ajustado para 2025.
Na visão de Pedro Galdi, analista da AGF Investimentos, o mercado deve monitorar os próximos resultados do banco para compreender melhor os impactos da nova resolução. “Após o balanço, os investidores se assustaram e as incertezas devem continuar pressionando os papéis no curto prazo. Precisamos esperar o balanço do segundo trimestre para saber se os clientes do setor do agro que terão de refinanciar já entraram na mesa para realizar negociações com o banco”, diz.
Bancos e corretoras cortam recomendação de BBAS3
Uma leva de casas do mercado cortou a recomendação para as ações do BB em maio. A Ágora Investimentos e o Bradesco BBI rebaixaram os papéis de compra para neutra, com um novo preço-alvo de R$ 31. Olhando para o futuro, as casas acreditam que o ano começou de forma mais desafiadora do que o esperado para a empresa, com taxas de inadimplência altas e crescimento fraco da receita.
Ágora e BBI também reduziram suas estimativas de lucro líquido para a companhia em 19% para 2025 e 2026, para R$ 32,6 bilhões e R$ 36,1 bilhões, respectivamente. “De acordo com nossas novas estimativas, esperamos agora um ROE de 17% para 2025, o que, considerando o custo de capital próprio do banco de 17%, parece precificado de forma justa”, acrescentam.
A Genial Investimentos foi outra que cortou a recomendação de compra para manter (equivalente à neutra) e reduziu o preço-alvo de R$ 40,3 para R$ 31,4. “Diante de um cenário mais desafiador e incerto, vemos possibilidade de deterioração adicional dos resultados ao longo de 2025, especialmente com a expectativa de agravamento do ciclo de inadimplência em algumas carteiras no segundo semestre, pressões persistentes sobre a qualidade dos ativos no agronegócio e maior dificuldade de crescimento de receita”, destaca.
Quem seguiu um caminho parecido foi o Santander, que rebaixou a recomendação de compra para “manutenção” (equivalente a neutro), com um preço-alvo de R$ 26 para 2025, contra R$ 45 anteriormente. Os analistas do banco dizem ter dúvidas sobre o payout (porcentagem do lucro distribuída na forma de dividendos) de 40% pelo banco. “Não estamos recomendando o BB para estratégias de dividendos”, apontam.
Outro banco que “jogou a toalha” e rebaixou o Banco do Brasil para neutro foi o BTG Pactual, com novo preço-alvo de R$ 30. A casa entende que os números da empresa ainda podem piorar antes de melhorar. Dessa forma, prefere aguardar uma correção adicional das ações ou mais clareza sobre os resultados futuros antes de recomendar compra ou venda.
Na lista de revisões, esteve ainda a XP Investimentos, que rebaixou BBAS3 para neutro e cortou o preço-alvo de R$ 41 para R$ 32 por ação. A corretora também reduziu suas estimativas de rendimento em dividendos do Banco do Brasil de 11,2% para 8,2% em 2025. Apesar do preço atraente dos papéis, a casa acredita ser melhor esperar por sinais mais claros de recuperação da empresa antes de tomar uma posição mais convicta sobre a companhia.
Para Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, os rebaixamentos são excessivos. “Me parece um certo exagero o corte na recomendação dos papéis do BB. É um banco que apresentou R$ 7 bilhões de lucro no último trimestre e está sendo tratado como ativo de risco ou degradado. Particularmente, não concordo”, afirma.
O pessimismo com a empresa também se refletiu no desempenho das ações. Do início de janeiro até o dia 15 de maio, quando a companhia divulgou o balanço, os papéis subiam 25% no ano. O cenário mudou após os resultados: desde a publicação dos números até o último pregão, os ativos zeraram ganhos e passaram a cair 7,14% em 2025.
“Um certo grau de cautela por conta do setor agro, uma revisão para cima nas projeções de inadimplência ou mesmo uma realização de lucros após a forte alta iniciada em janeiro de 2025 são movimentos aceitáveis, mas uma queda de mais de 20% após o balanço é demasiada e desproporcional”, destaca Sant’Anna.
Queda é oportunidade para o investidor?
As ações do BB começaram 2025 valendo R$ 22,77. Na máxima do ano, em 14 de maio, um dia antes da divulgação do balanço do 1º tri, foram a R$ 29,22. Desde então, passaram a cair. Nesta sexta (13), fecharam cotadas a R$ 21,58. No acumulado do ano, os papéis do banco têm baixa de 7,14%.
Na visão de Galdi, da AGF, a decisão entre investir ou não em Banco do Brasil depende do perfil do investidor. Segundo ele, quem tem um comportamento mais imediatista, que reage rápido ao movimento do mercado, provavelmente deve ter vendido os papéis no primeiro sinal de queda.
Por outro lado, para aqueles que investem com foco no longo prazo e em uma estratégia de dividendos, o cenário muda bastante. “O Banco do Brasil distribui 40% do lucro líquido em dividendos. É uma política de payout bem interessante, especialmente quando comparada à do Itaú (ITUB4), que paga 25% do lucro líquido ajustado. Ou seja, do ponto de vista de proventos, o BB é uma grande oportunidade”, afirma.
Evandro Medeiros, analista CNPI da Suno Research, concorda que os papéis oferecem perspectivas positivas para dividendos. Ele estima um dividend yield (rendimento de dividendos) de 9,6% para o BB em 2025.
“Apesar do controle estatal, o banco conta com uma gestora e uma seguradora altamente lucrativas e é líder no agronegócio, setor que, embora enfrente dificuldades recentes, cresce consistentemente acima da média nacional há décadas. Essa exposição, hoje percebida como um risco, tende a se revelar uma vantagem estrutural no longo prazo”, destaca Medeiros.
Dentro do setor financeiro, o analista também enxerga boas oportunidades para dividendos em nomes menos conhecidos, como o Banco ABC (ABCB4), que vem ampliando sua oferta de serviços com o objetivo de elevar o retorno sobre o capital. Ele ainda destaca o banco de investimento BR Partners (BRBI11) pela qualidade da gestão.
Além de ser considerado uma boa opção para dividendos, outro atrativo do Banco do Brasil é o seu preço descontado. Segundo os cálculos de João Zanott, analista da EQI Research, a empresa está negociando com desconto em relação ao seu valor patrimonial, com um múltiplo P/VP (preço sobre valor patrimonial) de 0,7 vezes, o que sugere que o mercado já embute um cenário de rentabilidade mais baixa por um período prolongado.
Para investidores com horizonte de longo prazo, o analista vê valor na combinação de um dividend yield ainda atrativo com a possibilidade de valorização futura, especialmente diante de eventuais mudanças no cenário político que favoreçam uma retomada da confiança na gestão do banco.
Ainda assim, Zanott reconhece que há riscos envolvendo o Banco do Brasil. “Após a piora dos resultados, a tese de investimento se tornou mais arriscada, uma vez que a recuperação pode ser mais lenta ou até mais profunda do que o mercado inicialmente previa”, diz.