Para o analista do BTG Pactual, Eduardo Rosman, o banco reportou um conjunto de números muito fraco, com o lucro do Banco do Brasil 20% abaixo do esperado pela casa. Segundo o especialista, esse resultado negativo aconteceu por causa da piora na carteira de crédito do agronegócio e da implementação da Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) n.º 4.966 – que obriga bancos a antecipar provisões no balanço –, que afetou o BB muito mais do que seus pares.
“A magnitude do impacto foi maior do que o previsto, chegando a quase R$ 1 bilhão. É importante ressaltar que é muito comum a concessão de períodos de carência em empréstimos para o agronegócio, o que explica por que o BB foi mais afetado do que seus pares pela mudança nas regras contábeis”, diz Eduardo Rosman, que assina o relatório do BTG.
O Banco do Brasil teve margem financeira bruta de R$ 23,88 bilhões no primeiro trimestre de 2024, queda de 7,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A rentabilidade, medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês), foi de 16,7%, queda de 5 pontos porcentuais na comparação com o mesmo período do ano passado, quando estava em 21,7%.
A equipe da Genial Investimentos diz que a queda da margem financeira bruta do BB foi causada por um ambiente de juros elevados, que elevou o custo de capitalização do banco. Além do desempenho mais fraco da Tesouraria do Banco Patagonia, que somou R$ 1,3 bilhão no trimestre, baixa anual de 57,4%, refletindo a normalização da operação após os ajustes macroeconômicos recentes na Argentina.
Inadimplência do agro pesa e Banco do Brasil revisa projeções
A companhia gerida por Tarciana Medeiros viu sua inadimplência acima de 90 dias chegar a 3,9%, alta de 1 ponto porcentual na comparação com os 2,9% do mesmo período do ano anterior. O indicador foi puxado pelo agronegócio, cujos calotes atingiram 3,04%. Em meio a esse cenário, as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), dinheiro destinado para cobrir a falta de pagamento dos clientes, ficou em R$ 10,15 bilhões no primeiro trimestre de 2025, alta de 18,9% na comparação com o mesmo período de 2024.
Com toda essa turbulência, o banco anunciou que revisará suas projeções de margem financeira bruta, provisões e lucro líquido. No começo de 2025, o BB havia estimado lucro entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões. No entanto, devido à crise no agronegócio, a instituição financeira não sabe dizer qual será agora o novo patamar de ganhos. Para os analistas da Genial, mudança no guidance (previsões) aumenta ainda mais a incerteza sobre a empresa.
“Diante de um cenário mais desafiador e incerto, vemos possibilidade de deterioração adicional dos resultados ao longo de 2025 — especialmente com a expectativa de agravamento do ciclo de inadimplência em algumas carteiras no segundo semestre, pressões persistentes sobre a qualidade dos ativos no agronegócio e maior dificuldade de crescimento de receita”, apontam Eduardo Nishio, Nina Mirazon e Luis Degaspari, que assinam o relatório da Genial.
Como ficam os dividendos do Banco do Brasil?
Os analistas do Safra dizem que esperam uma reação negativa do mercado após os números do trimestre e mudanças no guidance, o que pode causar um risco de queda para as estimativas do banco de investimentos para o lucro líquido da empresa. Os especialistas lembram que dada a incerteza de como a carteira de agronegócio e os demais indicadores em revisão devem se comportar, o melhor é não comprar o papel.
Por isso, o Safra tem recomendação neutra para a ação BBAS3 com preço-alvo de R$ 30,00 para o fim de 2025, alta de 2% na comparação com o fechamento de quinta-feira (15), quando a ação encerrou o pregão a R$ 29,40. Para os dividendos do Banco do Brasil, os analistas tinham uma estimativa de pagamento de 9,6% do valor de mercado da empresa. No entanto, essa estimativa era válida com base no antigo guidance. Ou seja, a projeção de dividendos pode ser revisada após a empresa divulgar sua nova perspectiva de lucro para 2025.
A Genial Investimentos acabou revisando sua indicação para o ativo. Os analistas rebaixaram a recomendação de compra para manter, que é equivalente à neutra. O preço-alvo foi reduzido de R$ 40,30 para R$ 31,40, implicando uma alta de 6,8% na comparação com o último fechamento. Os analistas não revelaram nenhuma perspectiva de dividendos do Banco do Brasil diante do tamanho da atual incerteza que paira sobre a empresa.
O BTG vai praticamente na mesma linha. O banco diz que pensou em rebaixar as ações após analisar os resultados. No entanto, os especialistas da casa dizem que não acham que isso seja a melhor saída no momento. Para o BTG, a mudança na contabilidade provavelmente revelará mais cedo que o BB não tem um ROE sustentável acima de 20%. Por outro lado, o mercado não precificou a ação para isso.
O banco de André Esteves calcula que a empresa estatal tem ROE sustentável de 17,5% e, por isso, ainda prefere manter a calma. “Vamos digerir os números, a mensagem da administração e, com sorte, retornar na próxima semana com uma mensagem mais forte sobre o que fazer com a ação”, explica Eduardo Rosman, que assina o relatório do BTG. O banco deve divulgar sua revisão para o Banco do Brasil (BBAS3) em breve.