“Estamos observando resiliência da inadimplência do agronegócio terceiro trimestre. Fizemos um ajuste tático com mudança no guidance, pois foi necessário aplicar um freio de arrumação para superar essa inadimplência. No entanto, prevemos alguns efeitos positivos na provisão esperada a partir do final do quarto trimestre”, explicou Medeiros.
Segundo a executiva, a inadimplência reportada pelo Banco Brasil no agronegócio não poderia ser prevista nem nos piores modelos de estimativas para o banco. No segundo trimestre de 2025, o BB mostrou um agravamento da inadimplência e disparada anual de 103,8% nas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), que foram de R$ 7,8 bilhões no segundo trimestre de 2024 para R$ 15,9 bilhões no segundo trimestre de 2025. Esse dinheiro é destinado a cobrir os calotes dos clientes. A cifra causou uma redução de 60% no lucro líquido do Banco do Brasil, que encerrou o segundo trimestre em R$ 3,8 bilhões.
Medeiros também afirmou que segue em conversas com o Banco Central para mitigar os efeitos da resolução 4.966, que modifica a contabilização da inadimplência e das provisões. A executiva não deu detalhes da negociação, mas reforçou que o diálogo é realizado em colaboração com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Entenda o que é a regra e qual é o banco mais bem preparado para norma nesta reportagem.
Qual é a estratégia do Banco do Brasil para conter as provisões?
Já o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB, Felipe Prince, afirmou que o Banco do Brasil vem tomando medidas para reduzir as perdas com a inadimplência do agronegócio. Segundo o executivo, a companhia aumentou a exigência de garantias reais em imóveis da Safra 2024 e 2025 de 31% para 60% na safra 2025 e 2026.
“Estamos promovendo uma migração gradativa do portfólio de hipoteca para alienação fiduciária, como forma de fortalecer ainda mais a segurança das operações. Atualmente, 6% do portfólio é originado do setor agrícola, mas esse segmento é responsável por 29% da variação da inadimplência do banco”, disse Prince.
Mesmo com esses pontos, ele ressalta que a inadimplência na carteira do agronegócio respingou na carteira de pessoas físicas. Segundo ele, isso é resultado de venda cruzada de produtos e serviços do banco, o qual, ao mesmo tempo que melhora a rentabilidade da instituição, traz risco de cauda para outras carteiras de crédito.
“A inadimplência do agro carrega um pouco de inadimplência para a nossa carteira de pessoas físicas, porque o produtor rural ele financia veículos, o produtor rural ele toma crédito para outras finalidades, o produtor rural tem cartão de crédito conosco e é natural que no momento de dificuldade a inadimplência não se limite a produtos do agronegócio, mas ela também acabe afetando outras carteiras”, disse o executivo.
Segundo ele, o impacto é pequeno. “Está bem administrado mesmo que o banco esteja enfrentando a maior crise de crédito do agronegócio dos anos recentes”, afirmou. Prince acrescentou que, por conta desses problemas na carteira do agronegócio, o BB vem promovendo e seguirá implementando ajustes para corrigir essa rota e fazer com que essas carteiras ampliem a geração de margem líquida. “É bom a gente ressaltar que o banco é uma empresa cujo drive é a rentabilidade”, disse.
Prince afirmou ainda que o BB busca o equilíbrio do seu portfólio para dar sustentação à sua recuperação e que tal equilíbrio se dá pela contenção do risco e pela agressividade na recuperação do crédito.
Ajuda do governo para sanar problema do agronegócio é bem-vinda
A presidente do BB afirmou ainda que o banco conta com a ajuda e o apoio de seu controlador (o governo) para sanar as questões da carteira do agronegócio. Ela lembrou que o governo assinou a Medida Provisória n° 1.316 de 2025, que abre crédito extraordinário no valor de R$ 12 bilhões para o financiamento destinado à liquidação ou à amortização de dívidas de produtores rurais prejudicados por eventos climáticos adversos.
Segundo o vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, Gilson Alceu Bittencourt, a expectativa é que a instituição receba cerca de 40% a 50% dos R$ 12 bilhões abertos pelo governo.
Para Bittencourt, essa divisão será determinada por regulamentação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), gestor do recurso, esperada para os próximos dias. A estimativa, porém, considera que o montante deve ser ofertado para o mercado financeiro como um todo, de acordo com a participação das instituições financeiras.
“Ele é focado, basicamente, em produtores que estão localizados em municípios que tiveram perdas por problemas climáticos. […] Deve atender algo em torno de 1,1 mil cidades e os produtores desses municípios que tiveram essas perdas. A nossa participação no agro gira em torno de 50%, e pode variar um pouco nesses municípios”, disse.
Bittencourt destacou ainda que, fora os R$ 12 bilhões, a MP também permitiu que instituições financeiras prorroguem operações de crédito por até nove anos. Segundo ele, essa linha não tem limite e prevê que as instituições poderão usar seus próprios recursos a taxas livres, mas ainda classificadas como crédito rural.
A expectativa do banco é atuar com essa segunda opção especialmente com grandes produtores rurais, que têm valores de dívidas superiores aos R$ 3 milhões da linha subsidiada. Ele detalhou ainda que o BB tem hoje algo em torno de R$ 20 bilhões de inadimplência no crédito rural e em torno de R$ 50,57 bilhões em operações prorrogadas nos últimos anos.
Ele ressaltou, porém, que nem todas essas prorrogações vão gerar inadimplência. Concluiu que a previsão é resolver parte dessa inadimplência com a parte dos R$ 12 bilhões que for atribuída ao BB e o restante, com a opção de prorrogação.
Crédito ao trabalhador bate novo recorde
Durante o evento, Medeiros afirmou que a carteira do crédito ao trabalhador, que representa o crédito concedido por meio do consignado privado, chegou a R$ 8,8 bilhões até agora. “Isso significa que fizemos sete vezes mais do que a gente já tinha feito na história do Banco do Brasil de crédito privado em apenas seis meses da operação [do consignado privado]”, explicou a CEO do BB.
De acordo com ela, são 728 mil clientes que acessaram a linha, sendo que 15% por novos clientes. Tarciana notou ainda que as empresas estão fazendo a consignação lançando no salário do funcionário essa consignação no momento do pagamento do salário. “Então, uma escrituração acima de 95% é muito parecida com o que temos no setor público. E isso implica no índice de inadimplência baixíssimo”, acrescentou.
A executiva também afirmou que a carteira de negócios sustentáveis da instituição já atingiu R$ 396,5 bilhões, e projetou que ela chegue a R$ 500 bilhões até 2030. “Temos essa ambição”, disse, durante o BB Investor Day 2025. “Acho importante frisar que pretendemos evitar o desmatamento ou recuperar mais de 1,5 milhão de hectares de floresta degradada até 2030, já foram 800 mil hectares até agora”, acrescentou.
A CEO do Banco do Brasil destacou ainda que o uso intensivo de inteligência artificial no processo de crédito resultou em ganhos exponenciais na concessão de crédito seguro, aliando eficiência operacional e redução de risco. Além disso, o banco adotou uma política de desembolso seletivo, com foco na qualidade da carteira, e reforçou sua atuação judicial, quando necessário, para garantir a sustentabilidade das operações.
Em suma, o Banco do Brasil (BBAS3) vem buscando reconquistar a confiança do mercado após apresentar dois balanços poluídos pela inadimplência do agronegócio ao longo de 2025. Analistas do Itaú BBA e da XP Investimentos estimam que a empresa deve demorar para a recuperar. O Itaú BBA acredita que a empresa deve exigir paciência do investidor até 2027, já a XP espera a retomada do rendimento em dividendos de dois dígitos a partir de 2030.
*Com informações do Broadcast