O que este conteúdo fez por você?
- Diante das preocupações fiscais dos investidores e de novas altas da Selic, o Ibovespa amargou perdas acima de 10% em 2024
- No ano, a forte valorização do dólar, que já sobe mais de 27% em relação ao real, afetou diferentes ações brasileiras
- Entre os principais destaques negativos do índice, estão papéis de empresas do setor de educação
O Ibovespa enfrentou um cenário desafiador em 2024 e acumulou, no ano, perdas de 10,36%. O principal índice da B3 fechou o último pregão do ano em 120.283,40 pontos, bem distante do patamar de 132 mil pontos observado no início de janeiro. De lá para cá, inseguranças fiscais domésticas mexeram com a Bolsa brasileira.
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Quem observasse o desempenho do Ibovespa no final de agosto não diria que o índice terminaria o ano em queda. No dia 28 daquele mês, a grande referência da B3 atingiu o seu recorde histórico de encerramento: 137.343,96 pontos.
Desde então, muita coisa mudou. Em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic pela primeira vez em dois anos. Novos aumentos vieram nas reuniões seguintes: de 0,5 ponto percentual, em novembro, e de 1 ponto percentual, em dezembro. Com as decisões, a taxa básica de juros brasileira encerra 2024 em 12,25% ao ano.
Enquanto lidavam com uma aceleração da Selic, os investidores também aguardavam o pacote de corte de gastos do governo federal. As medidas, que deveriam ser inicialmente divulgadas após o segundo turno das eleições municipais, foram apresentadas apenas no final de novembro e decepcionaram o mercado.
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Em dezembro, as propostas sofreram desidratações durante a tramitação no Congresso Nacional, aumentando a cautela entre os investidores. O impacto se refletiu no câmbio: o dólar ultrapassou a marca de R$ 6 e passou a acumular alta de 27,34% em 2024. Diante desse movimento, o Banco Central tem realizado diferentes leilões para tentar conter a valorização da moeda americana.
As ações que mais sofreram em 2024
Em um cenário negativo para a Bolsa local, diferentes ações do Ibovespa foram pressionadas e acumularam perdas no ano. Um levantamento realizado com base nos dados do Broadcast elencou os cinco papéis que mais caíram em 2024 – veja aqui os que mais subiram no período.
O ranking contabilizou exclusivamente as ações que compõem o Ibovespa, devido à sua maior liquidez. Vale lembrar que ativos com baixa liquidez tendem a ser mais difíceis de negociar e apresentam maior volatilidade nos preços de compra e venda em um curto período de tempo.
Na ponta perdedora da lista, estão as ações da Azul (AZUL4), que despencaram 77,89% no ano. Confira os outros papéis que integram o levantamento:
Azul, a principal perdedora do Ibovespa
A ação com o pior desempenho do índice foi a Azul. No final de agosto, a empresa sofreu com as especulações de que poderia entrar com um pedido de Chapter 11 nos Estados Unidos – procedimento semelhante à recuperação judicial no Brasil. A companhia aérea negou a informação, mas destacou que passava por negociações ativas com seus principais stakeholders (partes interessadas em um negócio) para otimizar a estrutura de capital.
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Em outubro, a Azul informou que realizou um acordo com os seus detentores de títulos de dívida para o recebimento de recursos adicionais. O acordo permite que os atuais credores forneçam até US$ 500 milhões em nova dívida com garantias prioritárias. No mesmo mês, a empresa também fechou negociações com arrendadores e fabricantes de equipamentos originais (OEMs).
Mesmo com os acordos realizados, Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, explica que a empresa é muito vulnerável aos juros altos e ao câmbio. “Companhias aéreas têm estruturas de custo muito dolarizadas. São empresas que precisam fazer uso recorrente de dívidas. Gastam enormes quantias de recursos para manter seus ativos e para crescer”, diz.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, concorda que o dólar alto em 2024 foi um fator negativo para a Azul. “O câmbio pressionado é ruim para as empresas aéreas que compram petróleo em dólar e geralmente vendem passagens em reais. É complexo investir nessas companhias neste momento”, afirma.
Educação e varejo: os setores mais pressionados do ano
Entre os papéis de maior queda no Ibovespa em 2024, dois setores se destacam: o de educação, com Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3), e o de varejo, com Magazine Luiza (MGLU3). A empresa de turismo CVC (CVCB3) completa a lista de maiores baixas do ano.
Belitardo explica que essas companhias têm um fator em comum: apresentam receitas cíclicas – isto é, conseguem vender melhor seus produtos e serviços quando os consumidores apresentam uma maior renda, mas sofrem no cenário inverso. Essas empresas têm uma margem de lucro muito comprimida, sendo mais vulneráveis à alta de juros, inflação e dólar.
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No setor de educação, Mônica Araújo, estrategista de alocação da InvestSmart XP, observa que, apesar de Cogna e Yduqs terem baixa alavancagem, elas apresentam pequeno crescimento e desafios para expandir segmentos de atuação relevantes. “O crescimento de agora é realmente bem mais baixo. Não é um setor que vem sendo estimulado pelo governo como no passado.”
Já quando se trata do Magazine Luiza, Araújo pondera que a empresa tem feito uma reestruturação, com criação de novos ecossistemas e expansão do marketplace. Esse processo, porém, tende a ter mais efeitos no médio a longo prazo. Do lado negativo, a empresa sofre com a forte concorrência dentro do setor varejista e com o cenário de juros altos.