O que este conteúdo fez por você?
- Desde de 2015, o Magalu investe em tecnologia e direciona o seu crescimento para o comércio eletrônicos
- Os esforços tornaram a companhia do varejo em uma gigante do e-commerce e permitiu que as ações subissem cerca de 4 mil % em apenas cinco anos
- O problema é que as evoluções tecnológicas galgadas pelo Magalu não a isolaram dos problemas relacionadas ao varejo
A parceria entre o Magalu (MGLU3) e o AliExpress, do grupo Alibaba (BABA34), anunciada na segunda-feira (24), ganhou notoriedade no mercado ao mostrar a capacidade da varejista brasileira em buscar saídas para driblar as adversidades do varejo.
O acordo foi bem recebido pelos investidores e até ajudou as ações a ganharem fôlego na Bolsa. Apesar da estratégia ter sido avaliada como positiva, o mercado ainda espera movimentos mais ousados do Magalu em suas inovações, inclusive as tecnológicas, para retomar aos tempos de glória vivenciados antes da pandemia.
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A recente parceria prevê a venda de produtos do AliExpress nos canais digitais do Magalu. A varejista brasileira também terá a permissão de oferecer os seus produtos na plataforma do e-commerce chinês. O negócio visa ampliar a gama de produtos vendidos no marketplace da empresa e rendeu até elogios do mercado ao classificar a parceria como algo inédito.
“Enxergamos que o acordo traz uma relação de ganha-ganha em ambos os lados para o Magazine Luiza, tanto na visão em que o AliExpress comercializa os seus produtos dentro do seu marketplace quanto na visão onde a companhia é o seller (vendedor), atuando dentro da plataforma chinesa”, escreveram Iago Souza e Nina Mirazon, analistas da Genial Investimentos.
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A recepção positiva do mercado com a notícia direcionou as ações do Magalu para uma forte guinada na B3. Na segunda (24), quando a parceria foi oficializada, os papéis da varejista encerraram o dia com uma valorização de 12%, cotados R$ 12,16. O protagonismo do Magalu em pensar soluções para a crise do varejo se tornou uma característica de sobrevivência da companhia – já vista pelos analistas nos últimos anos.
Em 2014, a varejista brasileira criou o Luizalabs, um laboratório de tecnologia e de inovação focado em desenvolvimento de novos serviços e produtos voltados para o varejo. Após 10 anos, o departamento recebeu uma atenção especial dos controladores da companhia, quando o Magazine Luiza decidiu aumentar o seu capital em até R$ 1,25 bilhão em janeiro de 2024.
A operação contou com recursos da família Trajano, que entrou com um aporte de R$ 1 bilhão, e participação do BTG Pactual (BPAC11), o que garantiu um voto de confiança do mercado. Os recursos iriam reduzir as dívidas no curto prazo e fortalecer os investimentos em tecnologia que devem ajudar a varejista a enfrentar o período de crise do varejo.
“Os recursos podem promover uma transformação digital significativa e melhorar a plataforma de e-commerce, logística e a experiência do cliente. O mercado está cada vez mais focado e investindo fortemente em setores de tecnologia”, diz Rodrigo Fonseca, especialista da mesa de renda variável da RJ+ Investimentos.
A capacidade do Magazine Luiza de se reinventar
O Magalu conseguiu construir uma reputação sólida no mercado quando o assunto é tecnologia no varejo. Desde de 2015, quando adaptou o aplicativo Magalu para a versão mobile e integrou as vendas online com as 180 lojas físicas, a companhia sinalizou ao mercado que estava direcionando o seu desenvolvimento para o comércio eletrônico. O lançamento da plataforma de marketplace com a entrada de 50 parceiros que passaram a vender seus produtos dentro do site garantiu esse marco de transformação digital para a empresa.
A estratégia deu certo. Na época em que as mudanças aconteceram, as ações do Magalu valiam centavos e, em um intervalo de cinco anos, saltaram 4.000% na Bolsa. A alta permitiu que o papel fosse negociado a uma cotação máxima de R$ 272,30 no dia 5 de novembro de 2020. A gestora Alaska Asset Management se beneficiou com a valorização surpreendente da varejista e ganhou até fama no mercado financeiro por lucrar com sua posição em Magalu. Veja os detalhes da reportagem.
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O fim dos tempos de “glória” do Magalu encerrou com a piora do cenário macroeconômico. A alta inflação decorrente da pandemia da Covid-19 obrigou o Banco Central (BC) a dar início ao processo de aperto monetário. Os juros saíram de 2% em março de 2021 para 13,75% em agosto de 2022. A situação pressionou o setor do varejo com a elevação dos juros que tornou o custo do crédito mais caro no mercado e limitou o acesso a financiamentos.
Veja a performance das ações do Magalu (MGLU3) na bolsa de valores
Período | Retorno |
Desde a sua máxima histórica até maio de 2024 | -95,45% |
Desde o início da pandemia até maio de 2024 | -92,23% |
Acumulado de 2024 | -46,60% |
Acumulado de junho | -7,59% |
Fonte: Einar Rivero, CEO da Elos Ayta Consultoria e Broadcast |
“As taxas de juros elevadas tendem a desacelerar a economia, resultando em uma redução do consumo. Essa combinação pode pressionar as margens de lucro, fato que não agrada o mercado”, explica Fonseca. Agora, com o alívio da taxa de juros após a Selic estacionar no patamar de 10,50%, a companhia conseguiu dar sinais de recuperação ao mercado.
No primeiro trimestre de 2024, o Magalu apresentou um lucro líquido de R$ 279 milhões, revertendo o prejuízo líquido de R$ 391 milhões durante o mesmo período do ano anterior. “Avançamos, de forma expressiva, em indicadores financeiros que consideramos vitais para o sucesso sustentável: margens, lucro líquido e fluxo de caixa operacional”, informou a varejista no relatório de divulgação do seu balanço trimestral.
O problema é que os ganhos operacionais e a capacidade de se reinventar no setor do varejo ainda não foram suficientes para conquistar o mercado. As ações do Magalu continuam com perdas superiores a 40% em 2024 e mais de 7% em junho. Para Leonardo Cyreno, head de eficiência comercial & growth da AGR Consultores, os investidores esperam do Magalu uma inovação que seja capaz de deslocar a companhia das dores do setor do varejo.
“O Magalu é uma vanguardista em investimentos de tecnologia no varejo. Fez um excelente trabalho no passado, mas não conseguiu fugir dos pesos do varejo. Quando os juros sobem, a empresa sofre como os outros”, diz Cyreno. É neste ponto que mora o atual desafio da família Trajano: encontrar uma vertente tecnológica que seja capaz de gerar renda ao passo de não sofrer com as mudanças dos ciclos econômicos. Ou seja, garantir uma virada-chave no modelo de negócio da companhia.
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As tentativas estão sendo feitas. A empreitada mais recente que mira nesse objetivo é o Magalu Cloud. Em abril, a companhia lançou os três primeiros produtos: o Object Storage (serviço de arquivamento e backup de dados), o Turia IAM (serviço de gerenciamento de identidades e acessos) e o ID Magalu (plataforma de single sign on). Por enquanto, os itens estão disponíveis apenas para as regiões Sudeste e Nordeste, mas há a previsão de expansão desse segmento ainda este ano.
Para Cyreno, a entrada do Magalu nesse segmento se mostrou uma decisão ousada e que pode ser interessante quando o modelo de negócio estiver mais maduro. Ainda assim, a empresa se esbarra na capacidade de financiar os seus projetos. “Para se ter uma escala muito grande nesses negócios, é preciso ter uma alavancagem muito grande em tecnologia”, reforça o especialista.
Já Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, enxerga que a saída para o Magalu está no amadurecimento do seu marketplace, vertente de negócios que tem se comportado como uma avenida de crescimento para a companhia. Isso significa que uma solução tecnológica não deve garantir sozinha a retomada ao topo para a varejista, mas pode agregar valor às sua plataforma e garantir uma maior sustentabilidade financeira no médio e longo prazo. “O Magalu conseguiu estruturar bem o seu marketplace. Não só com as ferramentas de pagamentos, mas com as outras soluções que estão sendo implementadas”, destaca Sanchez.
Vale o risco?
A reputação de se reinventar no setor do varejo e a melhoria operacional do Magalu ainda não foram suficientes para sustentar uma recomendação de compra do papel para alguns analistas de mercado. Há dúvidas sobre a capacidade de a companhia em “navegar” o cenário macroeconômico desafiador e ainda assim agregar valor à carteira dos investimentos. É o caso da XP, que mantém recomendação neutra para as ações do Magalu mesmo com a recente parceria da AliExpress.
“O anúncio sinaliza que o cenário competitivo e as perspectivas de crescimento dos marketplaces estrangeiros estão mais desafiadores no País, com a consolidação como um movimento para lidar com o imposto de importação recentemente aprovado e a chegada de Temu (e-commerce estrangeiro)”, avaliou a corretora.
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O Itaú também mantém uma recomendação neutra para o papel e estabelece um preço-alvo de R$ 15. Já a Genial Investimentos está mais otimista e acredita que as perspectivas de lucro operacional do Magalu sejam mantidas. Por essa razão, a corretora tem uma recomendação de compra para as ações com um preço-alvo de R$ 19,50.
Colaborou Beatriz Rocha