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- As três ações que mais perderam preço na semana foram Cogna (COGN3), Sabesp (SBSP3) e Embraer (EMBR3)
- Os papéis da Cogna recuaram após a apresentação dos resultados do último trimestre, considerados fracos por casas especializadas
- Já contra a Sabesp pesaram declarações emitidas pelo governador paulista, João Doria, lidas pelo mercado como um sinal de que a privatização da companhia ficou mais distante
O Ibovespa encerrou a sessão e a semana bem perto da estabilidade, refletindo a cautela que se impôs aos investidores em agosto, interrompendo até aqui quatro meses de recuperação vigorosa desde as mínimas de março.
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Nesta sexta-feira, os dados de atividade mais fracos na Europa, no momento em que o número de casos de Covid-19 volta a crescer no continente, contribuíram para que o Ibovespa seguisse em baixa moderada a maior parte do dia, fechando praticamente no zero a zero, aos 101.521,29 pontos, em leve alta de 0,05%. É um avanço de 0,17% na semana e um recuo de 1,35% no mês e 12,21% no ano.
“A impressão é de que no curto prazo não teremos grandes variações. O que devemos ver nas próximas semanas são altas até os 103 mil pontos e quedas até os suportes de 99 mil e 98 mil pontos. Esse movimento deve se manter até que algo aconteça, algum gancho para que o Ibovespa retome direção, de queda ou alta”, diz Fernando Góes, analista gráfico da Clear.
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Apesar de a Câmara dos Deputados, conforme esperado, ter confirmado ontem o veto presidencial a aumentos salariais para o funcionalismo até o fim de 2021 – o que traz algum alívio à percepção de risco -, a situação fiscal permanece como principal incógnita para a precificação dos ativos, na medida em que é parte do problema e também da solução, no que diz respeito ao ritmo de retomada do nível de atividade, observa o economista Renato Chain, da Parallaxis Economia.
Para dar sustentação à retomada, o governo está diante de um trade off de sintonia complexa, observa Chain: se retirar os estímulos ao consumo que põem em risco o equilíbrio fiscal, joga no chão a incipiente retomada em meio à pandemia; se perpetuá-los em níveis insustentáveis para as contas públicas, a resposta tem sido a observada nos preços dos ativos – inclinação dos juros, depreciação do real e desorientação para o Ibovespa.
No balanço da semana, quem levou a pior foram os papéis de Cogna (COGN3), Sabesp (SBSP3) e Embraer (EMBR3). Confira o que afetou o desempenho de cada um deles.
Cogna (COGN3): -8,76%
As ações da Cogna Educação tiveram a maior queda da semana. Pesaram contra o papel os números do trimestre divulgados na noite de quinta (20). Na visão do Citi, a empresa trouxe um “conjunto fraco” de resultados, com queda de 81% no Ebitda recorrente no comparativo entre mesmos trimestres, enquanto a casa estimativa retração de 63%.
A antiga Kroton Educacional reportou prejuízo de R$ 451,971 milhões no segundo trimestre, revertendo o lucro de R$ 139,838 milhões do mesmo período de 2019. O Ebitda ficou negativo em R$ 139,485 milhões, com impacto do “prejuízo com a venda da conta de garantia (escrow) vinculada à aquisição da Somos”, além da maior provisão para créditos de liquidação duvidosa no ensino superior.
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Na quarta (19), relatório do Credit Suisse para o setor conferiu recomendação outperform (acima da média do mercado) para a rival Yduqs e underperform (abaixo da média do mercado) para a Cogna, com preços-alvo de R$ 38 e de R$ 6, respectivamente, 21% acima e 13,8% abaixo do último fechamento.
O analista Mauricio Cepeda escreveu que a Yduqs está mais bem posicionada no setor em meio à crise por ter adotado um viés mais conservador e de proteção ao balanço. Já a Cogna, segundo ele, aumentou sua alavancagem ao fazer uma série de aquisições e corre mais riscos por ter substituído o Fies por financiamentos próprios aos alunos, gerando uma grande quantidade de recebíveis.
Sabesp (SBSP3): -8,03%
Uma fala do governador João Doria sobre a Sabesp gerou dúvidas no mercado a respeito da esperada privatização da empresa de saneamento, e os papéis passaram a cair – registraram a segunda maior queda do Ibovespa tanto na quarta (19) como na quinta (20).
O tucano afirmou que a empresa entrará em uma nova etapa de capitalização para disputar concessões em outros Estados. Ele não deu mais detalhes a respeito da operação, e essa falta de informações assustou o investidor: após a aprovação do novo marco legal do saneamento, o mercado vinha se ressentindo das poucas novidades a respeito da venda da empresa, prometida por Doria desde o início de seu governo.
Com a manifestação do mandatário, parte dos agentes ficou com a impressão de que a venda pode não sair.
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“Desde que o Doria assumiu, ele fala que vai privatizar, que dependia do marco regulatório para isso. Mas se capitalizar, ela continua estatal e fica como está”, disse Vitor Sousa, analista do banco Brasil Plural.
Para Ilan Arbetman, da Ativa, pesou mais a falta de detalhes do que as possíveis interpretações que se poderia extrair dela. “O sentimento do mercado pode ser de que a capitalização não será como o esperado, mas ela é o movimento mais lógico do governo para viabilizar os investimentos agora.”
As declarações do governador vieram em um momento em que se dissipam as esperanças com privatizações no curto prazo tanto em nível estadual quanto no federal, o que explica também a correção das ações da Eletrobras.
“O ponto é que o mercado está começando a ver que as privatizações vão demorar mais do que se previa”, disse Gustavo Almeida, analista de ações da Spiti. “Esse ágio que havia nas ações por causa da privatização está sumindo.”
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Na madrugada de quinta-feira (20), a concessionária de água e esgoto divulgou um comunicado oficial do governo paulista, dizendo que o acionista controlador aguarda a análise dos vetos do marco legal do saneamento por parte do Congresso para definir seus próximos passos.
“A leitura do mercado é que tanto o processo de capitalização como o de privatização serão demorados. Ou seja, já não se vê uma perspectiva de privatização para a Sabesp no curto e médio prazo”, diz Paloma Brum, economista da Toro Investimentos.
Embraer (EMBR3): -5,73%
As ações da Embraer tiveram o terceiro maior recuo da semana, em que pese não ter havido nenhum fato relevante a dominar o cenário nesse período. Na prática, elas têm flutuado ao sabor das expectativas sobre o desenrolar da pandemia, que afeta diretamente o setor de viagens.
Na semana retrasada, por exemplo, os papéis se desvalorizaram fortemente em meio a dúvidas sobre a recuperação da empresa em meio à crise.
Como o preço ficou atraente, os investidores recompraram posições, o que ajudou a corrigir os valores. Ainda na semana passada, quando a Rússia anunciou ter feito o registro da primeira vacina, a notícia também fez preço em EMBR3, que subiu. Mas os ganhos foram devolvidos nesta semana.
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*Com Estadão Conteúdo