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Via (VIIA3): como briga dos Klein afeta ações da dona das Casas Bahia

Detentora da rede Casas Bahia, a companhia pode sofrer mais consequências pela rixa que se tornou pública

Via (VIIA3): como briga dos Klein afeta ações da dona das Casas Bahia
(Foto: Ricardo Prado/Estadão)
  • Maior acionista da Via, com 10% das ações, Michael Klein está em conflito com o filho Raphael, presidente do Conselho de Administração
  • A desavença prejudica a empresa nem tanto pelo impacto no preço das ações, mas pelo reflexo nos resultados da empresa
  • A Via afirma que os pontos questionados por Michael Klein sobre a remuneração de executivos foram aprovados em assembleias de acionistas

Roberta Picinin, especial para o E-Investidor – Nas últimas duas semanas, o maior acionista da Via e detentor de 10% das ações do grupo, Michael Klein, tornou pública uma briga familiar com seu filho Raphael, presidente do Conselho de Administração da empresa.

A desavença está relacionada ao descontentamento de Michael com a remuneração dos executivos da companhia, que saltou dos R$ 77,83 milhões em 2021 para os atuais R$ 105 milhões. De acordo com analistas ouvidos pelo E-Investidor, a briga familiar tem pouca influência no preço das ações da Via, mas impacta nos resultados da companhia.

A Via (VIIA3) é dona das marcas Casas Bahia, Ponto (anteriormente chamado de Pontofrio) e Bartira, além de ser responsável por administrar o e-commerce da rede Extra. No pregão desta terça-feira (26), as ações da Via recuaram 6,75%, para R$ 2,35. Em julho, os papeis somam alta de 22,4%, enquanto que no ano os ativos registram queda acumulada de 55,05%.

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Há um ano, a remuneração dos executivos e de conselheiros do grupo era constituída por uma proporção de 80% em ações. Neste ano, 48% da remuneração total será composta de papéis da Via, segundo informações da companhia.

De acordo com a Via, o valor total aprovado em assembleia para 2022 nada mais é que um teto global máximo de remuneração. “Apenas 34% dos valores publicados de 2021 corresponderam ao montante efetivamente pago. A maior parte do montante de remuneração esteve atrelada a incentivos de longo prazo”, afirmou o grupo ao E-Investidor.

“A crítica de Michael Klein é muito mais em relação ao momento em que a empresa está versus ao que aconteceu, mas visando o lado dele como acionista, visto que a empresa está pagando uma dívida muito alta”, afirma Vitor Miziara, sócio da Criteria Investimentos e colunista do E-Investidor.

Para Matheus Jaconeli, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos, a desavença familiar se tornou um fator prejudicial para a empresa e, principalmente, para os investidores que vão evitar colocar dinheiro na companhia. “Pode ser ruim tanto do ponto de vista pela cotação de preços quanto pelo ponto de vista da governança”, diz o especialista.

Em meio às brigas, ficou em evidência para o mercado a dificuldade da companhia em gerar caixa.

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“Ainda não se tem uma posição exata sobre a oscilação das ações. Se a empresa se reposicionar, pode ser que melhore, mas o risco é muito grande. Não temos recomendação no momento para o investimento”, diz João Abdouni, analista da Inv. “Se a empresa continuar com endividamentos elevados, ela pode encaminhar para um cenário que culmina para recuperação judicial. É uma possibilidade, o cenário para o setor não está bom.”

Neste trimestre, a Via registrou o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) operacional ajustado de 10,2%, o equivalente a R$ 758 milhões, um aumento de 30% sobre o primeiro trimestre de 2021. Segundo relatório de Resultados Trimestrais da empresa, o recurso é suficiente para fazer frente às despesas financeiras registradas no trimestre.

De acordo com Jaconeli, os resultados deste ano foram melhores do que o esperado para a companhia em relação ao lucro operacional. Porém, ao olhar para as receitas, houve queda de 9% em relação ao último trimestre de 2021. Quando comparado ao mesmo período do ano passado, o recuo foi de 2%.

Dívidas na mesa

O endividamento de R$ 4,6 bilhões da Via se deve à captação de recursos para investimentos internos e contas a pagar. A  companhia conta hoje com R$ 5,2 bilhões de caixa, de acordo com André Zonaro, analista da Nord Research. “A Via teria caixa suficiente para pagar todas as suas dívidas. O problema é que aproximadamente R$ 3,2 bilhões a receber são de cartões, ou seja, compras que estão para entrar mas ainda não geraram caixa efetivo.”

Hoje, a Via Varejo precisa juntar cerca de 11,54 Ebitdas para pagar sua dívida. O número é pouco mais que o dobro em comparação à concorrente Magazine Luiza, que necessita do equivalente a 5,28 vezes o Ebitda para quitar os débitos. “A sustentabilidade do endividamento da Via é menor, o setor é de risco e dá pra ver hoje qual empresa está mais sensível ao momento”, diz o Jaconeli.

Entretanto, apesar dos recursos não utilizados do caixa para o pagamento de dívidas, o relatório indica uma melhora na percepção da empresa em virtude da redução de custos e despesas, o que pode ser uma boa estratégia em um momento de falta de aumento nas vendas. “A diminuição de tais variáveis contribui para a melhora de indicadores como o Ebitda”, afirma. Segundo Jaconeli, pensando neste cenário, a inflação e os juros elevados continuam como pontos de atenção apesar do bom desempenho das ações no curto prazo.

E para quem é acionista?

Segundo Zonaro, a notícia da briga familiar não impacta tanto nos resultados das ações, mas o que tem mandado na cotação da Via ao longo do tempo é uma mistura entre resultados micro da companhia, ou seja, a evolução que ela não tem conseguido entregar nos seus resultados aliada a um cenário macro mais desafiador. “Independentemente da briga com o Klein, a discussão não tem nenhuma relevância estrutural para o resultado. A Via Varejo, assim como as demais varejistas, estão encontrando dificuldades em apresentar resultados melhores”, afirma.

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“Não é por essa remuneração de R$ 100 milhões dos diretores que faz mudar a visão de quem está investindo ou não. É um momento de um pouco de cautela e meio neutro para as empresas do varejo, dado o cenário de mercado que deve continuar pressionando o setor por pelo menos mais um ano, por meio de inflação alta e juros altos”, diz Miziara.

O quadro prejudica as empresas de varejo que costumam apresentar margem menor, porque elas ficam no caminho entre a indústria e o consumidor e acabam por perder um pouco de margem e rentabilidade. “Esse modelo já é um negócio com margens mais apertadas e em cenários de inflação isso tende a ficar mais desafiador ainda”, complementa o analista da Nord Research.

A Via Varejo se manifestou com a matéria por meio da seguinte nota.

“Em relação à manifestação de um de nossos acionistas, Michael Klein, dono de 10% das ações da empresa, a Companhia reforça que se posicionou publicamente respondendo de forma técnica, com dados e números comprovados, cada uma das suposições levantadas no documento. Todas as alegações foram contestadas de forma transparente, ressaltando-se ainda que as deliberações questionadas foram aprovadas em assembleias de acionistas.” Veja o comunicado na íntegra.

Entenda a briga

De acordo com informações divulgadas pelo Estadão no dia 14 de julho, além da desavença, pai e filho não se falam há dois anos e a relação teria se deteriorado após o segundo casamento de Michael com a atual esposa, Maria Alice, mãe dos quatro filhos mais novos de Michael.

Segundo uma fonte próxima à família, que optou por não ser identificada, o relacionamento dos dois teve complicações assim que Raphael substituiu o pai na presidência do conselho da Via, no início da pandemia.

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Além disso, outro motivo de desavença foi o nascimento dos irmãos, filhos do segundo casamento com a atual esposa do acionista. Michael demorou em contar a Raphael sobre a gravidez de Maria Alice, o que gerou incômodo no filho que na época havia deixado a presidência da Via para trabalhar diretamente com o pai.

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