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- Os anúncios de emprego das empresas diminuíram consideravelmente. As demissões estão aumentando. E novos dados divulgados na sexta-feira (7) mostram que a criação de empregos nos Estados Unidos caiu para o nível mais baixo em quase um ano e meio
- Tudo isso são acontecimentos oportunos para o Federal Reserve, que vem tentando desacelerar a economia para reduzir a inflação generalizada e persistente
- No entanto, uma nova instabilidade geopolítica que ameaça renovar os picos dos preços da energia nas próximas semanas pode complicar o trabalho do Fed, levando a um período mais prolongado de demissões
Um mercado de trabalho robusto que contrariou as expectativas durante anos está mostrando sinais mais concretos de desaceleração.
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Os anúncios de emprego das empresas diminuíram consideravelmente. As demissões estão aumentando. E novos dados divulgados na sexta-feira (7) mostram que a criação de empregos nos Estados Unidos caiu para o nível mais baixo em quase um ano e meio.
Tudo isso são acontecimentos oportunos para o Federal Reserve, que vem tentando desacelerar a economia para reduzir a inflação generalizada e persistente. No entanto, uma nova instabilidade geopolítica que ameaça renovar os picos dos preços da energia nas próximas semanas pode complicar o trabalho do Fed, levando a um período mais prolongado de demissões que pode se transformar em uma recessão.
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“O ritmo das coisas está diminuindo, mas este é apenas o começo da descida”, disse Giacomo Santangelo, economista do site de vagas de empregos Monster. “Ainda estamos a 30 mil pés no ar e o medo é cair no chão e continuar caindo.”
Essa incerteza fez as ações despencarem na sexta-feira, pois os investidores estavam preocupados que o relatório do Departamento de Trabalho do país revelasse uma taxa de emprego mais forte e levasse o Fed a continuar aumentando de forma agressiva a taxas de juros. O S&P 500 caiu 2,8 %, enquanto o Dow Jones Industrial Average acabou o dia com queda superior a 2%. O Nasdaq, com todas as suas empresas de tecnologia, caiu 3,8%.
O número de empregos nos EUA cresceu em setembro pelo 21º mês consecutivo, e a taxa de desemprego permanece no nível mínimo da pandemia. A taxa de desemprego caiu de forma inesperada para 3,5% em setembro, uma baixa em relação aos 3,7% no mês anterior, mas isso aconteceu em parte porque mais americanos deixaram o mercado de trabalho ou pararam de procurar emprego.
Entretanto, várias grandes empresas estão pisando nos freios nas contratações e, em alguns casos, demitindo funcionários. O St.Vincent Charity Medical Center, em Cleveland, disse nesta semana que demitirá 978 funcionários. A Hardwick Clothes, a fabricante de roupas mais antiga do país, está desativando uma fábrica em Cleveland, no Tennessee, o que fará 129 pessoas ficarem desempregadas. E a Peloton, fabricante de equipamentos de ginástica para uso doméstico e uma queridinha durante a pandemia, está demitindo 500 trabalhadores, ou 12% de seu quadro de funcionários, em sua quarta rodada de demissões este ano.
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As escolas públicas perderam 21.700 empregos no mês passado, enquanto a indústria de caminhões teve uma redução de 11 mil postos de trabalho e o setor de seguros, 9 mil, segundo o último relatório de empregos do Departamento de Trabalho dos EUA.
Também foram registradas milhares de perdas de postos de trabalho no varejo, nos serviços jurídicos e na publicidade. No geral, os empregadores nos EUA adicionaram 263 mil empregos em setembro, consideravelmente menos do que a média anual de 420 mil empregos por mês.
Como um todo, as vagas de emprego no país caíram aproximadamente 10% em agosto, conforme as empresas de todos os setores adiavam seus planos. A Meta, empresa controladora do Facebook, por exemplo, está implementando um congelamento nas contratações. A gigante da tecnologia está fazendo uma pausa nas novas ofertas de emprego, contratando candidatos para vagas específicas de forma direta, aprovando transferências internas e até mesmo concluindo as graduações de seu programa de treinamento Bootcamp, de acordo com um memorando verificado pelo Washington Post.
“É uma desaceleração semelhante a uma recessão que estamos vendo na economia, impactando dramaticamente baluartes da tecnologia que vinham crescendo na velocidade de um foguete”, disse Dan Ives, analista da Wedbush Securities. “Agora, há algumas decisões difíceis que precisam ser tomadas, pois esperamos que alguns cortes significativos de gastos aconteçam em todo o Vale do Silício nos próximos três ou seis meses.”
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No geral, as demissões também estão começando a aumentar. Elas foram de 1,4 milhão em julho, para 1,46 milhão em agosto, de acordo com um relatório à parte do Departamento de Trabalho divulgado no início desta semana.
No condado de Humboldt, na Califórnia, Jolan Banyasz recentemente demitiu dois funcionários antigos de sua loja de roupas por causa de uma desaceleração dramática nos negócios. As vendas caíram 60% em setembro em relação ao ano anterior, e ela disse que há poucos sinais de que a demanda irá se recuperar tão cedo. Ela agora conta com um funcionário de meio-período.
“A queda tem sido constante, então, sem dúvidas, não estou contratando”, disse Jolan, dona da Sweet Grass Boutique. “O custo para se administrar um negócio está aumentando e isso me deixa apreensiva quanto ao futuro.”
As preocupações financeiras e a mudança das necessidades dos consumidores também estão motivando uma reconfiguração no St. Vincent Charity Medical Center, o hospital de Ohio que está demitindo mais de 90% de sua equipe. Os executivos dizem que tiveram dificuldades para dar conta dos gastos durante a pandemia e agora estão substituindo os tradicionais cuidados de internação por clínicas de cuidados primários e urgentes. Apenas cem funcionários dos quase 1.100 vão ser mantidos.
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“As mudanças radicais nos cuidados de saúde na última década criaram um ambiente desafiador”, disse o hospital em um comunicado à imprensa. “O aumento da demanda por atendimento ambulatorial, a queda no volume de pacientes internados e o crescimento da telemedicina, todos acelerados pela pandemia de covid-19, aumentaram a pressão financeira sobre o hospital.”
Além das demissões, muitos empresários dizem que estão reduzindo ao máximo os planos de contratação ou adiando-os completamente para quando se sentirem mais confiantes em relação ao direcionamento da economia.
Os receios de uma recessão global cresceram nas últimas semanas, conforme a maior inflação em décadas, a volatilidade do mercado e a crise na oferta de petróleo abalaram as economias do mundo. Na semana passada, uma coalizão de países produtores de petróleo liderada pela Arábia Saudita e pela Rússia concordou em reduzir a produção de petróleo em 2 milhões de barris por dia, a maior redução da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) desde o início da pandemia.
A expectativa é que a mudança eleve o preço da energia, embora não até os níveis observados no início de junho devido às contramedidas já em vigor.
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“Uma redução média de dois milhões de barris por dia deve elevar os preços da gasolina, mas não em um ritmo que traga de volta os preços de US$ 5 por galão”, escreveu Quincy Krosby, estrategista-chefe global da LPL Financial, em uma nota nesta semana.
No início deste mês, antes da mudança da Opep+, a previsão do próprio banco central americano para o crescimento econômico este ano foi revisada para 0,2%, o mais próximo que o país pode chegar de uma recessão sem entrar de verdade nela.
“De modo geral, as empresas estão se preparando bastante para a possibilidade de uma recessão”, disse Julia Pollak, economista-chefe da ZipRecruiter. “Elas estão focando em contratações essenciais, em vez de contratações adicionais. Mas muitas continuam a contratar, porque precisam realmente.”
Mesmo quando as empresas estão contratando, elas estão reduzindo os aumentos salariais e outros acréscimos de remuneração. O salário médio por hora aumentou em setembro, mas a uma taxa mais lenta de 0,3%, para US$ 32,46 por hora, um sinal de que os empregadores estão conseguindo atrair profissionais sem aumentar ainda mais os salários.
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“O mercado de trabalho superaquecido está perdendo aos poucos o fôlego, mas ainda está aquecido”, disse Guy Berger, economista chefe do LinkedIn. “O sonho de verdade do Fed é que isso continue – que o crescimento do emprego continue forte, mas a inflação subjacente caia –, embora eu tenha me tornado menos otimista quanto a essa possibilidade.”
Ressaltando o desafio do Fed, disse ele, está o fato de que leva meses para que as taxas de juros mais altas tenham efeito em toda a economia. Há receios de que, quando o sofrimento econômico se tornar evidente no mercado de trabalho, o banco central americano já tenha tornado as condições de endividamento severas demais, preparando o terreno para uma recessão.
Nos últimos 75 anos, houve um aumento abrupto na taxa de desemprego dos EUA antes de cada recessão, de acordo com Joe LaVorgna, economista-chefe da SMBC Nikko Securities America e ex-conselheiro econômico da Casa Branca no governo Trump.
“Quando a taxa de desemprego aumenta, isso acontece de forma repentina e veloz”, disse ele, acrescentando que espera uma recessão este ano. “O Fed não deve se sentir seguro com o mercado de trabalho historicamente aquecido de hoje.”
Harriett Logan tem uma dúzia de funcionários em sua livraria em Cleveland, a Loganberry Books. E embora queira fazer novas contratações, ela disse que está hesitante em fazer isso, pois tem medo que a economia azede.
No início deste ano, incentivada pelo rápido aumento das vendas de livros, ela encomendou mais títulos do que o habitual para o período de férias. Mas agora, com a queda no número de clientes, ela disse que está questionando sua decisão. Além disso, afirmou, gastar com um estoque extra significa ter menos dinheiro disponível para contratar novos funcionários.
“É uma faca de dois gumes: preciso de mais pessoas, mas não tenho certeza se as coisas vão vender rápido o suficiente para justificar a contratação de alguém”, disse ela, acrescentando que já fez três rodadas de novas contratações este ano. “E, sendo honesta, estou muito cansada de ficar entrevistando pessoas.”/ Tradução de Romina Cácia