O que este conteúdo fez por você?
- Opções de Copom têm dinâmica diferente das opções em ações, uma vez que envolvem a negociação de expectativas em vez de ativos
- Por ser um jogo de probabilidades, há muito espaço para especular sobre as decisões do BC
- O fator tempo influi neste negócio. O mercado de apostas gera liquidez para as operações das três reuniões seguintes
O Comitê de Política Monetária (Copom) indicou um novo corte de 50 pontos base na taxa Selic em sua próxima reunião dos dias 7 e 8 de maio, e de redução no ritmo para 25 pontos em 18 e 19 de junho. Pesaram as incertezas de cenários externo e interno que podem refletir em repique inflacionário. Mas, e se você fosse apostar, o quanto arriscaria nesse prognóstico de corte de 50 pontos base ou de 25?
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A pergunta não é apenas teórica. É possível casar uma grana neste palpite sobre as próximas decisões dos economistas do Banco Central, por meio das chamadas Opções de Copom. Essa possibilidade existe desde 2020 para as pessoas físicas, mas é difundida principalmente entre os traders e gestores. A aposta é alta e pode gerar grandes prejuízos para quem não souber o que está fazendo.
Antes de conhecer os ganhos e as perdas potenciais deste “jogo” criado pelo mercado financeiro, é importante saber o que são as opções de Copom. Essa aposta tem uma dinâmica um pouco diferente das opções em ações, uma vez que envolve a negociação de expectativas em vez de ativos. “O racional é apostar sobre qual vai ser a decisão do Copom”, resume Marcelo Augusto dos Anjos, CEO da Concórdia Asset.
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Em outras palavras, é um instrumento de especulação e, como tal, não é uma barbada como parece ser. Apesar de o Banco Central muitas vezes indicar qual será a magnitude do próximo corte ou do aumento de juros, não é uma tarefa simples ganhar essa aposta mesmo com o BC indicando o corte de 0,5 pontos, como o previsto para a próxima reunião. Tudo pode acontecer até lá.
Para se ter uma ideia, Marcelo da Concórdia diz que a média de acertos dele está “terrível desde março do ano passado”. Ele só conseguiu acertar a aposta de agosto, quando o Copom reduziu a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano.
“No ano passado foi o que mais me deu prejuízo, mas o fundo foi bem pra caramba, ganhamos em outras coisas”, diz, referindo-se ao fundo Concordia Harvest, que deu retornos de 22,4% aos seus cotistas em 2023 e 29,5% em 2022.
O histórico recente do gestor nas opções de Copom faz parte de sua estratégia. Ele diz que aposta nos chamados “pozinhos”, opções que valem R$ 2, R$ 3 e cuja probabilidade de ganho é ínfima, mas, no caso do improvável acontecer, o ganho é extraordinário.
O preço das expectativas
Por ser um jogo de probabilidades, há muito espaço para expectativas além do corte de 50 indicado pelo BC. É possível arriscar nas outras possibilidades de 20, 25, 75, 100 ou zero pontos base. De corte e de aumento também e as possibilidades têm preço.
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No direcionamento, o Copom deu a entender que a política monetária terá de ser tocada com cautela num momento de maior volatilidade, esperando um corte de 0,50 (cut50) na reunião de maio e com menor intensidade no encontro de junho, em tudo mais constante.
Este cenário de cut 50 é precificado em 93% de chances de acontecer, com 7% para todas as outras possibilidades na primeira reunião e de 34% de chances para a segunda.
Tomando esse quadro como base – e sabendo que um lote mínimo custa R$ 100 -, o apostador que seguir o guidance do BC vai pagar 93 vezes R$ 100 para ganhar 100% na primeira reunião em se confirmando o corte de 50. Ou seja, ele pagará R$ 9.300 para ter R$ 700 de lucro. Quem optar por um dos cenários de 7%, vai pagar 7 vezes R$ 100 (R$ 700) e, se acertar, leva R$ 9.300 de troco, menos os custos de operação.
Como no mercado sempre tem alguém que faz a aposta contrária, o vendedor do cenário gordo vai receber 93 mas, se perder, com o BC confirmando o corte, terá de pagar 100 ao comprador. Ou seja, quem vende tem pouco a perder, já que as probabilidades estão com ele. Quadro diferente para a aposta de 7, em que ele recebe R$ 700, mas terá de pagar R$ 10 mil no caso do menos provável acontecer.
Tempo é dinheiro
Um outro fator que influi neste negócio é o tempo, com o mercado de apostas gerando liquidez para as operações das três reuniões seguintes. O próximo Copom, cujas probabilidades estão em 93% para o corte de 50 pontos base (cut50) nesta semana, deverá subir para 94 na semana que vem, depois para 95, até chegar na véspera a 99.
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A dois dias da reunião, algum cenário de cauda é praticamente impossível de acontecer e ser refletido na decisão do colegiado a tempo. O contrário ocorre com as menores probabilidades, que vão diminuindo ainda mais ao longo do tempo. O fator tempo, portanto, permite negociações diárias, possibilitando arbitragens de preços.
As opções de Copom são conhecidas como opções digitais. Sua principal característica é a natureza do tudo ou nada. Se as condições especificadas forem cumpridas, o trader recebe o pagamento predeterminado. Caso contrário, ele perde o valor investido na opção.
Por isso, não é possível realizar estratégias de negociação, a exemplo de travas de alta, baixa e outras. “Não vão ter duas opções que vão dar exercício, é 0 ou 100”, diz Marcelo. Tudo é negociado no ambiente da Bolsa (B3) e garantido pela Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).
Como operar?
As chamadas opções digitais são bem comuns entre os traders, que apostam desta maneira nos campeonatos de futebol, na Fórmula 1 e até mesmo no Big Brother, mas apenas as Opções de Copom chegam ao investidor pessoa física.
As corretoras e os bancos de investimento, no entanto, preferem manter o serviço em um nível mínimo de visibilidade para o público em geral. Algumas não disponibilizam. As que oferecem, o fazem através das negociações de mesa ou balcão, em que o cliente precisa ligar para o operador, como é o caso do BTG e da Ágora.
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A ferramenta, basicamente especulativa, pode até ser usada como uma estratégia de proteção, mas seus efeitos são limitados. “Se o investidor estiver exposto a oscilações na Selic, é um instrumento interessante, porém, como se trata de um tudo ou nada, é importante ponderar o tamanho da aplicação”, opina José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School.