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- O corte na produção funcionará como um instrumento para manter os preços do petróleo em alta, mesmo com o aperto monetário em curso nas economias desenvolvidas.
- Decisão favorece as petroleiras, inclusive as do Brasil, já que a alta dos preços impulsionou as ações de companhias do setor
- A alta dos preços no mercado internacional causa uma pressão política para que a Petrobras segure os repasses ao consumidor final durante as eleições
Na quarta-feira (5), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) confirmou um corte de 2 milhões de barris por dia na produção de petróleo a partir de novembro. Essa é a maior baixa na produção da commodity anunciada pela entidade desde abril de 2020, quando a pandemia começou.
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Na prática, o corte na produção funcionará como um instrumento para manter os preços do petróleo em alta, mesmo com o aperto monetário em curso nas economias desenvolvidas. Trata-se de uma maneira de equilibrar a oferta em um momento em que a demanda pela commodity está arrefecendo frente a uma iminente recessão nos Estados Unidos e Europa.
A expectativa de redução na Opep+ vinha sendo precificada antes mesmo da reunião e, depois de confirmada, ajudou a elevar o preço do petróleo no mercado internacional. O Brent, que encerrou o mês de setembro cotado a US$ 87,96 o barril, alcançou os US$ 94,86 nesta quinta-feira (6) – um aumento de mais de 7% em menos de uma semana.
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A decisão pode ser lida a partir de dois prismas: no lado macroeconômico, gera maior temor com a inflação global; no micro, favorece as petroleiras, inclusive as do Brasil, já que a alta dos preços impulsionou as ações de companhias do setor. “Lá fora, a Chevron e a Exxon Mobil já sobem mais de 10% na semana (em dólares). Por aqui, no mesmo período, a Petrobras sobe 13% e a 3R Petroleum também sobe quase 20%”, destaca Jennie Li, estrategista de ações da XP.
O bom desempenho das ações da Petrobras tem ajudado inclusive a sustentar altas no Ibovespa, visto que os papéis da companhia têm um peso importante no índice de referência da bolsa brasileira.
A perspectiva de preços mais altos no Brent melhora o cenário das empresas do setor de petróleo em um momento em que parte do mercado começava a se questionar se o ciclo de altas da commodities poderia estar próximo do fim. Para analistas, as petroleiras vão continuar sendo boas opções ao investidor.
“O petróleo já vinha de um movimento positivo no ano, teve uma realização recente, mas voltou a subir neste início de outubro. Essa alta trouxe de volta nomes como PRIO (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3) e Petrobras (PETR4) como boas opções para os investidores locais”, afirma Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.
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O caso da Petrobras exige uma atenção especial do investidor, visto que a alta dos preços no mercado internacional causa uma pressão política para que a estatal segure os repasses ao consumidor final. Segundo o Estadão, membros da diretoria da empresa receberam uma sinalização do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, para que não haja reajuste no preço dos combustíveis até a realização do 2º turno, em 30 de outubro.
“Se o preço do petróleo voltar a US$ 100 o barril, a Petrobras, que tem reduzido consecutivamente o preço dos combustíveis desde a última troca do CEO, fica em uma sinuca de bico”, pontua Matheus Spiess, analista de ações da Empiricus Research. “A companhia já cortou 4 vezes o preço da gasolina, 3 vezes o valor do diesel, mas o preço do petróleo está subindo e o dólar está se fortalecendo”, diz.
Ainda assim, as ações da companhia estão com preço coerente com a geração de caixa que a estatal entrega. Por isso, assim como outras petroleiras brasileiras, também merecem espaço na carteira do investidor, avalia Spiess. “Mesmo em patamares de preço inferiores ao que a gente flerta agora, a Petrobras e outras empresas geram caixa. É um call legal para o investidor”, diz.
No médio prazo, o impacto deste corte na oferta ainda é incerto, avalia Noah Barrett, analista de pesquisa de energia e serviços públicos da Janus Henderson Investors. “Meu ponto de vista é que isso manterá os preços em níveis muito próximos aos atuais, com o risco de voltarmos a preços de três dígitos se virmos sinais de melhoria da demanda global (particularmente na China) e/ou uma redução significativa na oferta da Rússia à medida que os embargos contra o país começarem”.
De olho na inflação
O preço dos combustíveis é um fator determinante para a alta da inflação global. Desde o início do ano, quando a Rússia invadiu a Ucrânia e deu início à guerra no leste europeu, a cotação do barril de petróleo disparou.
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Em um mercado global cujas cadeias de suprimento já estavam pressionadas por causa da pandemia da covid-19, o resultado foi o aumento da pressão inflacionária pelo mundo.
O impacto foi tanto que até os bancos centrais de países desenvolvidos, como o Federal Reserve (Fed), dos EUA, e o Banco Central Europeu (BCE) precisaram recalcular a rota e iniciar uma trajetória de alta nas taxas de juros.
Se de um lado a alta nos preços do petróleo, causada pela redução anunciada pela Opep+, é positiva para as petroleiras, de outro, vai ser acompanhada com atenção pelas instituições monetárias. Segundo especialistas, ainda é cedo para dizer se o corte de 2 milhões de barris por dia causará algum impacto na inflação a ponto de exigir que os juros fiquem elevados por muito tempo. Mas também não ajuda.
“Não estamos vendo alívio imediato nas condições globais, o que reforça o tom mais cauteloso que os BCs de países desenvolvidos têm adotado. O movimento da commodity vai reforçar esse quadro vigilante”, diz Ricardo França, da Ágora.
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Spiess, da Empiricus, explica que os bancos centrais erraram ao dizer em 2021 que a inflação era transitória e agora pagam um preço por isso. Na visão do analista, a alta de juros já deveria durar mais um tempo, mesmo sem levar em conta o preço do petróleo.
Agora, com a perspectiva de subida nos preços, vai exigir um controle maior por parte dos BCs.“Movimentos como esse da Opep+ acabam prejudicando ainda mais eventuais flexibilizações da política monetária”, diz.