O que este conteúdo fez por você?
- A queda de Prates deve repercutir mal na bolsa de valores nesta quarta-feira (15) e a sinalização é de que as ações devem abrir em baixa
- A mudança também pode elevar a desconfiança do investidor com a empresa que tem lidado com uma tempestade nos últimos dias
- Na avaliação dos especialistas, a substituição também deve pressionar o câmbio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pegou o mercado financeiro de surpresa na noite de terça-feira (14) ao anunciar a demissão de Jean Paul Prates do comando da Petrobras (PETR4). A saída de Prates já era especulada e acontece um dia após a divulgação do balanço da estatal. A empresa terminou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 23,7 bilhões, uma queda de 37,9% em comparação com mesmo período do ano anterior.
Leia também
A causa da troca, apurou o Broadcast, se deve à cobrança por maior velocidade na execução dos projetos anunciados pela empresa. Após a decisão, o petista indicou para o cargo Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) durante o governo de Dilma Rousseff.
A queda de Prates deve repercutir mal na bolsa de valores nesta quarta-feira (15) e a sinalização é de que as ações devem abrir em baixa. “A demissão é um péssimo sinal porque mostra que a interferência política é enorme na companhia”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimento. “É lamentável e as ações devem cair.”
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Para Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, o investidor deve se preparar para um dia de baixa no Ibovespa. “Vamos ter um dia muito feio na bolsa de valores brasileira. O Ibovespa vai cair e isso vai trazer incerteza no ponto de vista de câmbio e juro, porque a Petrobras é uma estatal extremamente importante no Brasil”, diz Corleta.
A mudança também pode elevar a desconfiança do investidor com a empresa que tem lidado com uma tempestade nos últimos dias. “O efeito de curto prazo é a perspectiva que o preço corrente das ações deve ser descontado”, afirma o economista André Perfeito.
Na avaliação dos especialistas, a substituição também deve pressionar o câmbio.
“Óbvio que reverbera muito mal, porque no final do dia teve a fritura do Prates, uma interferência do governo, além de toda a polêmica recente em torno dos dividendos”, diz Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos, destacando a queda de quase 7% para os ADRs da Petrobras no fechamento do after market de Nova York na noite de ontem.
Publicidade
De qualquer forma, “é uma sinalização ruim”, observa o economista e CEO da Veedha, em momento no qual a Bolsa já sofre com os efeitos da saída de capital estrangeiro ao longo dos últimos meses.
“É preciso entender os motivos da decisão, e se ficar clara a motivação política, as ações da Petrobras vão sofrer muito nos próximos dias”, resume Pedro Lang, economista e sócio da Valor Investimentos. “O nome de Magda Chambriard tende a ser mal recebido pelo mercado”, diz Lang.
Entenda o desgaste de Prates no comando da estatal
A demissão de Prates é o ápice de uma série de conflitos com os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa. As brigas começaram logo no início da gestão de Prates, em janeiro de 2023, na disputa por vagas no Conselho de Administração da companhia. Silveira chegou a pedir a intervenção do presidente Lula para emplacar nomes da sua confiança, com a oposição do então presidente da petroleira, e acabou saindo vitorioso, elegendo nomes que haviam sido rejeitados pelo Comitê de Pessoas da estatal.
O segundo grande conflito envolveu a cobrança de Silveira para que Prates aumentasse a produção de gás natural no País, para tentar reduzir o preço do insumo. Silveira chegou a afirmar que estava havendo negligência por parte do presidente da Petrobras. O debate público sobre o assunto cresceu e se repetiu logo depois em discussões sobre o preço dos combustíveis, com Silveira sendo rebatido por Prates, que chegou a sugerir ao ministro que mudasse o estatuto da estatal para poder decidir sobre reajustes.
Em novembro do ano passado, outra discussão colocou os dois em lados opostos na aprovação do Plano de Negócios da Petrobras para o período 2024-2028. Os novos negócios em energias renováveis foram questionados pelos indicados de Silveira. Para acompanhar de perto o andamento dos projetos, o ministro avançou na indicação de cargos para os comitês da Petrobras, responsáveis por garantir a governança da companhia.
Publicidade
Mas o auge do conflito surgiu neste ano, com a decisão do governo de reter 100% dos dividendos extraordinários da estatal referentes ao ano passado. Prates defendia a decisão da diretoria, de distribuir apenas metade, como acabou ocorrendo, enquanto os acionistas minoritários queriam a distribuição total do provento.
A crise chegou ao presidente Lula, que ficou do lado de Silveira, agora apoiado pelo ministro da Casa Civil, e o cargo de Prates balançou pressionando o valor das ações da companhia. Menos de um mês depois, a gestão de Prates chegou ao fim, após um ano e quatro meses no comando da Petrobras.
*Com informações do Broadcast