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Como o mercado financeiro reagiu ao discurso de Lula na COP 27

Logo após a fala do presidente eleito, às 13h10, o Ibovespa caía 2,30%, aos 110.554,47 pontos

Como o mercado financeiro reagiu ao discurso de Lula na COP 27
Lula discursou por quase 30 minutos na COP-27, realizada no Egito, na primeira viagem internacional após a eleição. Foto: Nariman El-Mofty/AP
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  • O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta quarta-feira (16), na Cúpula do Clima (COP-27) da Organização das Nações (ONU), em Sharm el-Sheik, no Egito
  • No pronunciamento, Lula defendeu a retomada do papel do Brasil de portagonista na agenda ambiental e cobrou o cumprimento de acordos financeiros já firmados entre os países
  • Apesar de aplaudido na COP, o discurdo do presidente eleito passou batido no mercado financeiro, cujas atenções estão voltadas às incertezas fiscais na transição entre os governos

“A frase que mais tenho ouvido dos líderes de diferentes países é a seguinte: ‘O mundo sente saudade do Brasil’. Quero dizer que o Brasil está de volta”. Essa foi a mensagem principal do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (16), na Cúpula do Clima (COP-27) da Organização das Nações (ONU), em Sharm el-Sheik, no Egito.

Lula foi convidado a participar do evento pelo presidente do país sede, Abdel Fattah El Sisi, e era aguardado com expectativa por líderes de todo o mundo. Não só para representar o Brasil, visto que o presidente Jair Bolsonaro (PL) não compareceria, mas também para retomar o protagonismo brasileiro na agenda de sustentabilidade ambiental, que ficou de lado nos últimos quatro anos.

No pronunciamento de quase 30 minutos, o presidente eleito do Brasil falou sobre o desafio de enfrentar o aquecimento global em meio a múltiplas crises e cobrou ajuda financeira de países desenvolvidos às nações mais vulneráveis, com cumprimento de acordos já firmados em conferências anteriores. Com críticas duras à gestão de Bolsonaro, Lula falou ainda que o combate à mudança climática terá “o mais alto perfil na estrutura do próximo governo”, repetindo a promessa de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. Veja mais detalhes.

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Nesta quinta-feira, no Brasil, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin anunciou os últimos nomes que faltavam para compor a equipe de transição entre os governos. Entre eles, estão Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, e Joenia Wapichana, primeira mulher indígena eleita deputada federal no Brasil e cotada como um das principais apostas para assumir o novo Ministério dos Povos Originários.

A visão do mercado

Mas se no Egito Lula foi ovacionado pela plateia de cerca de 300 pessoas que o assistiu discursar, por aqui a defesa do debate ambiental passou batida na Bolsa de Valores. Logo após a fala do presidente eleito, às 13h10, o Ibovespa caía 2,30%, aos 110.554,47 pontos.

“O mercado ficou indiferente ao discurso do Lula na COP 27”, diz Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest. “Tinha bastante coisa acontecendo fora a conferência, principalmente com o petróleo caindo lá fora e a incerteza com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição”, explica.

O foco do mercado agora está na discussão fiscal e como o novo governo fará para financiar todos os programas sociais prometidos. Uma incerteza que tem penalizado a Bolsa brasileira nas últimas semanas. “O movimentos observados na sessão de hoje, com a bolsa operando com forte baixa e os juros futuros em alta, sugerem que as atenções se concentram, na verdade, nos rumores sobre possíveis nomes para o Ministério da Fazenda, ou até mesmo a exclusão dos pagamentos de benefícios sociais do teto de gastos pelos próximos quatro anos”, destaca Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

Veja o que dizem fontes do mercado financeiro:

Alexandre Milen, CEO da Harami Research

“No que tange ao que pode acontecer no mercado financeiro de investimentos, tanto mundial quanto aqui no Brasil, acreditamos que não teve algum impacto bem importante, até porque todo mundo já conhece o Lula. Já conhece os dois mandatos que ele teve, as políticas que ele aplicava e ele não trouxe muitas novidades. Ficou faltando até informar quem deve ser o próximo ministro do Meio Ambiente. Então acreditamos que em relação ao mercado isso não vai afetar nada”.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS

“A fala do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, na COP 27, não trouxe novidades de impacto sobre os ativos, que repercutiram mais as preocupações com a situação fiscal, conforme noticiário sobre novos nomes da equipe de transição e sobre o texto da PEC. Especulações como o anúncio de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda não se confirmaram, com um discurso que entendo como protocolar ao ‘core’ (foco principal) da conferência.

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As preocupações com a situação fiscal do governo foram mais preponderantes sobre o desempenho do mercado, conforme saíram notícias sobre novos nomes da equipe de transição e sobre o texto da PEC, que tinha previsão de ser anunciada ao final do dia. O noticiário falou em gastos extras de R$ 175 bilhões para bancar programas sociais em 2023, com a manutenção do Auxílio Brasil fora do teto de gastos por quatro anos”.

Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest

“O mercado ficou indiferente ao discurso do Lula na COP 27. Tinha bastante coisa acontecendo fora a conferência, principalmente com o petróleo caindo lá fora e a incerteza com a PEC da Transição.

Alguns pontos que ele fala, principalmente sobre o investimento internacional, podem ter algum impacto ou repercussão, mas ainda é cedo. A gente não sabe nem quem vai ser a equipe ainda, então isso é pouco para fazer preço. De maneira geral, a sinalização em relação a colocar o Brasil de volta nas relações internacionais é positiva. Uma postura que já era esperada pelo mercado e que tende a ser bom no médio e no longo prazos para o País. Mas hoje, de fato, o mercado ficou indiferente.”

Matheus Pizzani, economista da CM Capital

“Elementos em seu discurso sugerem uma condução mais moderada não só da economia, mas da política como um todo. A exemplo da menção de ser necessário estabelecer uma parceria com o agronegócio, permitindo que o desenvolvimento do setor seja conciliado com maior proteção ambiental, ou até mesmo a necessidade de maior integração do Brasil com o mundo, movimento que pode beneficiar o País por meio do aumento da entrada de capital estrangeiro no Brasil.

Apesar disso, o mercado segue cauteloso em relação aos próximos passos que devem ser dados pelo governo de transição. Os movimentos observados na sessão de hoje, com a Bolsa operando com forte baixa e os juros futuros em alta, sugerem que as atenções se concentram, na verdade, nos rumores sobre possíveis nomes para o Ministério da Fazenda ou até mesmo a exclusão dos pagamentos de benefícios sociais do teto de gastos pelos próximos quatro anos.”

Régis Chinchila e Luiz Novaes, equipe de análise da Terra Investimentos

“O discurso do Lula não gerou uma reação nítida no mercado, pois os temas abordados pelo governante não têm impacto no curto prazo. A visita do novo presidente ao evento gera expectativa no mercado pela possibilidade de algum anúncio que tenha uma grande influência nos próximos anos, como a indicação de um ministro ou projeto com termos mais detalhados. A PEC ainda é o principal ponto de atenção dos investidores tendo em vista seu potencial sobre o crescimento da inflação nos próximos anos e, consequentemente, no aumento dos juros.”

Ricardo Carneiro, operador de renda variável da WIT Invest

“O discurso de hoje do presidente recém-eleito Luiz Inácio da Silva durante as atividades da COP-27 não trouxe grandes novidades. Lula foi bem enfático em demarcar o fim do governo Bolsonaro e a reversão de várias políticas, além de reafirmar a volta do Brasil para o plano internacional como um país cooperador.

Também reiterou o compromisso do Brasil com o combate crime ambiental e ao desmatamento, além de ressaltar que no País existem inúmeras oportunidades para investimento em energia renovável, o que é uma ótima sinalização para investidores estrangeiros e possíveis projetos nesse nicho.

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Do ponto de vista de sinalização para o mercado, não houve nenhuma grande novidade, todas as pautas levantadas já foram tratadas mais de uma vez. Além disso, o mercado está muito mais atento à possível divulgação da PEC da Transição e suas consequências para a política fiscal de 2023.”

*Colaboraram Artur Nicoceli e Maria Clara Matos.

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