- As moedas de alto beta, mais sensíveis ao apetite por risco e às condições econômicas globais, devem sofrer quedas frente ao dólar nas próximas semanas
- Citi adota uma postura cautelosa em relação ao euro, prevendo que a desaceleração global da manufatura afetará mais regiões fora dos EUA
- Pressões sobre os preços de bens industriais e energia, além do crescimento econômico, podem influenciar as futuras decisões do Banco Central
O Citi prevê um enfraquecimento do dólar americano no curto prazo, embora mantenha uma visão otimista sobre a moeda nos próximos um a dois meses. A corretora disse, em relatório, que as condições atuais do mercado não favorecem um fortalecimento amplo do câmbio, com moedas de refúgio, como o iene japonês, possivelmente tendo um desempenho superior, apesar de oferecerem uma relação risco e retorno pouco atraente para posições compradas no iene.
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A análise dos estrategistas do Citi também sugerem que moedas de alto beta — aquelas que tendem a ser mais voláteis e sensíveis às mudanças no apetite por risco dos investidores e nas condições econômicas globais — devem sofrer quedas mais expressivas frente ao dólar nas próximas semanas.
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O banco, por sua vez, adota uma postura cautelosa em relação ao euro, afirmando que a desaceleração global da manufatura pode impactar mais fortemente regiões fora dos Estados Unidos. Além disso, o Citi observa que a política monetária do Banco Central Europeu (BCE), com seu foco em um mandato único, pode resultar em uma resposta tardia às condições econômicas. No entanto, há sinais de que o BCE está começando a se preocupar mais com o crescimento, o que pode afetar o mercado de câmbio.
Essa perspectiva sobre o dólar e outras moedas surge em meio a um cenário global de alerta para os mercados, onde os bancos centrais precisam equilibrar pressões inflacionárias com a necessidade de impulsionar o crescimento. O Citi afirma que os investidores devem se preparar para uma volatilidade persistente e variações no desempenho de diferentes moedas.
Para onde vai a cotação do dólar?
Ao contrário do Citi, ao menos neste mês as previsões dos analistas financeiros indicam que o mercado permanecerá volátil, com os investidores monitorando de perto as decisões dos bancos centrais, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Um corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ou uma mudança inesperada na taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central (BC) podem influenciar a cotação do dólar. Em setembro, até o encerramento do pregão desta segunda-feira (10), a moeda americana exibiu queda de 0,15% na semana, baixa de 0,90% no mês e alta de 15,03% no ano.
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No cenário doméstico entram nessa conta a declaração do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em agosto, de que o dólar não está mais descolado dos fundamentos econômicos e que a autoridade monetária está comprometida a fazer o que for necessário para alcançar a meta de inflação, independentemente de quem estará na presidência daqui a quatro meses, quando o mandato dele chegar ao fim.
Seu provável sucessor, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 28 de agosto, comentou que a principal dificuldade enfrentada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) não está na necessidade de aumentar os juros, mas, sim, em lidar com a inflação acima da meta e as expectativas dos preços perdendo a âncora. Galípolo também enfatizou que a autonomia do BC não significa agir de forma arbitrária.
No ambiente internacional, o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no Simpósio Econômico de Jackson Hole no último dia 23, sinalizou uma mudança para uma postura mais dovish, que para o mercado significa um comportamento favorável a cortes de juros na política monetária do banco central americano.
Com IPCA no radar do mercado, dólar hoje inverte sinal de abertura e opera cotado acima dos R$ 5,60
O dólar hoje começou a inverter o sinal de abertura e às 10h10 já exibia alta de 0,35%, cotado a R$ 5,61 na venda. No início da sessão, a moeda americana apresentava leve queda de 0,15% em relação ao real, cotado a R$ 5,5736, dando continuidade às perdas registradas na sessão anterior.
Investidores avaliam, nesta terça-feira (10), os novos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto e aguardam com certa expectativa os números da inflação dos Estados Unidos que serão divulgados ao longo da semana.
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O IPCA, considerado a inflação oficial do Brasil, registrou queda de 0,02% em agosto, conforme dados divulgados nesta terça-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dois dos nove grupos analisados contribuíram para essa primeira deflação do ano, a menor desde junho de 2023 (-0,08%).
O grupo Alimentação e bebidas caiu 0,44%, puxando o índice geral para baixo em 0,09 ponto percentual (p.p.), enquanto o grupo Habitação recuou 0,51%, com uma contribuição negativa de 0,08 p.p. Juntos, esses dois grupos, que representam 36,53% do IPCA, foram determinantes para o resultado. O IPCA de agosto representa uma desaceleração em relação a julho, quando o índice subiu 0,38%. Em agosto de 2023, a alta foi de 0,23%.
Com isso, a inflação acumulada nos últimos 12 meses ficou em 4,24%, dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No acumulado de 2024, o índice registra alta de 2,85%. O resultado veio levemente melhor do que o esperado pelo mercado, que previa uma variação de 0% no mês e 4,26% em 12 meses.
Especialistas estão divididos quanto à manutenção ou aumento da Selic
Para o líder de de renda variável e sócio da A7 Capital, André Fernandes, com esses dados, o mercado deve seguir pressionando o Comitê de Política Monetária para aumentar os juros, mas, segundo ele, parte do mercado ainda acredita que uma manutenção seria o melhor movimento. “Com o IPCA melhor que o esperado e em deflação, e com o FED e Europa cortando juros, o Banco Central deverá ponderar bem se vale a pena dar o aumento que o mercado está pedindo, ou se a manutenção, com o juros já em território restritivo, seria o melhor movimento”, diz.
Até o fim deste ano, segundo o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, alguns pontos de atenção são direcionados para os preços dos bens industriais, que podem enfrentar uma leve pressão devido à recente desvalorização cambial, e a elevação dos preços de energia após o anúncio da vigência da bandeira vermelha 1 em setembro, em meio a uma piora no quadro hidrológico dos reservatórios.
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Outro ponto importante, conforme Sung, é o crescimento da economia. “Embora esse crescimento seja positivo para a atividade doméstica, pode gerar pressões inflacionárias ou retardar o ritmo de desaceleração. Diante de uma atividade econômica mais forte do que esperado, de uma inflação que, apesar do dado benigno em agosto, deve terminar o ano próximo da banda superior da meta, de expectativas de inflação desancoradas e uma taxa de câmbio acima de R$ 5,50, o BC deverá iniciar um ciclo de ajuste gradual da taxa de juros na próxima reunião, de 0,25 pontos percentuais, levando a Selic para 11,25% até o final do ano”, analisa.