Dólar cai com leilão do BC em mais um dia sem sinais de acordo entre Brasil e EUA
Em Washington, empresários americanos sugeriram um novo manifesto à Casa Branca pedindo o adiamento da tarifa. Juro elevado atraia investidores antes do Copom
O dólar hoje fechou em queda de 0,36%, a R$ 5,5695, com o real impulsionado pelas taxas de juros no Brasil mais atrativas que as dos Estados Unidos em semana de decisão de juros no país e nos EUA. O consenso dos analistas aponta para possível manutenção dos juros pelos dois bancos centrais, em meio a incertezas sobre o impacto das tarifas na inflação e na economia global.
O economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, disse que o real é unanimidade entre o investidor estrangeiro e o local pelo carry trade, por mais que a política tarifária do presidente Donald Trump tenha dado uma “bagunçada” nisto.
O Carry Trade é um mecanismo de investidores institucionais para obter lucro com base na diferença de taxas de juros entre dois países. O investidor toma um empréstimo em uma economia de juro menor e aplica o dinheiro em uma economia de juro maior. Essa operação costuma a trazer fluxo de capital estrangeiro para o Brasil, fazendo o dólar cair.
O mercado acompanhou mais um dia sem sinais de acordo comercial entre Estados Unidos e Brasil, faltando somente três dias para o início da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. O governo brasileiro tenta negociar a exclusão de itens sensíveis, como alimentos e aeronaves da Embraer, que utiliza peças americanas e tem forte presença no mercado dos EUA. O vice-presidente Geraldo Alckmin lidera as conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.
Ao longo do dia, o Banco Central (BC) vendeu US$ 1 bilhão em um leilão de linha (venda com compromisso de recompra) realizado nesta terça-feira (29), com o objetivo de rolar o vencimento de 4 de agosto. Duas propostas foram aceitas, e a taxa de corte foi de 5,3310%.
A oferta de dólares do Banco Central ocorreu na modalidade pós-fixado Selic. A taxa de câmbio usada foi de R$ 5,5810, equivalente à taxa Ptax (taxa de referência para as operações de câmbio no mercado financeiro) do boletim de 10h. As operações de venda serão liquidadas na próxima segunda-feira (4). As operações de compra serão liquidadas em 4 de novembro.
Com receio de inadimplência de exportadores devido ao tarifaço dos EUA, bancos brasileiros solicitaram ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, mais leilões de reservas internacionais em 2025. A medida visa garantir acesso a dólares e oferecer fôlego para renegociações de crédito. O BC e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) não comentaram, enquanto o Ministério da Fazenda expressou preocupação com os impactos cambiais de possíveis leilões, segundo apurou a Folha de S.Paulo.
Empresários pedem adiamento de tarifas
Em Washington, empresários americanos sugeriram um novo manifesto à Casa Branca pedindo o adiamento da tarifa, em reunião com senadores brasileiros, que também buscaram apoio da Câmara de Comércio dos EUA para viabilizar diálogo entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”, disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro sobre a movimentação dos senadores.
O presidente Lula admite falar com Trump, mas apenas se a ligação for direta. O Planalto avalia que Washington só deve negociar após a tarifa entrar em vigor, buscando vantagem. As tratativas com os departamentos de Comércio e Tesouro não avançaram, e o governo brasileiro rechaça pressões externas, incluindo sobre o Pix e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Além disso, o mercado de câmbio deve se ajustar à valorização persistente do dólar frente a seus pares principais e divisas emergentes, em meio às negociações tarifárias entre EUA e China, em Estocolmo. Mas o petróleo e o minério de ferro em alta podem atrair ofertas de exportadores e amenizar os ajustes da taxa de câmbio. Lá fora, os destaques na agenda são o relatório JOLTS de junho e o índice de confiança do consumidor de julho, nos EUA, ambos às 11h.
Ontem, o dólar à vista fechou em alta de 0,50%, a R$ 5,5899, sua maior cotação desde 4 de junho de 2025. O mercado refletiu a força do dólar contra moedas fortes, após acordo comercial entre EUA e UE com tarifa de 15%.