

Na Bolsa de Valores e na vida nada é linear. Algumas companhias já desapontaram no passado, mas corrigiram a rota e podem surpreender positivamente com pagamento de dividendos nos próximos anos. Caso da Eletrobras (ELET3; ELET6).
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Na Bolsa de Valores e na vida nada é linear. Algumas companhias já desapontaram no passado, mas corrigiram a rota e podem surpreender positivamente com pagamento de dividendos nos próximos anos. Caso da Eletrobras (ELET3; ELET6).
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A empresa, que antes de 2018 vivia épocas escassas em proventos, ganhou novos olhares após a privatização em junho de 2022. Mas o jogo mudou de fato no segundo trimestre de 2025 (2T25), quando anunciou R$ 4 bilhões em dividendos. O mercado passou a ver a companhia como potencial “vaca leiteira” – termo que se refere a organizações que geram fluxo de caixa consistente com pouco investimento necessário.
“O resultado do 2T25 marcou um divisor de águas para a Eletrobras. Foi nesse momento que a companhia se consolidou como um caso claro de geração de dividendos”, afirma João Zanott, analista CNPI da EQI Research.
Ele não foi o único a pensar assim. Por isso o E-Investidor foi atrás para entender se o investidor de Eletrobras está diante de uma boa oportunidade para a carteira de renda passiva.
A Eletrobras atua em três segmentos: geração, transmissão e comercialização de energia. No 2T25, a geração e comercialização responderam por cerca de 60% da receita regulatória total, enquanto a transmissão representou 40%, segundo Zanott.
“A Eletrobras tem 25% da capacidade de geração de energia elétrica do Brasil, sendo 90% hidrelétrica. É a maior representatividade na receita e geração de caixa da companhia”, explica Fernando Breciani, analista do AndBank.
O peso da geração tende a crescer nos próximos anos, favorecido pelo cenário de preços. “O preço médio de energia há dois anos era de R$ 100 por watt-hora (Wh) e, atualmente, a média 2025-2028 está em R$ 200”, diz Gustavo Wolf, sócio e analista da Meraki Capital.
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“Essa alta contribuirá com o resultado da Eletrobras, porque ainda tem uma parcela relevante de energia descontratada para vender – 22% em 2026 e 38% em 2027. E a empresa vai fechar contratos ao longo do tempo”, estima Wolf.
O segmento enfrenta atualmente o curtailment, limitação imposta pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para empresas inserirem energia renovável – como usinas eólicas e solares – na rede por conta de problemas técnicos ou econômicos.
Segundo Wolf, a Eletrobras tem 30% de exposição à Região Nordeste e já sentiu impactos do curtailment no 1T25, que tendem a diminuir nos próximos trimestres.
No entanto, Bernardo Viero, analista da Suno Research, pondera que os cortes não têm impacto substancial no futuro, já que 93% da capacidade comercial da Eletrobras vem de hidrelétricas, contra apenas 2% de eólica e fotovoltaica, o que mitiga os riscos.
O endividamento da Eletrobras está hoje em nível controlado, o que permite flexibilidade financeira para investir e pagar proventos, aponta Aurélio Sales, analista da VG Research.
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“No 2T25, a alavancagem da Eletrobras foi de 1,8x o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), enquanto a meta para a geração vai de 3x a 3,5x e para transmissão, de 3,75x a 4,25x”, explica Sales.
Para Zanott, a dívida nesse patamar pode ser considerada saudável e traz previsibilidade de caixa. Ainda assim, os empréstimos compulsórios seguem no radar. Esses passivos chegaram a R$ 26 bilhões em 2022, mas vêm caindo.
“Desde a privatização a empresa conduz um trabalho consistente para reduzir o montante da dívida por meio de acordos com credores e vitórias judiciais”, observa o analista da EQI.
Hoje o valor está em R$ 12 bilhões, impactando menos a alavancagem e as despesas financeiras, embora sujeito à correção monetária.
Segundo Bresciani, do Andbank, outro fator positivo veio do acordo com o governo que aumentou a participação de conselheiros na companhia em troca de retirar a obrigação da Eletrobras investir em energia nuclear, medida que favoreceu a alavancagem da elétrica – veja os detalhes nesta reportagem.
Com geração de caixa sólida e endividamento controlado, analistas projetam que a Eletrobras entregará cada vez mais proventos, podendo chegar a 15% de dividend yield (retorno em dividendos) nos próximos anos. Mas será que a vaca leiteira já está pronta ou ainda precisa crescer?
Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, o 2T25 já mostrou força: a companhia anunciou R$ 4 bilhões em dividendos. Com preços de energia mais altos, a tendência aponta para mais vendas e resultados melhores, além de crescimento dos pagamentos aos acionistas. Segundo ele, hoje a Eletrobras tem menos entraves.
“Antes da privatização, a companhia tinha empecilhos que a faziam vender energia a preços baixos e compulsórios muito grandes. Isso está sendo limpo, os compulsórios são menores e o nível de provisionamento no balanço é muito mais baixo”, afirma, ao citar medidas que contribuem com dividendos maiores.
Jayme Simão, sócio-fundador do Hub do Investidor, também vê espaço para crescimento dos proventos. Para ele, eficiência operacional, provisões sob controle, custos menores e maior comercialização de energia sustentam a tese da Eletrobras.
“Esse ano [2025] será de consolidação do caminho, com até R$ 7 bilhões em proventos distribuídos. Já 2026 tem uma janela mais clara para firmar a reputação da Eletrobras como pagadora recorrente à medida que a posição contratual melhora e a alavancagem permanece comportada”, defende.
Pedro Galdi, analista do AGF, explica que a política atual prevê pagamento mínimo de 25% do lucro líquido ajustado, com anúncios de distribuições geralmente em abril. Ele destaca que, após a privatização, a companhia vem buscando elevar o payout (parcela do lucro destinada a proventos) para entre 30% e 60%.
Em dezembro de 2024, a empresa divulgou fato relevante informando estudos sobre alocação e estrutura de capital, avaliando adotar dividendos trimestrais intercalares. A notícia animou o mercado, mas ainda não teve novos desdobramentos.
Procurada pelo E-Investidor, a Eletrobras não confirmou quando iniciam os pagamentos trimestrais, mas explicou que a metodologia de estudo para essa frequência de pagamentos considera um horizonte de cinco anos, até 2030, no qual são observadas a alavancagem, considerando estoque de empréstimos compulsórios, e obrigações regulatórias da privatização – como Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e bacias hidrográficas. A alavancagem também deve ficar em 3 a 3,5 vezes Ebitda na geração e entre 3,75 e 4,25 na transmissão. “A partir do quinto ano, no meio da faixa desse intervalo é feita a comparação de qual é a dívida ampliada sobre Ebitda e a alavancagem ótima projetada a frente, avaliando se há possibilidade de pagamento de dividendos”, afirma a empresa.
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Segundo a Eletrobras, o anúncio de R$ 4 bilhões de proventos no 2° trimestre de 2025 já foi resultado desta nova metodologia e refletiu a expressiva redução de risco da companhia na primeira metade do ano.
Para Galdi, a tendência é de que, assim que os programas de expansão avancem e a estrutura de capital se normalize, a relação da Eletrobras com acionistas melhore. “Os dividendos do 2T25 da Eletrobras já foram um sinal claro disso”, destaca.
Na visão de Simão, do Hub do Investidor, a adoção de política trimestral depende da governança da empresa e do mercado, mas provavelmente só aconteça em 2026. Bresciani, do Andbank, acredita que até 2027 a medida deve sair do papel, diante do bom histórico da gestão pós-privatização. “Vai depender apenas da Eletrobras se organizar melhor”, diz.
As estimativas para os próximos anos são otimistas. O Bradesco BBI projeta mais de R$ 3 bilhões em dividendos no segundo semestre de 2025. Para 2030, a expectativa chega ao intervalo de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões, com dividend yield entre 8% e 10% ao ano.
Segundo Viero, da Suno, a Eletrobras deve distribuir cerca de R$ 3 bilhões na segunda metade de 2025, consolidando payout próximo de 100% do lucro regulatório, mas ainda abaixo da geração de caixa.
“No longuíssimo prazo, a Eletrobras tende a ser mais conservadora e distribuir 75% da sua geração de caixa, podendo pagar sustentavelmente R$ 10 bilhões ao ano”, afirma.
Veja na tabela outras projeções:
Não apenas se vale investir agora na Eletrobras, mas também para qual estratégia (valorização, dividendos ou ambas) são as grandes dúvidas do investidor neste momento. Os analistas consultados têm visão positiva sobre a empresa.
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Para Simão, o momento operacional se mostra favorável, com Ebitda regulatório acima do esperado e custos sob controle. A ação ainda está descontada, negociando sob o múltiplo valor da empresa sobre Ebitda (EV/Ebitda) de 4,4 vezes para 2026.
Ele recomenda compra até R$ 50, com dividend yield projetado de 6% a 7% nos próximos 12 meses, podendo chegar a dois dígitos no médio prazo. Sobre valorização, apesar do papel ter subido 33,05% em 2025, fatores como evolução dos dividendos, melhora do mix contratual, preços de energia, eficiência e maior visibilidade do caixa podem levá-lo a R$ 60, na visão de Simão.
Arbetman, da Ativa, acredita que o crescimento dos dividendos pode impulsionar mais valorização nos próximos trimestres.
O único cético é Galdi, do AGF, que prefere aguardar que os efeitos da privatização da Eletrobras se consolidem. Ele sugere esperar até 2028 para ver o dividend yield subir. Atualmente projeta 2,21% de proventos nos próximos 12 meses.
“Tem outras opções mais atrativas no setor elétrico atualmente”, afirma.
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