- Gol (GOLL4) voltou à sequência de quedas nesta terça (19), operando em seu menor nível em mais de um mês
- Mercado vem reagindo mal ao anúncio da emissão de bônus de subscrição
- Negócio de nova controladora transforma a dívida da Gol em participação acionária
Nesta semana, as ações da Gol (GOLL4) ensaiaram um movimento de recuperação na bolsa após cravar o menor preço em mais de um mês no pregão da terça-feira (19), a R$ 6,34. O preço refletiu notícias que beneficiam o setor, com dólar e juros caindo e petróleo em dia de realização à espera do anúncio do FED.
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Apesar do respiro, os papéis da aérea amargam uma queda superior a de 10,25% nos últimos 30 dias, com as bancos de investimento cortando sua recomendação de compra. A expectativa é de mais volatilidade até a próxima semana, quando uma parte do imbróglio envolvendo a companhia terá um novo capítulo.
O mercado vem reagindo mal ao anúncio da emissão de bônus de subscrição, feito no fechamento de mercado dia 11 de agosto, uma sexta-feira. Na semana seguinte ao comunicado, a companhia chegou a perder 16,44% de valor de mercado, batendo a mínima de R$ 6,20, com os agentes precificando falta de adesão dos minoritários à proposta de aumento de capital da companhia. Eles têm até a próxima terça-feira (26) para exercer os bônus de subscrição.
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A iniciativa da Gol de emitir bônus de subscrição é vista como uma tentativa de a companhia reforçar seu caixa e posição financeira em um período turbulento. O mercado vê a estratégia com cautela, considerando o potencial impacto na participação dos acionistas minoritários e a percepção de que outras formas de capitalização poderiam oferecer uma diluição menor de suas ações e mais alinhadas ao interesse dos acionistas.
“A resposta definitiva sobre a estratégia adotada pela empresa só será conhecida no futuro, à medida que os resultados dessa operação se desdobrem”, diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Na quarta (20), o Goldman Sachs elevou a recomendação da concorrente Azul, mas em relação à Gol, o banco americano manteve posição neutra, cortando o preço-alvo de R$ 11,50 para R$ 7,60, segundo apurou o Broadcast. O JP Morgan já tinha feito o mesmo, reduzindo seu preço de R$ 12,50 para R$ 7.
Os analistas Wellington Lourenço e Larissa Monte da Ágora Investimentos acreditam que, com o papel sendo negociado a um preço mais baixo do que o desembolso exigido, a pouca adesão dos minoritários vai continuar a impactar no valor do ativo. “Com base no preço de fechamento de ontem” dizem os analistas em relatório do dia 14 de agosto, “esperamos que o preço das ações caia 26% para incorporar a diluição.” Desde a data mencionada, as ações da Gol caem cerca de 14%.
Histórico do negócio
Em 22 de março, o conselho de administração da Gol aprovou a conversão de US$ 1,4 bilhão em senior Secured Notes em Exchangeable Senior Secure Notes (ESSN), subscritas pelo Grupo Abra, holding da Avianca Colômbia que passou a controlar a aérea brasileira. O negócio transforma a dívida da Gol em participação acionária, com os acionistas tendo que colocar mais dinheiro na companhia para manter os mesmos direitos.
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Como parte desse negócio, a empresa anunciou a emissão de até 1,891 bilhão de bônus de subscrição ao preço de exercício de R$ 5,84/GOLL4. Esses bônus podem ser convertidos em ações da Gol a qualquer momento até 2 de março de 2028.
Para cada ação da GOLL4, o acionista terá direito ao exercício de 4,52 ações preferenciais. O acionista controlador também está transferindo, sem custos, 991,951 milhões de bônus de subscrição para a Gol Equity Finance, que é referenciada nas ESSNs.
Controlador aumenta participação
“Não esperamos que os acionistas minoritários da Gol irão aderir a este aumento de capital“, dizem os analistas. Eles destacam que a ação é negociada abaixo do custo de caixa total de R$ 11,66/GOLL4 para exercer o bônus (R$ 5,84 de bônus + R$ 5,82 de desembolso para subscrevê-lo a uma ação preferencial).
“Por outro lado, o acionista controlador da Gol converterá a ESSN em capital, o que aumentará sua participação para 86,3%, de 53,9% do valor econômico total”, diz a Ágora. A corretora tem recomendação Neutra e um preço-alvo de R$ 14 para os papéis.
Além da operação de capitalização que vem sendo mal digerida, a companhia aérea também tem outros desafios pela frente, o mais evidente deles tem relação com o preço do petróleo, insumo vital para a operação.
Petróleo pesa na avaliação
O time de análise do Goldman Sachs explica que sua posição neutra em relação à Gol para os próximos 12 meses tem como base os riscos no preço do petróleo, variação cambial das moedas locais em relação ao dólar, demanda por viagens aéreas e competição irracional no setor. Os analistas trabalham com um múltiplo-alvo EV/Ebitda de 4,5 vezes no período, fundamento que mostra a relação entre o valor de mercado da companhia e sua geração de lucro operacional. Pelo o último balanço, de junho deste ano, a companhia está precificada em 5,5 vezes.
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No caso do petróleo, Lima, da Ouro Preto, acredita que o cenário é desfavorável à companhia, dado a uma restrição de oferta por parte dos países produtores, numa tendência de alta no preço da commodity. Esse cenário de menor oferta, traz o sentimento de cautela por parte dos investidores de Gol. “A projeção da recente alta do petróleo tende a ter um impacto consideravelmente negativo no caixa da empresa, e isso, sem dúvida, piora uma situação financeira já complicada”, diz Lima.