- Fundos de crédito estão retomando atratividade para investidores após um primeiro trimestre de incertezas
- Gestores estão adquirindo títulos com taxas mais favoráveis e preços mais baixos, o que indica movimentos promissores no mercado
- Relatório da XP reduz os riscos de que a crise da Light resulte em novas baixas em bloco
Após um primeiro trimestre de incertezas acentuadas pela crise da Americanas (AMER3), os fundos de crédito privado estão retomando a atratividade para investidores. Um relatório da XP, enviado com exclusividade para o E-Investidor, aponta que há movimentos promissores, com gestores adquirindo títulos com taxas mais favoráveis e preços mais baixos.
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A divulgação da análise se dá no contexto de elevação da temperatura do mercado após a Light (LIGT3) entrar com pedido de recuperação judicial. Inicialmente, o receio era de um novo revés em bloco. Para esses fundos, que trabalham com a negociação de títulos de dívidas, a recuperação judicial significa a suspensão de recebimentos.
Em uma crise com grandes empresas, há aumento da percepção de risco, elevando o fluxo de resgates e afastando novos investidores. Para a XP, porém, diferentemente do que foi visto com a Americanas, dessa vez os efeitos devem ser pontuais. A expectativa é de que as gestoras que não estão expostas aos títulos da Light sigam em rota de recuperação e aumento da atratividade.
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O relatório produzido por Clara Sodré, analista de Alocação e Fundos, analisou a estratégia de alocação de produtos distribuídos pela XP. O objetivo é entender a situação dos fundos de crédito observando tanto as características dos títulos presentes nas carteiras quanto o nível de caixa das gestoras. A partir desse recorte, o texto indica mudanças de estratégias que favorecem o investidor.
O primeiro ponto explorado observa os spreads, ou seja, quanto a mais de retorno esses títulos podem oferecer acima dos títulos públicos em uma carteira. Esse levantamento foi feito entre os 68 fundos da plataforma XP classificados como Renda Fixa Crédito Liquidez e Crédito High Grade.
Ao retirar os retornos de Americanas e Light, considerados atípicos pelo relatório, os spreads tiveram elevação de 0,61% a partir de janeiro deste ano.
Diante da necessidade e oportunidade de comprar títulos mais atrativos, os gestores começaram a fazer mudanças em suas carteiras. “Essas compras estão resultando em títulos com melhores taxas e preços menores”, explica Sodré.
Prazo para resgate melhorou
Também foi avaliado o prazo médio desses ativos, a chamada duration. A compra de um ativo com taxa maior pode vir acompanhada de maior risco e ou maior tempo para resgate. O relatório, então, avaliou a duration de 16 fundos.
Em dezembro de 2022 a amostra apresentava uma duration média de 2,65 anos, contra 2,58 anos em abril. “Com a elevação das taxas de retorno, foi possível alocar em títulos mais conservadores, com duration reduzida, mas que apresentam prêmios de riscos de crédito elevados no momento”, destaca trecho do relatório.
Caixa demonstra aumento de compras
Outro termômetro para entender a atual realidade é o caixa dos fundos, que representa os recursos líquidos disponíveis para os gestores. Em dezembro o caixa médio estava em 15,1%. Diante das mudanças de estratégias em razão da crise no setor, os recursos líquidos saltaram para 22,43% em março. Já em abril caíram para 20%.
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Para Clara Sodré, essa redução tem ligação com o aumento de resgates, mas em menor grau. “Durante conversas com alguns desses gestores, concluiu-se que essa redução marginal no caixa está relacionada à postura mais compradora adotada por eles, já que identificaram oportunidades de adquirir ativos de qualidade a taxas favoráveis”, afirma.
Qual a análise sobre os efeitos da Light?
Ainda recente, e demandando maior tempo de análise, o caso da Light pode não ter grande impacto para as gestoras. Para Sodré, os riscos já estavam quase totalmente precificados desde fevereiro. “A maior parte da marcação negativa já passou”, diz.
Observando os números do encerramento da última semana, quando o pedido de recuperação judicial já era público, não houve impacto considerado relevante pela analista da XP. “Comprovando essa nossa tese de que o pior relacionado a esses dois eventos já passou e que a carteira desses fundos está mais atrativa”, destaca.
No entanto, uma dúvida relevante é sobre o potencial da tendência descrita pela XP para compensar os efeitos dos calotes da Americanas e da Light. Nesse ponto, a certeza da analista se dá sobre os fundos que não tinham essas empresas em seus portfólios.
“Esses fundos passaram por reprecificação. Mas com o atual momento, de taxas mais altas em um cenário de juros elevados compensa as perdas anteriores”, afirma.
O que o investidor deve fazer?
Ainda de acordo com o relatório, mesmo que haja um ambiente de recuperação, os retornos dos fundos de crédito privado devem continuar abaixo de outros ativos neste ano. “O investidor não pode olhar só para CDI agora, porque vai fazer com que ele ignore outros pontos relevantes como a gestão dos fundos”, diz Sodré.
Assim, a avaliação é de que o momento não é de resgate, mas de esperar por uma melhora que deve ocorrer de forma sustentada nos próximos anos. “Apostamos em uma boa seleção de ativos. É momento de olhar para boas gestoras com capacidade de captar esse potencial”, destaca.
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