- A falência do SVB, o maior banco dos EUA a quebrar desde a crise de 2008, chacoalhou os mercados globais na semana passada
- Agora, várias questões surgem na mente do investidor. Vai afetar o Brasil? Preciso me proteger?
- Fontes explicam que é cedo para dizer o tamanho do estrago que a SVB vai causar, mas, a princípio, parece que ativos brasileiros estão protegidos
Desde a semana passada, quando em questão de dias a crise no Silicon Valley Bank (SVB) levou um dos maiores bancos de startups dos Estados Unidos à falência, várias perguntas surgiram no mercado e na mente do investidor.
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Boa parte das dúvida não tem uma resposta clara, enquanto agentes do mercado tentam entender se as medidas de emergência anunciadas pelo Federal Reserve para impedir que a crise escale serão suficientes. Como contamos aqui, em comunicado, o banco central americano afirmou estar preparado para lidar com qualquer pressão de liquidez que emergir.
A falência do SVB, a maior entre um grande banco americano desde a crise de 2008, começou na última quarta-feira (7), quando a companhia anunciou a venda de US$ 21 bilhões em títulos de sua carteira.
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Como grande parte desses papéis eram de renda fixa, o banco acabou vendendo os ativos a um preço menor do que do valiam, dado a desvalorização sofrida no mercado americano causada pela alta da taxa de juros.
O movimento gerou um prejuízo de quase US$ 2 bilhões, obrigando o SVB a anunciar uma venda de ações no valor de US$ 2,25 bi – uma maneira de levantar recursos e evitar o colapso.
Tudo isso foi visto com bastante desconfiança por parte de investidores e clientes, que correram para sacar os recursos que tinham depositados na instituição.
O resultado? Uma queda de 60% nas ações do SVB na Nasdaq no pregão da quinta-feira (9). Um dia depois, o FDIC, Federal Deposit Insurance Corporation, decretou a falência do SVB.
Por funcionar como o equivalente americano do brasileiro Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a instituição deve ressarcir os clientes que tiverem até US$ 250 mil em depósitos no SVB.
A falência do SVB pode impactar investidores no Brasil?
Assim que os investidores brasileiros ficaram sabendo da falência do banco americano de startups, as atenções se voltaram às fintechs financeiras do País. O burburinho foi tanto que algumas instituições começaram a se manifestar.
O Nubank comunicou ao mercado, ainda no sábado (11), que não tem qualquer exposição ao Silicon Valley Bank, assim como fez a GetNinjas no domingo (12). Nesta segunda-feira (13), foi a vez do C6 Bank, que informou que “nunca teve nenhum tipo de relacionamento ou exposição” ao SVB.
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Como contamos nesta reportagem, os bancos do Brasil abriram o pregão da segunda em queda. Por causa das regras de sigilo bancário, não dá para saber exatamente a exposição das instituições ao SVB, a não ser que as próprias companhias se manifestem. Apesar disso, especialistas acreditam que os bancões brasileiros estejam afastados do problema.
“Para os grandes bancos brasileiros, acreditamos que a exposição a startups é pequena, porque essas instituições tradicionalmente não têm apetite para emprestar para essas empresas”, afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
Por ora, o mercado ainda tenta entender o impacto que a falência da SVB terá nos Estados Unidos, para então projetar como isso deve impactar outros países, como o Brasil.
Existem dois cenários principais. No primeiro, o banco central americano vai conseguir dar liquidez e financiamento adicional ao mercado, de forma a evitar o transbordamento da situação do SVB para outros bancos – impedindo uma crise de corrida bancária “à la” 2008.
Leia também: Fed cria programa de emergência para aplacar efeitos do colapso do SVB
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Esse é o melhor dos casos, não só porque evita um grande colapso no maior mercado do mundo, mas porque abre espaço para cortes nos juros. “Caso a crise nos bancos regionais americanos force o FED a ter uma postura mais frouxa em relação à taxa de juros, como está sendo precificado no mercado, o mercado passou a precificar na curva de juros um espaço para o Copom também poder cortar juros no segundo semestre desse ano”, destacam Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, da XP, em relatório.
A possibilidade de um afrouxamento nos juros brasileiros, estacionados em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, pode beneficiar os ativos de renda variável, inclusive a Bolsa.
A segunda possibilidade é mais negativa. Seria o caso de o Fed e as outras instituições americanas não conseguirem controlar a crise e o problema da SVB passasse a outros bancos. Uma possibilidade que não é o cenário base das fontes ouvidas pelo E-Investidor, mas que precisa estar no radar.
No caso de uma crise sistêmica, o Brasil não conseguiria escapar, assim como outros mercados globais. No entanto, por enquanto, a expectativa é apenas de volatilidade.
“O Brasil é afetado lateralmente, pois está inserido no contexto de mercados financeiros interligados. Porém não acredito em reais perturbações, contágio importante em algum banco. O que teremos é muita volatilidade”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.
Como se proteger
Ainda que, ao menos neste primeiro momento, especialistas defendam que os ativos brasileiros estejam distantes dos problemas na SVB, qualquer volatilidade muito brusca no mercado norte-americano pode balançar carteiras por aqui. Afinal, trata-se do maior mercado de investimentos do mundo, de onde vem os investidores estrangeiros que ajudam a impulsionar a Bolsa brasileira.
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Mas, como o cenário por aqui já não era dos mais promissores, muitas casas já estavam com posições defensivas montadas e não vão fazer nenhuma mudança nos portfólios por causa da falência do banco nos EUA. “Nossos três temas de investimento na Bolsa seguem inalterados: commodities, empresas com crescimento secular, e empresas de qualidade que estão negociando a preços razoáveis”, diz o relatório escrito pelo time de research da XP.
Para os investidores brasileiros que quiserem mais proteção no momento, seja por temores com o caso SVB, seja por questões ligadas ao mercado doméstico, a diversificação é sempre uma boa estratégia. André Damasio de Mello, líder de renda variável na WIT Invest, explica que não existe um ativo único que possa proteger os portfólios de todas essas intempéries.
“O investidor tem que sempre estar contrabalanceando seu portfólio para ter ativos de perfis diferentes e descorrelacionados que é o que vai proteger em momentos de volatilidade e crise”, afirma. “Se em uma ponta você tem fintechs e startups, na outra é bom ter empresas já consolidadas com história de crescimento secular.”
O especialista destaca ainda que, no atual cenário, é “sempre bom” ter na carteira empresas que não sofrem tanto com taxa de juros, que já tenham o fluxo de caixa robusto, com histórico de ganho de capital e pagamento de dividendos.