Ata do Copom
A ata do Copom de hoje lança luz sobre a visão do comitê sobre os impactos do surto de Covid-19 na inflação brasileira. Segundo o Copom, o surto possui três canais principais de impactos: i) choque de oferta decorrente da interrupção das cadeias produtivas; ii) um choque no custo de produção, proveniente de variações de preços de commodities e ativos financeiros; e iii) escassez de demanda, decorrente de incertezas e restrições impostas como resultado da pandemia. O Copom acredita que os dois primeiros têm pequenos efeitos, devido à fraca interconexão da economia brasileira com as cadeias produtivas globais e à natureza temporária do surto, respectivamente para i) e ii). No entanto, o terceiro efeito tende a ser significativo no horizonte relevante para a política monetária, pois as implicações para a atividade podem ser substanciais.
De fato, o Copom afirmou que, para minimizar o terceiro impacto na economia, seria necessário facilitar a política monetária em mais do que os 0,5 p.p. realizados na reunião – mas o comitê também acredita que a alta incerteza e os desafios externos geram cautela em relação à política monetária. Nas palavras do Copom:
“À luz dessa percepção, o Comitê considerou que uma redução na taxa básica de juros além de 0,50 ponto percentual poderia se tornar contraproducente e resultar em condições financeiras mais apertadas, levando ao efeito desejado oposto. Com base nas informações disponíveis até o momento, o Comitê considera adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo nível. No entanto, o Comitê reconhece que novas informações sobre condições econômicas serão essenciais para determinar seus próximos passos ”
Nossa visão: após o corte de 0,5 p.p. na semana passada, o Copom procurou esclarecer a decisão de reduzir as taxas menos que alguns outros bancos centrais. Certamente, a intensa depreciação do real no acumulado do ano foi mais forte do que na maioria dos países emergentes, e sugeriu ao BC que alguma cautela ainda era desejável, apesar do cenário que apontava para a necessidade de mais estímulos monetários para minimizar os impactos do Covid-19. Por enquanto, embora acreditemos que o cenário atual exija avaliações diárias das próximas etapas da política monetária, a equipe econômica do BBI revisou a previsão da taxa Selic para final de 2020 para 3,50% (dos 3,75% anteriores).
Pesquisa Focus
Em virtude da pandemia de Coronavirus e dos efeitos na economia, o mercado, através do Relatório Focus, tem constantemente revisado as projeções das principais variáveis econômicas. Para inflação, as projeções de IPCA para final de 2020 e 2021 foram revisadas para baixo, de 3,10% para 3,04% e de 3,65% para 3,6%, respectivamente. Para o PIB, a revisão também foi baixista para 2020, de 1,68% para 1,48%, enquanto a projeção para 2021 foi mantida inalterada em 2,5%. A projeção de câmbio, por sua vez, foi revisada para cima para 2020 e 2021, de R$ 4,35/US$ para R$ 4,50/US$ e de R$ 4,20/US$ para R$ 4,29/US$, respectivamente. Por fim, para a Selic, as projeções foram mantidas em 3,75% e 5,25% para final de 2020 e 2021, respectivamente.