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Vale a pena usar o FGTS para comprar as ações da Eletrobras?

Os trabalhadores assalariados poderão usar até 50% do FGTS para comprar os papéis da estatal

Vale a pena usar o FGTS para comprar as ações da Eletrobras?
O TCU aprovou a segunda etapa do processo de privatização da Eletrobras. (Foto: Wilton Júnior/Estadão)
  • Com o aval do TCU, a Eletrobras vai iniciar a capitalização, fazendo com que a União deixe de ser a acionista controladora da empresa
  • Para atrair investidores ao negócio, o TCU autorizou que trabalhadores usem até 50% do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) na compra das ações
  • O governo espera que a liberação do FGTS gere uma venda expressiva de papéis da estatal, na casa de R$ 6 bilhões; analistas comentam se vale a pena apostar os recursos na Eletrobras

(Daniel Rocha e Luíza Lanza) – A aprovação do processo de privatização da Eletrobras (ELET6) pelo Tribunal de Contas da União (TCU), na noite de quarta-feira (18), vai permitir que os trabalhadores utilizem os recursos do Fundos de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para comprar as ações da companhia. O valor mínimo para aplicação é de R$ 200. A oferta é válida para qualquer trabalhador do País com carteira assinada e que tenha dinheiro em conta no FGTS.

O governo espera que a liberação do FGTS gere uma venda expressiva de ações da estatal, movimentando cerca de R$ 6 bilhões. A permissão dada pelo TCU sobre o uso dos recursos estabelece que o trabalhador assalariado pode usar até 50% do fundo para se tornar acionista da Eletrobras. Isso quer dizer que, se o trabalhador tiver R$ 100 mil no fundo, por exemplo, poderá utilizar até R$ 50 mil para a compra dos papéis.

Caso o investidor queira vender as ações no futuro, o valor retornará para a sua conta do FGTS. Quem estiver interessado na negociação pode acessar os canais disponibilizados pela Caixa Econômica Federal (aplicativo FGTS ou agências) e simular os valores da aplicação. A compra das ações será feita por meio de Fundos Mútuos de Privatização ligados ao FGTS (FMP-FGTS).

Vale a pena investir na Eletrobras?

Enquanto o governo espera a liberação desses recursos, os investidores podem estar se perguntando se vale mesmo a pena apostar na Eletrobras. Segundo o analista Fabio Louzada, fundador da Eu Me Banco, a companhia é responsável pela geração de cerca de um terço da energia elétrica do País, o que a deixa em uma vantagem competitiva. “Quando se tem esse tipo de vantagem, não é preciso ser muito eficiente para lucrar, e é exatamente aí que existe a oportunidade”, destaca Louzada.

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Além disso, o baixo retorno dos rendimentos do FGTS pode ser outro motivo para investir na empresa. “Como o rendimento do FGTS é muito baixo e perde para a inflação,  o trabalhador está perdendo o poder de compra. Então, é importante diversificar esse recurso”, afirma.

Outra vantagem citada por analistas do mercado financeiro é a presença da Eletrobras em um setor defensivo, o que pode representar para o investidor a oportunidade de proteger os seus recursos da volatilidade da renda variável.

“A alavancagem financeira da empresa é baixa, considerando seu porte e setor de atuação. Os recursos da oferta de ações entrarão no caixa da companhia sendo utilizados para o seu crescimento e melhora de rentabilidade”, diz Victor Martins, analista sênior da Planner Corretora.

Na avaliação de Hugo Baião Baeta, analista de investimentos da AF Invest, a conclusão do processo de privatização deixará a companhia mais competitiva no mercado em relação às empresas do mesmo segmento. “A privatização da Eletrobras seria excelente para o papel porque as empresas estatais, na maioria das vezes, têm diversas ineficiências, como uma estrutura societária complexa, quadro de funcionários inchado e tomada de decisões burocráticas”, avalia Baeta.

Já o Santander Corretora avalia que os preços da ação devem ficar acima dos níveis atuais. No início da tarde desta quinta-feira (19), as ações estavam sendo negociadas a R$ 42,79. “Acreditamos que a ação pode subir depois da privatização. Então, a probabilidade de um retorno positivo é alta, por conta do ganho de eficiência que a empresa terá depois do processo”, avalia o Santander em relatório.

Entenda os riscos do investimento

Apesar da presença da companhia em um setor considerado defensivo pelo mercado, o analista da Planner alerta que os investidores não devem olhar apenas para a rentabilidade passada, pois os números registrados não garantem o mesmo desempenho no futuro. “Os investidores devem atentar que no contexto da desestatização, cujo modelo foi aprovado pelo TCU, virão outras captações, que podem ser via dívida onerosa e através de oferta de ações”, pontua Martins. Mesmo em um setor defensivo, as perspectivas da companhia neste período podem gerar volatilidade aos papéis.

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Para Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, o investimento é válido para quem já enxergava a Eletrobras como uma empresa com bons fundamentos. Caso contrário, não vale a pena montar posições nos papéis somente pela liberação do saldo do Fundo de Garantia. Além disso, o uso do FGTS também depende do tamanho do patrimônio do trabalhador. “Vamos supor que 50% do FTGS represente 100% do patrimônio que o trabalhador tem para investir em ações. Neste caso, não é recomendável utilizar todo esse percentual na Eletrobras”, afirma.

Fabio Louzada também recomenda cautela. Como o FGTS é comumente utilizado em momentos mais complicados para o trabalhador, o economista sugere que a alocação na Eletrobras não ultrapasse os 5%, mesmo que o governo tenha liberado metade do saldo. “Apesar da oportunidade ser boa, o FGTS é um recurso que faz um ‘colchão forçado’ para muitos trabalhadores que não costumam guardar recursos. O FGTS costuma ‘salvar’ essas pessoas, por isso todo cuidado é pouco”, alerta.

Aprovação do TCU

O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou, na noite de quarta-feira (18), a segunda etapa do processo de privatização da Eletrobras. Com o aval, a companhia pode iniciar a capitalização que vai fazer com que a União deixe de ser a acionista controladora da empresa.

A expectativa do governo é que a operação aconteça até agosto, dois meses antes das eleições. Atualmente, a União possui cerca de 72% do capital da Eletrobras, percentual que deve ser reduzido para até 45% com a desestatização. Segundo informações da agência Reuters, o cronograma da oferta deve ser definido até o começo da próxima semana.

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