- Se nos primeiros meses de 2022 a Bolsa de Valores brasileira conseguiu ir na contramão dos mercados globais e surfar em um cenário macroeconômico desfavorável; agora, essa tendência parece ter se revertido
- Até a quarta-feira (11), o Ibovespa acumulava 3,23% de queda mensal – o suficiente para zerar todos os ganhos do primeiro trimestre e ainda deixar o índice de referência da Bolsa de Valores brasileira no negativo em 0,41%
- Nessa toada, o mesmo investidor que viu a Bolsa bater os 121 mil pontos no início de abril está vendo o índice brigar, agora, para se manter acima dos 100 mil pontos
Se nos primeiros meses de 2022 a Bolsa de Valores brasileira foi na contramão dos mercados globais e surfou em um cenário macroeconômico desfavorável, chegando a acumular uma alta de 13,93% no primeiro trimestre, a tendência se reverteu. Em abril, as incertezas vindas da economia chinesa ajudaram o índice a ter seu pior resultado mensal desde março de 2020, fechando em queda de 10,1%.
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O mês de maio começou seguindo a mesma tendência de baixa, com o aumento da taxa de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Até a quarta-feira (11), o Ibovespa acumulava 3,23% de queda mensal – o suficiente para zerar todos os ganhos do primeiro trimestre e ainda deixar o índice de referência da Bolsa de Valores brasileira no negativo em 0,41%. Agora, o mesmo investidor que viu a Bolsa bater os 121 mil pontos, no início de abril, está vendo o índice brigar para se manter acima dos 100 mil pontos.
Atualmente, a B3 negocia acima dos 104 mil pontos, mas, na visão de todos os analistas do mercado financeiro ouvidos pelo E-Investidor, existe sim a possibilidade de que o Ibovespa volte para a casa dos 100 mil pontos.
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“Com as recentes quedas, a Bolsa brasileira passou a apresentar perdas no acumulado anual, em um movimento atrelado ao cenário externo. A perspectiva é de que essa maior volatilidade continue no curto prazo”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos. Por causa disso, Rodrigo Luis, gestor de renda variável da Somma Investimentos, também não vê como anormal a possibilidade do Ibovespa voltar a negociar na casa dos 100 mil pontos. “De repente, em um momento de estresse e volatilidade é possível até perder esse patamar”, afirma.
Ricardo França, da Ágora Investimentos, explica que o cenário global ainda inspira uma dose extra de cautela, visto que os principais gatilhos externos – como a guerra na Ucrânia e os lockdowns na China – ainda não foram resolvidos. Nos EUA, a forma como a economia reagirá aos apertos monetários também pode ser determinante para a recuperação das bolsas. “No curtíssimo prazo, essa é uma semana importante, pois temos leituras de indicadores de inflação – nos EUA, o CPI; e no Brasil, o IPCA. Isso vai ser bem relevante para avaliar quais serão os próximos passos da política monetária”, diz.
Com toda essa pressão vinda dos mercados externos, o cenário deve continuar desafiador para a Bolsa. Veja o que dizem os analistas do mercado financeiro sobre as perspectivas do Ibovespa no curto prazo:
Ricardo França, analista da Ágora Investimentos
“Como a Bolsa corrigiu bem, sobretudo no mês passado, ela acabou se aproximando dos 100 mil pontos. Se tivermos qualquer motivo ou notícia que estresse os mercados globais, o índice já está muito próximo a esse patamar. E é factível de acontecer até porque o cenário global ainda inspira uma dose extra de cautela. Sem dúvidas os 100 mil pontos são uma marca até psicológica, o que poderia ser um indicativo de muita fraqueza do mercado local. Mas vale lembrar que no último movimento de queda na bolsa esse patamar foi respeitado.
Tem sim essa questão dos 100 mil pontos serem um marco importante, mas não necessariamente ele evita que a bolsa caia abaixo disso ou que se recupere posteriormente. Não acho que isso seja tão relevante em termos de fundamentos da Bolsa, ainda mais pensando no médio prazo.”
Lucas Serra, analista da Toro Investimentos
“A perspectiva é de que essa maior volatilidade continue no curto prazo. Ela tende a se manter, principalmente, se a inflação tanto nos EUA quanto no Brasil se mostrarem mais resilientes ainda. Ela pode se amplificar se continuarmos notando a retirada de capital da nossa economia por parte do investidor estrangeiro.
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Além disso, temos eleições presidenciais já em outubro. Falas e posicionamentos por parte dos principais candidatos podem adicionar mais incerteza ao cenário macroeconômico, refletindo diretamente em volatilidade.
O Ibovespa pode sim vir a testar a região dos 100 mil pontos e, até mesmo, negociar abaixo desse patamar se o cenário macroeconômico continuar a se degradar. Mas para as pessoas que investem na Bolsa, sobretudo aquelas com foco no longo prazo, as recentes quedas podem representar oportunidades interessantes. Diversas empresas de qualidade estão se desvalorizando de maneira mais acentuada, principalmente as companhias com foco em crescimento, cujo fluxo de caixa projetado encontra-se em um horizonte de tempo mais distante e, por isso, são mais sensíveis às variações dos juros.”
Rodrigo Luis, gestor de renda variável da Somma Investimentos
“Não vejo como anormal a Bolsa chegar aos 100 mil pontos e, de repente, em um momento de estresse e volatilidade é possível até perder esse patamar. Mas temos que levar em conta que o preço lucro do Ibovespa, que mede a rentabilidade do índice, está em seis vezes, muito abaixo da média histórica que é um P/L de 11 vezes. Ainda estamos muito descontados e, por mais que a nossa tendência seja de queda, estou vendo isso como uma oportunidade de comprar empresas que têm bons fundamentos e que agora estão com preço barato.
As empresas não estão deixando de funcionar, porque a bolsa está caindo. A tendência é que isso no médio prazo se acalme. Agora, durante o estresse, é preciso estudar e ter paciência.”
Thalles Franco, gestor e sócio da RPS Capital
“O principal fator que influenciou a queda do índice até aqui foi um movimento de aversão de risco forte nos mercados globais. Existe uma preocupação crescente com uma recessão global à frente, dado o aperto monetário que os bancos centrais ao redor do mundo estão precisando fazer para combater a inflação. Acredito que esta volatilidade deve continuar no curto-prazo e não nos surpreenderia se o índice bater a marca dos 100 mil pontos.
Por outro lado, estamos vendo o setor de empresas ligadas à economia doméstica com um “valuation” cada vez mais atraente. Isso nos faz acreditar que esse movimento de queda pode cessar num futuro próximo e apresentar boas oportunidades de compra no mercado brasileiro.”
João Abdouni, analista de ações da INV
“A queda é puxada principalmente pelas questões que estão acontecendo nos Estados Unidos. A entrada de capital estrangeiro na bolsa brasileira no primeiro trimestre ajudou a puxar o índice acima dos 115 mil pontos, com o real se fortalecendo frente ao dólar. Agora, esses investidores estão zerando as posições por aqui com um lucro bom em dólar e levando dinheiro de volta para casa.
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O Ibovespa pode negociar a 100 mil pontos e até abaixo disso. Por ora, a tendência aparenta ser de queda, embora muitas ações estejam descontadas. Nossa taxa de juros está na casa de 12,75% e é ela quem impõe o valuation descontado nas empresas. Daqui a alguns meses ainda vamos entrar no modo eleição, o que certamente trará bastante volatilidade para a nossa Bolsa.”
Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos
“Desde o mês de abril, o Ibovespa entrou em um período de volatilidade e acabou perdendo terreno. O que aconteceu é que, no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, o Brasil estava em uma posição favorável, se beneficiando tanto do diferencial de juros quanto da variação do preço das matérias primas. Agora, as commodities caíram um pouco e, sobretudo, o diferencial de juros com os EUA começou a se reduzir à medida que o Fed está muito agressivo.
O que pode acontecer é que estamos em um excesso de estresse global causado pela subida das taxas de juros nos Estados Unidos e deterioração da economia mundial devido à guerra. Muita volatilidade nos mercados. Estamos em uma situação um pouco especial, mas algumas notícias positivas poderiam levar o mercado a uma alta no curto prazo como compensação desse movimento.”