No exterior, o Federal Reserve (Fed) cortou os juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4% a 4,25% ao ano. O chamado Dot Plot (gráfico de pontos, em português), que reúne as projeções dos membros do comitê, sugere ainda mais uma redução acumulada de 50 pontos-base nas taxas neste ano.
Dados recentes também animaram o mercado, reforçando que o cenário estimado pelo Fed deve se concretizar. Na última sexta-feira (26), o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostrou alta de 0,3% em agosto ante julho, em linha com as expectativas. O indicador é a medida de inflação preferida do banco central americano.
Enquanto no exterior o ciclo de cortes de juros já começou, no Brasil o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15% ao ano, em um comunicado lido como duro pelo mercado, que descartou a possibilidade de reduções em 2025. O Copom reforçou que a política monetária deve seguir em patamar significativamente contracionista por “período bastante prolongado” e sinalizou que poderá retomar o ciclo de alta se considerar necessário.
O combo Selic elevada e taxas mais baixas nos EUA aumentam o chamado diferencial de juros entre os países, o que favorece operações de carry trade – estratégia de investimento que consiste em tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investir em outro que ofereça taxas mais altas, para lucrar com a diferença.
Esse contexto torna o Brasil especialmente interessante para investidores estrangeiros, segundo Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos. “Isso contribuiu para sustentar o ingresso de capital e impulsionar o Ibovespa a superar os 147 mil pontos”, diz.
Os números comprovam essa tese: o saldo de capital gringo na Bolsa brasileira já alcança R$ 26,5 bilhões em 2025, segundo os dados mais recentes disponibilizados pela B3.
Enquanto o Ibovespa renova recordes, o dólar tem caído globalmente. O índice DXY, que compara a moeda americana com seis divisas relevantes, acumula perdas de quase 10% no ano, operando abaixo dos 100 pontos.
Para Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos, grande parte dessa perda de valor está ligada ao movimento de diversificação dos investidores estrangeiros. “Os bons ventos que o nosso mercado tem sentido vêm justamente desse rebalanceamento das carteiras globais, com um olhar um pouco mais atento para os países da América Latina”, afirma.
Maiores altas e baixas do mês
A grande campeã de altas do Ibovespa foi o Magazine Luiza (MGLU3), que disparou 17,22% em setembro. Segundo analistas, a alta das ações refletiu a melhora das expectativas em relação aos juros no Brasil, em linha com a trajetória de arrefecimento das projeções de inflação no Boletim Focus. Esse ambiente tem impacto direto sobre as varejistas, que estão entre os setores mais sensíveis à Selic elevada.
Na sequência, estiveram os papéis ordinários da Eletrobras (ELET3), que subiram 16,66%, enquanto os preferenciais (ELET6) registraram alta de 16,24%. Os bons fundamentos da companhia contribuíram para o movimento. Em avaliação recente, o Bradesco BBI e a Ágora Investimentos reforçaram a confiança na companhia, com projeções de dividendos consistentes entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões por ano.
Entre as principais altas do mês, o GPA (PCAR3) avançou 10,86% no período. O movimento se deu diante de rumores envolvendo o Casino e a venda da fatia restante de 22,5% do grupo francês na companhia. “Houve especulações sobre mudanças no controle acionário, em torno de uma possível saída ou reposicionamento do Casino, além do interesse de novos investidores diante da expectativa de solução para essa questão de governança”, afirma Boragini, da Davos Investimentos.
Por outro lado, a Braskem (BRKM5) foi a ação com pior desempenho em setembro, caindo quase 30% no mês. O momento é delicado para a companhia, que contratou assessores financeiros e jurídicos para revisar sua estrutura de capital. Agências de classificação de risco também rebaixaram as notas de crédito da petroquímica. Contamos mais detalhes dessa história aqui.
A segunda maior queda foi a da Vamos (VAMO3), que cedeu 20,32% em setembro. “No caso da empresa, o resultado do segundo trimestre ficou abaixo da expectativa do mercado, com queda do lucro líquido, alavancagem ainda elevada e revisão do guidance (projeções) para baixo”, explica Bruno Issa, sales de renda variável da InvestSmart XP.
Entre os destaques negativos, figurou ainda a MBRF (MBRF3), empresa que estreou na B3 em 23 de setembro, fruto da fusão entre Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3). Apesar de analistas verem pontos positivos na operação, o que preocupa é a alta alavancagem da companhia, que deve recuar somente no longo prazo.
O que esperar do Ibovespa em outubro
O cenário externo deve seguir favorável aos mercados emergentes, na visão de especialistas. Logo no começo do mês, um indicador importante fica no radar: o payroll (relatório oficial de emprego dos Estados Unidos), com divulgação prevista para sexta-feira (3).
Caso o dado venha mais forte que o esperado, mostrando um mercado de trabalho aquecido, existe a possibilidade de os investidores mudarem suas expectativas em relação à trajetória dos juros americanos. “Isso poderia gerar uma valorização do dólar no mundo e trazer volatilidade às Bolsas, principalmente de emergentes”, afirma Issa, da InvestSmart XP.
No final do mês, a próxima decisão de política monetária do Fed deve movimentar os mercados, em 29 de outubro. Espera-se um novo corte nos juros americanos, o que manterá os investidores com os olhos debruçados sobre esse tema em outubro.
No Brasil, o foco fica na trajetória do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumula alta de 3,15% no ano e pode fornecer indicativos sobre os próximos passos do Copom, movimentando o Ibovespa. O dado relativo a setembro será publicado em 9 de outubro.