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Instabilidade política no Brasil afasta investidores estrangeiros

Risco Brasil cresceu por conta das tensões políticas entre Executivo e Judiciário

Instabilidade política no Brasil afasta investidores estrangeiros
A instabilidade política nacional é uma realidade por conta do tom de ameaça ao Judiciário do presidente Jair Bolsonaro. Foto: Dida Sampaio/Estadão
  • Na quarta (8), após o feriado nacional do Dia da Independência, o Ibovespa respondeu negativamente às manifestações políticas que reuniram apoiadores do governo federal em diferentes cidades
  • Analistas afirmam que a falta de prioridades relevantes do Executivo e os desentendimentos institucionais não são favoráveis ao mercado

A agitação política no Brasil tem tomado as redes sociais, as ruas e na economia. Por conta do tom de ameaça às instituições, somado aos 136 pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro já entregues à Câmara dos Deputados, a instabilidade política nacional é uma realidade. Para especialistas, o crescimento do chamado risco Brasil deve afastar investidores estrangeiros.

Na quarta (8), após o feriado nacional do Dia da Independência, o Ibovespa respondeu negativamente às manifestações políticas que reuniram apoiadores do governo federal em diferentes cidades. A Bolsa fechou em queda de 3,78%, enquanto o dólar à vista saltou 2,84%, para R$ 5,32, a maior valorização percentual diária desde 24 de junho de 2020. O mercado internacional também operou em baixa. O S&P 500 e o Nasdaq encerraram o pregão com baixas de 0,13% e 0,57%, respectivamente. O Dow Jones caiu 0,20%

Para analistas, a falta de prioridades relevantes do Executivo e os desentendimentos institucionais não são favoráveis ao mercado. “Não dá mais para chamar o momento atual de instabilidade política. A instabilidade seria uma exceção, mas já virou padrão”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “A falta de harmonia entre os poderes é uma sinalização negativa para os investidores estrangeiros”.

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Segundo Cruz, existem investidores que já perceberam a necessidade de um prêmio maior para investir no Brasil desde o início do cenário de incerteza e outro grupo de investidores estrangeiros mais sensíveis ao noticiário e ao curto prazo. De acordo com o estrategista, tanto quem aloca recursos com foto em planos a longo prazo, quanto os que são mais sensíveis no curto prazo, estão desencorajados a aplicar no Brasil.

Os investidores mais atentos à situação já não classificam o Brasil como um emergente promissor, mas como um país que deve oferecer retornos maiores para compensar o risco, diminuindo o incentivo do capital externo, afirma Cruz. Ele chama a atenção para o CDS (Credit Default Swap, na sigla em inglês), indicador do risco país. Entre julho e agosto, o índice chegou a crescer mais de 20%.

Alison Correia, CEO da startup de informações para investidores Top Gain, analisa que o sentimento do investidor externo não é diferente do nacional. “Mesmo antes do 7 de setembro, o presidente estava ‘jogando gasolina’ nos outros poderes, o que já causou uma percepção de retirada de recursos”, afirma. Segundo ele, o processo de impeachment ainda é uma incógnita, mas a expressividade das manifestações podem indicar “fortes emoções” para os próximos meses, sobretudo por prévia do ano eleitoral. “Com diminuição do PIB, inflação nas alturas e estrutura de poder quebrada, que tipo de investidor alocaria o seu dinheiro em um país igual ao Brasil?”, questiona Correia.

Para Roberto Motta, chefe da mesa de derivativos da Genial, ao alocar recursos no Brasi, investidores internacionais entendem que um país emergente “tem ruído e confusão”. “Para o estrangeiro, a alocação no Brasil é apenas uma pequena aposta. Se a depreciação é grande, torna-se uma oportunidade de compra de ativos seja em renda fixa ou em Bolsa”, afirma.

América Latina

Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset, explica que a situação fiscal do País é muito delicada e depende da boa relação entre os diferentes poderes. Entretanto, o presidente coloca questões meramente eleitorais como prioridade. Ele avalia que além do paralelo doméstico com os anos de 2013 e 2016, quando houve intensas manifestações contra a ex-presidente Dilma Rousseff, o cenário externo dos países latino-americanos aponta a fuga de investidores estrangeiros.

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“Peru, Argentina, México e Chile também enfrentaram pessimismo político com impeachments, além de agendas vistas com maus olhos para o mercado. Em todos esses casos, vimos o investidor internacional saindo. Até então, o Brasil conseguiu ter destaque, mas agora estamos indo ao encontro dos nossos pares”, comenta.

Segundo o gestor, a aversão ao capital estrangeiro é ainda maior já que o impacto das manifestações e protestos estampam as manchetes de veículos nacionais e internacionais.

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