Com esse direito, o investidor ganha a opção de manter o mesmo nível de participação na companhia. No caso da Gol, para cada ação GOLL4 antiga, o acionista da empresa aérea tem o direito de subscrever (comprar) 2.861 ações novas por R$ 0,01. Um investidor com 100 ações até o dia 11 de junho, por exemplo, recebeu 286.100 direitos de subscrição, representados pelo ticker GOLL2.
Dentro do seu plano de reestruturação, a Gol passou por um aumento de capital de R$ 12 bilhões, que envolveu a emissão de 8,1 trilhões de ações ordinárias (a R$ 0,00029 por ação) e 968 bilhões de ações preferenciais (a R$ 0,01 por ação). Segundo os cálculos do BTG Pactual, se o investidor não subscrever, a diluição acionária será de 99,8%. Isso significa que, caso um acionista detivesse 100% da companhia aérea, agora ele passaria a ter apenas 0,2%.
Welliam Wang, gestor de fundos de ações da AZ Quest, explica que, em processos como esse, também existem as chamadas sobras de subscrição, que são geradas quando nem todos os investidores exercem seu direito de subscrição durante o período pré-determinado. Essas “sobras” ficam disponíveis posteriormente para que os acionistas tenham mais uma oportunidade de adquirir novos papéis.
Se o investidor optar por subscrever, ele ganhará um novo ticker na carteira: o GOLL10, que representa o recibo de subscrição. Esse registro comprova que o investidor manifestou sua intenção de adquirir as novas ações. Segundo Wang, a partir desse momento, pode levar semanas para que GOLL10 se torne, de fato, GOLL54.
Os recibos podem ser negociados no mercado à vista da B3 até serem convertidos em ações. Segundo Wang, embora GOLL54 e GOLL10 sejam ativos da mesma empresa, a diferença de liquidez entre eles tende a gerar comportamentos distintos. Além disso, as negociações de investidores pessoa física, menos familiarizados com esse tipo de operação, pode acentuar as distorções entre os preços. Segundo os dados mais recentes da B3, existem 98.276 CPFs, 244 pessoas jurídicas e 94 investidores institucionais com ações da Gol.
Vale exercer os direitos de subscrição?
Como mostramos nesta reportagem, a recomendação dos analistas é de vender os direitos de subscrição. O entendimento do BTG é de que, mesmo com o processo de reestruturação, a alavancagem da Gol permanecerá elevada, em 5,4 vezes, considerando a medição realizada pela relação do valor da companhia (EV) sobre o lucro antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda).
Wang acrescenta que nem mesmo uma estratégia de arbitragem gera oportunidade para o investidor. Essa prática acontece quando o acionista busca lucrar com a diferença de preços de um mesmo ativo negociado em mercados distintos, como ocorre com a ação GOLL54 e os direitos de subscrição.
Além de considerar a empresa alavancada e o setor de aviação complexo, o gestor enxerga que o papel não apresenta um preço atrativo. “A ação negocia com prêmio em relação às suas concorrentes”, diz.
Antes de investir na Gol, Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Investimentos, acredita ser importante refletir sobre as dificuldades enfrentadas pelas companhias aéreas. Ela enxerga que o setor é difícil de operar e sensível à economia, tendo custos elevados atrelados ao dólar. “Muito difícil prever o que vai acontecer com os papéis daqui para frente. O que posso dizer seriam sobre os resultados. Caso melhorem, a recuperação dos ativos será muito gradual”, avalia.
Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, a tendência é de que o preço do papel da empresa recue no curto prazo para o valor de subscrição, de R$ 0,01. “Esse movimento deve acontecer porque terá uma enxurrada de ações no mercado com o pessoal correndo para vender”, explica.
Segundo os especialistas, a alta taxa de aluguel das ações da Gol – que chegou a 298,7%, segundo relatório mais recente da XP – é um sinal de que os investidores ainda duvidam da recuperação da empresa e apostam na queda dos papéis. “Apesar das reestruturações, o mercado ainda imagina que a companhia não terá plena recuperação e aposta na desvalorização da ação, imaginando que os resultados devem seguir abaixo da expectativa”, ressalta Lopes.
O que aconteceu com a Gol?
Em 12 de junho, a Gol enfrentou um dia decisivo na B3. Como reflexo do aumento de capital, na data, a empresa estreou seus novos tickers – GOLL53 para ações ordinárias e GOLL54 para preferenciais –, além de ter passado a operar em lotes padrão de 1 mil ações, algo incomum na Bolsa brasileira. No pregão de início do novo modelo, os papéis preferenciais da empresa dispararam 1886%, tendo subido 250% na sessão seguinte.
Considerando a nova quantidade de papéis, em 12 de junho o valor de mercado implícito da companhia aérea atingiu R$ 240 bilhões, o que colocou a Gol como uma das empresas mais valiosas do Brasil, perto de nomes como Weg (WEGE3), Localiza (RENT3) e Rumo (RAIL3).
Em relatório, o BTG Pactual destacou a distorção do movimento, já que a Gol tinha acabado de deixar o Chapter 11, processo equivalente à recuperação judicial nos Estados Unidos. Para o banco, “algo claramente estava fora do lugar” e a forte oscilação dos papéis estaria relacionada ao volume baixo de negociação das ações da empresa, o que teria impedido o mercado de fazer uma avaliação adequada da companhia.
O BTG também não descartou a possibilidade de que a conversão em novas ações tenha gerado alguma confusão. “Sabemos que o setor aéreo costuma envolver finanças complexas e que a Gol tem um histórico de estruturas financeiras complicadas, mas desta vez até nós ficamos impressionados com o tamanho da distorção”, disse.
O tom de cautela com a empresa se manifesta nas análises do mercado. A Ágora Investimentos e o Bradesco BBI mantêm recomendação de venda para a Gol, assim como o BTG. Já XP Investimentos, Genial Investimentos, Santander e BB Investimentos não têm mais cobertura para empresa. O Itaú BBA, por sua vez, está com análise restrita para a companhia aérea, sem produção de relatórios.