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Vale a pena investir em empresas que anunciam recompra de ações?

Seguir cegamente a avaliação dos gestores sobre sua própria empresa não é o melhor norte para o investidor

Vale a pena investir em empresas que anunciam recompra de ações?
O investidor que seguiu a Kodak na política de recompra de ações foi dragado pela destruição de valor. (Foto: Adobe Stock)
  • Warren Buffett, o maior gestor de recursos de todos os tempos, foca na gestão do caixa das empresas que ele investe
  • Muitas empresas anuncia programa de recompra apenas para passar um recado de que suas ações estão descontadas
  • Uma companhia que é ótima geradora de caixa paga dividendos regulares

As gigantes de commodities são as que mais fizeram recompra e cancelamento de suas ações nos últimos anos. Isso reforça a ideia de que essas empresas são grandes geradoras de caixa e, portanto, são ativos imprescindíveis na carteira do investidor que busca retornos periódicos. Será mesmo? Quando uma companhia anuncia recompra de ações, é hora de entrar no papel esperando a sua valorização?

Nos últimos meses, muitas empresas se sentiram motivadas a anunciar políticas de recompras por causa do momento de baixa da Bolsa brasileira. Os grandes investidores têm trocado o risco pela renda fixa e investimentos internacionais.

Com os indicadores de valor de suas empresas rodando em níveis baixos, mesmo com operações dando bons resultados operacionais, os gestores percebem a assimetria a anunciam a recompra. Essa é uma forma de rentabilizar o acionista.

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Mas seguir cegamente a avaliação dos gestores sobre sua própria empresa não é o melhor norte para o investidor, é preciso tomar alguns cuidados e procurar estudar as operações. É sempre bom ter em mente que os gestores das empresas entendem mais de seus negócios e menos sobre alocação de recursos.

O executivo de uma petroleira, por exemplo, entende tudo de petróleo, o outro de utilidades públicas tem todo o conhecimento sobre transmissão, geração de energia ou saneamento. Mas será que eles são experts em perceber as variações do mercado financeiro? “Eles não sabem fazer o que o analista e o gestor de recursos faz”, crava João Daronco, analista CNPI da Suno Research.

Prova disso é Warren Buffett, o maior gestor de recursos de todos os tempos. Quando ele compra uma empresa, a única mudança que ele faz é na gestão do caixa, que fica com ele. O executivo toca o negócio e Buffet faz a alocação. “Ele sabe que a gestão não tem ideias sobre o que fazer com a geração de caixa.” Entre as empresas que Buffet tem influência estão a Apple (AAPL34) e o Bank of America (BOAC34).

Fazer recompra de ações é uma forma de alocação de caixa da firma. E, muitas vezes, reinvestir o lucro em ações da própria empresa pode ser um mau negócio.

Kodak não percebeu a mudança de mercado

Um dos exemplos mais notórios aconteceu com a americana Kodak, empresa que dominou por décadas o mercado de fotografia no mundo. Quando passou a ser ameaçada pelas máquinas digitais japonesas, como a Cannon (CAJI34), seus executivos não acreditavam que a novidade seria suficiente para ameaçar seu império. Passaram a recomprar suas próprias ações nas quedas recorrentes.

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O investidor que acreditou cegamente na visão desses executivos também foi dragado pela destruição de valor. “Teria sido muito melhor se os gestores tivesses distribuído esse dividendo do que recomprar uma empresa que estava em claro declínio”, observa Daronco. “O executivo tem um viés ao olhar sua empresa, não dá para confiar cegamente”, complementa Daronco.

Não precisa ir muito longe para chegar a outros exemplos. A Petrobras (PETR4) passou por um momento ruim de sua história na época da ex-presidente Dilma Rousseff, quando a companhia fez uma gestão de caixa e de investimentos duvidosos, deixando-a como a empresa mais endividada do mundo.

Na lista das empresas brasileiras que mais realizaram recompra de ações nos últimos anos também aparece as Lojas Americanas (LAME4), pivô de um escândalo contábil no ano passado que reduziu o preços de suas ações aos centavos.

Portanto, da próxima vez em que uma empresa anunciar um programa de recompra, é importante avaliar se realmente aquela ação está barata e se vale a pena investir pensando na valorização que essa política gera nos papéis.

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Na alocação de capital, executivo tem a opção de pegar o caixa para reinvestir em crescimento, pagar dívida, distribuir ou recomprar ação. Por isso, o bom investidor precisar fazer o acompanhamento trimestral para ter noção sobre se vale a pena comprar o papel.

Evitando armadilha na recompra de ações

O cuidado também deve abranger as análises sobre as empresas. Muitas vezes, o sell side costuma falar bem da gestão para não criar atrito e “dão compra em tudo”, comenta Daronco. No mercado, o chamado sell side é formado pelas corretoras, bancos de investimento e analistas que criam, promovem e vendem produtos financeiros.

O risco de entrar numa fria é grande. Muitas vezes, acontece de as empresas anunciarem o programa de recompra apenas para passar um recado de que suas ações estão descontadas. “Nem sempre estão baratas. Eles anunciam e acabam não fazendo”, diz Bruce Barbosa, sócio fundador e analista de ações da Nord Investimentos.

A recompra de ações é uma forma de remuneração dos acionistas, assim como o pagamento de dividendos. Mas diferentemente dos EUA, onde as companhias preferem usar a recompra, no Brasil a remuneração acontece majoritariamente através dos dividendos.

A diferença tem a ver com a tributação. As operações americanas pagam impostos na distribuição de dividendos aos acionistas, com alíquotas bem pesadas que chegam a 30% do valor. No Brasil, os dividendos não são taxados.

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Por isso, como o dividendo é tributado nos EUA, as empresas preferem recomprar as ações do que distribuir. O efeito é o mesmo, basta pensar que, com a grana do dividendo na mão, seria possível para o investidor recomprar a ação, ampliando a sua participação. Das duas maneiras, portanto, o acionista está aumentando seu investimento na empresa. “O investidor brasileiro não tem a cultura da recompra porque os dividendos aqui são isentos de tributação”, lembra Daronco.

Por isso, diz Bruce, faz mais sentido este tipo de programa nos EUA do que no Brasil e, quando acontece de os executivos anunciarem recompra por aqui, muitas vezes o mercado não dá muita bola. “É sempre assim. Anuncia recompra de 1 bilhão de ações e compra três”, exagera. “Várias nem têm dinheiro em caixa para fazer a recompra”.

Em outras palavras, com o CDI pagando patamares de dois dígitos, muitas dessas empresas têm dívidas com rolagem alta e terminam não gerando caixa porque precisam pagar juros. Sem dinheiro em caixa, não têm como fazer a recompra e, se está barata, não é por uma assimetria, mas porque o preço de tela pode ser realmente o valor justo da operação.

Dividendos recorrentes são a melhor forma de avaliar

Portanto, com a Bolsa brasileira negociando nos menores múltiplos históricos, comprar uma ação só porque os gestores anunciaram um programa de recompra pode ser uma cilada.

Para Bruce, sócio  da Nord, muito melhor do que apostar neste tipo de anúncio é acompanhar o pagamento de dividendos, além de ser muito mais fácil de identificar se a operação é geradora de caixa. Isso porque só paga dividendos recorrentes aquela empresa que gera lucro.

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Quando uma empresa paga dividendos, ela distribui parte do lucro diretamente aos acionistas. Na recompra e cancelamento, há uma redução de ações em circulação o que gera ganho de capital na mesma proporção.

Desempenho passado não é garantia de lucro futuro e essa máxima também vale para o pagamento de retorno aos acionistas. Uma companhia que é ótima geradora de caixa e paga dividendos regulares, também pode passar por períodos de investimentos, com vistas em lucros futuros e, com isso,  parar de dar retornos através de dividendos ou recompra.

A lógica vale também para as grandes geradoras de caixa brasileiras, as empresas de commodities. Um exemplo é a Vale (VALE3), que nos últimos dois anos e meio já realizou a recompra e cancelamento de mais de 745 milhões de ações. Esse número, dividido pelo seu total de ações no mercado, cerca de 4,5 bilhões de ações, representa um retorno em valorização de mais de 16% a seus acionistas no período, ou algo em torno de 6,5% ao ano. Somado aos dividendos em 10,7% dos últimos 12 meses, o investidor da Vale pode ter tido um rendimento de mais de 17%. Um retorno maior que a renda fixa de dois dígitos brasileira.

“Este é um retorno considerável, mas é preciso levar em conta que a Vale é uma empresa cíclica. Não me parece que esse retorno vai se manter pelos próximos anos”, diz Daronco. As empresas de commodities de vários setores se beneficiaram nos últimos anos de um ciclo positivo e, por serem exportadoras, também conseguiram uma melhor performance devido ao dólar mais alto.

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