- Em 2020, a companhia descobriu uma fraude de R$ 60 milhões em bônus pagos a executivos e teve que republicar balanços de 2019 e 2018 por suspeitas de manipulação de dados
- As polêmicas fizeram as ações se dissolverem 81,78% no acumulado de 2020, ano em que a companhia reportou prejuízo de R$ 1,5 bilhão
- Sob nova gestão, a empresa conseguiu emplacar um lucro de R$ 17,9 milhões em janeiro de 2021, revertendo o prejuízo de R$ 132 milhões no mesmo período do ano passado
Antes mesmo do coronavírus se espalhar pelo Brasil e puxar para baixo grande parte das empresas da Bolsa, o ressegurador IRB (IRBR3) já sofria a própria crise particular. A companhia descobriu uma fraude de R$ 60 milhões em bônus pagos a executivos e teve que republicar balanços de 2019 e 2018 por suspeitas de manipulação de dados. As polêmicas fizeram as ações dissolverem 81,78% ao longo de 2020, ano em que a empresa reportou prejuízo de R$ 1,5 bilhão. Agora, há sinais de luz no fim do túnel.
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Sob nova gestão, a empresa conseguiu emplacar um lucro de R$ 17,9 milhões em janeiro de 2021, revertendo o prejuízo de R$ 132 milhões no mesmo período do ano passado. O faturamento bruto (prêmio emitido) também saltou 29,9%, para R$ 813,6 milhões. O resultado animou os investidores por indicar uma recuperação mais consistente do IRB, que já foi considerado um dos ativos ‘queridinhos’ do mercado. O atual presidente do ressegurador, Antonio Cassio dos Santos, já havia indicado uma visão otimista para este ano.
Eduardo Lucena, CEO da THB Brasil: O pior já passou
“Confiamos no desempenho positivo do IRB para os anos vindouros a partir de 2021, colhendo os frutos da etapa de limpeza e com a descontinuidade de contratos que asseguraram baixa margem e afetaram nossos resultados”, afirmou o presidente, em relatório do 4º trimestre em 2020.
Como reflexo do desempenho positivo, os papéis subiram 5,91% no pregão da última terça-feira (23), data em que os resultados foram divulgados, para R$ 5,91. Na quarta-feira (24), os ativos terminaram o pregão em queda de 6,20% em um movimento de ajuste, cotados a R$ 6,05.
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Depois do inferno astral que cercou a empresa em 2020, será que chegou a hora de dar uma segunda chance para o IRB?
Entre otimismo e cautela
Os especialistas são unânimes em relação aos resultados: de fato, os números representam uma evolução no ressegurador. O que resta saber é qual a perenidade desses dados mais robustos. “O resultado aumenta a expectativa por uma recuperação em 2021, mas precisa dar continuidade aos melhores resultados”, diz Regis Chinchila, Analista da Terra Investimentos. “IRB deve continuar bastante volátil, com investidores mais influenciados pelo comportamento especulativo.”
Segundo o especialista, ainda é cedo para afirmar que a empresa reverteu os recentes problemas contábeis e de governança. “Vamos aguardar o balanço do 1 trimestre de 2021. Essa foi apenas a posição de janeiro. Para falar em turnaround (virada) precisamos de mais elementos e dados”, diz Chinchila.
Eduardo Lucena, CEO da THB Brasil, está mais otimista e vê o ressegurador já reconquistando a confiança do mercado. “A empresa agrega um time de excepcionais subscritores, com altíssimo conhecimento técnico e profunda experiência no mercado. Essa equipe é o grande diferencial competitivo do IRB, eles conhecem os riscos brasileiros melhor do que a média de mercado”, afirma.
Os novos executivos também têm feito um bom trabalho, na visão de Lucena. “Eles estão implantando os mais rígidos modelos de governança, subscrevendo com cautela e provisionando sinistros corretamente. O pior já passou.”
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Em queda de 21,27% no acumulado de 2021, o banco BTG Pactual ainda vê os papéis como ‘caros’. “Seguimos cautelosos com o papel, apesar do anúncio do resultado positivo”, afirmaram analistas do banco em comentários a clientes sobre os números.
Entenda o caso
Com uma trajetória que já foi ascendente na Bolsa, com valorização das ações IRBR3 em mais de 200% entre 2018 e 2019, o IRB começou a levar os primeiros tropeços a partir do dia 03 de fevereiro de 2020. Na data, a gestora Squadra divulgou uma carta em que justificava a posição vendida no ressegurador, ou seja, de aposta na queda dos papéis.
No relatório, a Squadra questionava as práticas contábeis do IRB, que teriam resultado em um aumento inapropriado de R$ 1,5 bilhão nos lucros. Isto é, os números teriam sido inflados por ganhos não recorrentes no ressegurador. Entretanto, os apontamentos da gestora foram só a ponta do iceberg.
As investigações envolvendo a contabilidade do IRB, que chegou a entrar em regime de fiscalização especial pela Susep e ter processo aberto na CVM, levaram à republicação dos balanços de 2018 e 2019. No total, as discrepâncias encontradas foram de R$ 670,6 milhões nos lucros líquidos – queda de R$ 553,4 milhões em 2018 e de R$ 117,2 milhões em 2019.
A nova gestão do ressegurador foi uma das grandes responsáveis pela renovação e correção das irregularidades apontadas durante 2020. Ainda em março do ano passado, o então CEO do IRB, José Carlos Cardoso, e o CFO, Fernando Passos, deixaram seus cargos. Posteriormente, foram investigados por participação na fraude de R$ 60 milhões em bônus indevidos.
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Atualmente, o CEO do ressegurador e presidente do Conselho de Administação é Antônio Cássio dos Santos. O novo vice-presidente financeiro, executivo e de relações com investidores é Werner Suffertt, nomeado em março de 2020.
*Com conteúdo Reuters