- A companhia divulgou os resultados do segundo semestre deste ano em 17 de agosto e reportou prejuízo líquido de R$ 206,9 milhões. Naquele dia, as ações chegaram a bater a mínima histórica, com queda de 7,5%, a R$ 5,05
- Porém, com um preço baixo e um horizonte de melhora, esse pode ser um momento oportuno para aquisição
- Essa foi a decisão do bilionário Luiz Barsi, maior investidor individual brasileiro, que recentemente aumentou sua participação no IRB e responde por 1,5% da companhia
(Por Carlos Pegurski, especial para o E-Investidor) O IRB Brasil RE — Brasil Resseguros S/A — viveu um enredo digno de novela: com incertezas, boatos, denúncias e troca de cadeira. A companhia divulgou os resultados do segundo semestre deste ano em 17 de agosto e reportou prejuízo líquido de R$ 206,9 milhões. Naquele dia, as ações chegaram a bater a mínima histórica, com queda de 7,5%, a R$ 5,05.
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Entenda por que as ações IRBR3 têm chamado a atenção do mercado e analise se os papéis da empresa merecem estar na sua carteira de investimentos nos próximos capítulos.
Conheça mais sobre o IRB e seu setor
A “regra de ouro” de todo investimento é conhecer os fundamentos da empresa e do setor. É isso que permitirá ler com atenção o cenário e optar pelos melhores papéis.
O IRB – Brasil Resseguros S/A – foi criado em 1939 pelo governo Getúlio Vargas e é especializado em resseguros, operação em que uma financeira transfere à outra um risco relacionado a uma apólice. Em termos simples, oferece seguro às seguradoras.
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Até 2007, a atividade era monopólio do Estado por meio do IRB; desde então, passou a contar com operações privadas. Hoje, já há mais de 100 empresas que atuam nessa atividade, mas o IRB ainda conta com larga vantagem em relação às suas concorrentes: está entre as principais companhias do setor no mundo, atuando em dezenas de países e liderando com folga o mercado doméstico.
Dez anos após o fim do monopólio, quando fez seu IPO (primeira oferta pública de títulos), 70% do lucro de resseguros do País ainda ficava com o IRB, que também tinha melhor ROE (retorno sobre patrimônio) entre seus pares. A empresa compõe o bloco das financeiras na B3 (que formam o índice IFNC) e ainda é a única resseguradora presente na bolsa.
A abertura de capital foi um sucesso. Em agosto de 2017, mês do seu IPO, as ações eram negociadas a R$ 8 e fecharam o primeiro ano em mais de R$ 10, dando consistência ao valor de mercado. No início de 2020, o valor passaria de R$ 41.
Os resultados da abertura não foram significativos apenas para a empresa, mas também para o País. Segundo Márcia Regina Belmiro Araújo de Souza, mestra em Controladoria e Finanças, foi somente após o IPO do IRB que a penetração do setor de seguros passou a ser relevante no Produto Interno Bruto do Brasil, assim como os impostos sobre o lucro passaram a ser significativos.
Conheça o histórico das ações IRBR3
Desde a abertura de capital, os títulos vinham se valorizando significativamente. Depois de um ciclo de valorização de mais de 500% em cerca de dois anos e meio, tudo indicava um período de prosperidade.
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Mas o IRB viveu um pesadelo no início de 2020 e desde então os títulos da empresa perderam cerca de 85% do valor. O que explica isso?
O primeiro fator se refere ao efeito pandemia. Nos primeiros meses do ano passado, o mundo percebeu que a covid-19 não era um problema circunscrito à China — um dilema e tanto para uma multinacional.
Como os investidores preferiram ativos mais seguros, a exemplo do dólar, praticamente todos os setores sofreram um baque diante da fuga de capital. A B3 teve seu recorde de circuit breakers em apenas uma semana. Mas o mercado pouco a pouco se recompôs e o Ibovespa conseguiu compensar o prejuízo nos meses seguintes.
Já as seguradoras passam por uma recuperação mais lenta. Seja pela quantidade de sinistros ligados a seguros de vida, seja pelos efeitos da crise econômica causada pela covid-19, o setor ainda amarga resultados negativos.
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Mas há fatores internos que explicam os números especialmente desastrosos do IRB. Em fevereiro do ano passado, mesmo mês do efeito covid-19, a gestora Squadra Investimentos, que tem a IRB Brasil em um de seus fundos de investimento, publicou duas cartas a seus acionistas alertando que os resultados do IRB eram frágeis, artificiais e fraudulentos. Antes disso, outros comunicados já haviam questionado a lisura da companhia.
A resseguradora brasileira rebateu as críticas afirmando que segue uma política de integridade rígida e o comunicado seria uma movimentação para lucrar com a oscilação das ações. Mas houve de fato tropeços fiscais. Os balanços de 2018 e 2019 tiveram que ser reanunciados, pois apresentavam mais de R$ 600 milhões de diferença.
Além disso, os executivos teriam embolsado R$ 60 milhões de forma irregular. Diante da pressão, o presidente do Conselho de Administração entregou seu cargo. Esse abalo aumentou a instabilidade dos títulos, que caíram de R$ 41 a R$ 7 em algumas semanas, performando o pior gráfico da B3 no ano passado.
Dias depois do relatório da Square, uma matéria jornalística anunciou que o megainvestidor Warren Buffett havia triplicado sua participação na companhia diante da queda dos títulos. A reportagem foi desmentida pelo bilionário, mas ainda restam dúvidas sobre possíveis movimentos planejados de desvalorização dos títulos IRBR3.
Vale a pena comprar os papéis IRBR3?
O “resumo da ópera” (ou da novela) é que a IRB é uma empresa robusta, com mais de 80 anos, mas que passa por várias dificuldades. A dúvida é: esse é um período interessante para adquirir os títulos subvalorizados ou, em vez disso, a companhia não conseguirá demonstrar uma recuperação mesmo a médio e longo prazo?
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Segundo algumas financeiras, parece ser um bom momento para olhar os papéis do IRB com mais interesse. Embora seja necessária alguma cautela, já que o histórico recente foi conturbado, há alguns elementos que sugerem que a aquisição dos papéis agora podem ser um bom investimento.
Em primeiro lugar, houve reações desde o início do ano, quando o cenário ainda era bastante incerto. No mês de maio, o relatório mensal indicou um lucro líquido de R$ 7,5 milhões.
Outro fator que deve ser considerado é que os papéis oscilam em valores relativamente constantes desde março de 2021, quando o movimento de queda livre terminou. As ações flutuaram entre R$ 5,50 e R$ 10 desde então, de forma que R$ 5,50/R$ 6 é o piso que deve se encontrar no próximo período, provavelmente.
Portanto, com um preço baixo e um horizonte de melhora, esse pode ser um momento oportuno para aquisição. Essa foi a decisão do bilionário Luiz Barsi, maior investidor individual brasileiro, que recentemente aumentou sua participação no IRB e responde por 1,5% da companhia.
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Tudo isso indica que há bons ventos chegando. A questão é de quanto tempo a empresa precisará para atingir o preço-alvo. Raphael Figueredo, analista-chefe da Eleven, dá um palpite: o investidor que tiver dezoito meses de paciência pode ser recompensado com uma valorização de 100%.