Para analistas, uso de tecnologia pode elevar a rentabilidade do Itaú para acima de 25%. (Foto: Adobe Stock)
O Itaú(ITUB4) divulgou metas ambiciosas com o uso de inteligência artificial (IA) para elevar sua rentabilidade medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), que pode ficar entre 25% e 28%, disseram analistas nesta terça-feira (2). No começo do dia, o banco realizou seu Itaú Day 2025 e anunciou uma série de medidas a serem implementadas até 2030, o que agradou os especialistas da reportagem.
A instituição financeira elaborou um plano para dobrar a carteira do varejo até 2030com o uso de tecnologia. A companhia quer elevar o atendimento totalmente online de 15% para 75% em dois ou três anos no segmento do varejo. Para isso, segundo André Rodrigues, head da área de negócios com foco em pessoas físicas, o banco tende a abrir mão do atendimento primário via agências bancárias.
Para Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, a meta de colocar cerca de 75% dos clientes para serem atendidos de forma online é bastante arrojada. Segundo ele, a companhia tende a cortar despesas e melhorar suas margens de lucro. “Se o banco conseguir atingir essa meta, a ação deve resultar em ganhos no mercado, pois a redução de custos tende a destravar valor no preço dos ativos”, explica Mollo.
João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, lembra que a tendência dos grandes bancos é de reduzir cada vez mais a presença física e focar na modernização das plataformas, o que deve trazer aumento de eficiência. Por isso, ele vê com bons olhos a meta do Itaú, que pode trazer mais lucratividade e elevar o pagamento de dividendos no longo prazo.
Presidente do Itaú revela no Investor Day o diferencial competitivo do banco: “Difícil de replicar”
Artur Horta, sócio da The Link Investimentos, explica que atender 75% dos clientes online é uma “meta plausível”. Ele lembra que outros concorrentes, como os digitais Nubank (ROXO34) e Inter (INBR32), atendem 100% dos clientes online, o que pode motivar o Itaú concluir essa etapa no prazo estipulado.
“Ao atingir essa meta, é possível que o Itaú entregue um ROE acima de 25%, acima da média histórica do banco e próximo a algumas fintechs que operam 100% online. Em minha visão, esse foi o principal ponto do evento”, argumenta Horta.
Avanço tecnológico pode abrir as portas para baixa renda
Além da mudança no atendimento, a empresa busca ressignificar seu crescimento. O Itaú focou fortemente nos últimos anos em clientes pessoas físicas de alta renda. Agora, com ganho de escalabilidade com o uso da tecnologia, a empresa tende a ampliar o crescimento na faixa de clientes de renda mais baixa, mas ainda com cautela.
De acordo com Rodrigues, a empresa quer reduzir o espaço de renúncia para públicos ou para mercados que eram considerados menos atrativos.
“A partir de agora queremos estar muito presente nesse mercado endereçável de mais de 100 milhões de brasileiros. Estamos falando de mais de 90% da indústria. Vamos focar nesse mercado massificado em clientes que gerem alto valor, em vários nichos e especialidades. No entanto, vale frisar que mantemos nosso foco prioritário aos mercados de média e alta renda”, explicou Rodrigues.
Para atrair esse novo perfil de cliente, o banco utiliza a estratégia de levar o indivíduo que possui somente o cartão de crédito para o “super app”. No aplicativo, ele tem acesso aos demais serviços do banco, como PIX, área de investimentos e pedidos de empréstimo pessoal.
Na visão de Bruno Benassi, analista de Ativos da Monte Bravo, o anúncio pode ser considerado extremamente positivo, pois competir na baixa renda em 2025 não é mesma coisa que competir na baixa renda há anos atrás. O especialista explica que, para esse segmento, o uso da tecnologia reduz os custos, permitindo maior apetite para suportar a inadimplência.
“Se o custo de servir é muito menor, o banco consegue trabalhar com uma inadimplência maior. Desse modo, a companhia faz a calibragem de quanto risco ela pode tomar em relação à nova capacidade de absorver essa inadimplência. A estratégia é muito positiva e pode elevar a rentabilidade do Itaú”, explica Benassi.
Uso de IA para auxiliar investidores pode trazer grandes ganhos para o Itaú
Aplicativo do Itaú em tela de smartphone; tecnologia deve ajudar banco a avançar sobre público de baixa renda com rentabilidade. (Imagem: Rafael Henrique em Adobe Stock)
A empresa implementará inteligência artificial para guiar investidores sobre momentos oportunos para aportar. Conforme o banco, a Inteligência Itaú tende a informar queda ou alta de determinados ativos e recomendar qual é o melhor papel para o momento.
O exemplo utilizado na apresentação no Itaú Day foi o da queda do dólar. O app tende a notificar o investidor sobre a baixa da moeda americana e recomenda um ativo para aportar. No caso apresentado, a IA recomendou aplicação em um Exchange Traded Fund (ETF, fundo negociado em bolsa de valores como se fosse uma ação) atrelado ao índice da bolsa de Nova York, o S&P 500. Desse modo, a própria tecnologia auxilia na assessoria de investimentos.
Benassi, da Monte Bravo, comenta que a medida reduz custo e aumenta a interação do cliente de alta renda com o Itaú. No entanto, ele não consegue determinar em qual patamar chegará o corte de despesas. Ainda assim, ele possui uma boa perspectiva para a rentabilidade do maior banco privado do Brasil.
“Os ganhos serão marginais a cada ano, mas com o tempo, o investidor deve notar que o Itaú estará com um ROE em torno de 27% a 28%, ou crescendo muito mais. O banco tem realizado um passo a passo para o seu crescimento que tem sido muito bem executado”, afirma Benassi.
Ele complementa que, com as informações do Investor Day, Itaú e Nubank passaram a ser concorrentes diretos no segmento pessoa física. Isso porque o Nubank era totalmente focado na baixa renda e o Itaú, no lado oposto do espectro.
Agora, o bancão também começa a explorar o perfil de público do concorrente, enquanto o banco digital busca rumos para acessar a alta renda. Segundo ele, essa pode se tornar uma disputa interessante para o investidor acompanhar nos próximos anos.
Como ficam os dividendos e as ações do Itaú?
Em relação aos dividendos do Itaú, o CEO da companhia, Milton Maluhy Filho, afirmou que o investidor tende a receber proventos extraordinários no início de 2026. O Itaú trabalha com o pagamento mínimo de 30% do lucro (payout) com a possibilidade de pagamento adicional aos acionistas após o resultado do quarto trimestre de cada ano.
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Segundo o CEO do Itaú, a companhia está atenta a vários riscos do mercado neste ano, como o operacional e o de crédito do índice de Basileia – que mede quanto do capital o banco retém ponderado pelo risco existente sobre seus ativos.
“Faremos distribuição de um dividendo adicional no início do próximo ano. Esperamos que a gente consiga evoluir no valor do dividendo, mas ainda estamos em setembro. Ou seja, tem um ano ainda para concluir, mas as projeções são muito positivas”, conclui o executivo
Para os analistas, a notícia é boa, mas eles se mostram divididos sobre o preço da ação do Itaú. João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, avalia o papel como caro e por isso prefere que o investidor aporte na companhia por meio da Itaúsa (ITSA4).
A recomendação da Levante para Itaúsa é de compra, com preço-alvo de R$ 13,00 para os próximos 12 meses, alta de 17,12% na comparação com o fechamento desta terça-feira (2), quando a ação encerrou o pregão a R$ 11,10. A estimativa para o rendimento em dividendos (dividend yield) da Itaúsa pela Levante é de 8,5% para os próximos 12 meses.
A Monte Bravo tem o Itaú como sua ação favorita do setor. O analista estima que o banco deve pagar 7,5% do seu valor de mercado em 2025 em proventos e 7,3% em 2026. A recomendação é de compra, com preço-alvo de R$ 42,50 para ITUB4, avanço de 11,49% em relação com o fechamento de terça-feira, a R$ 38,12.
Já os analistas da Daycoval Corretora e da The Link Investimentos dizem que o banco está em um excelente momento, mas toda essa boa fase já foi precificada. Ou seja, entrar no papel agora pode representar um risco. Desse modo, eles recomendam o investidor aguardar alguma correção no mercado acionário para fazer novos aportes no Itaú (ITUB4).