A JBS estreou na NYSE nesta sexta-feira (13) (Foto: Divulgação / JBS)
Esta sexta-feira (13) marca a estreia das ações da JBS na New York Stock Exchange (NYSE), maior bolsa de valores do mundo. Os papéis da empresa, agora negociados sob o ticker JBSAY nos Estados Unidos, estavam em alta de 0,15% até às 14h29. Fecharam em alta de 2,78%. No Brasil, os ativos do frigorífico continuam existindo, mas na forma de BDRs – títulos transacionados na B3 que representam ações listadas no exterior. Desde a semana passada, quem tinha as antigas “JBSS3” passou a ter “JBSS32”, novo código dos BDRs.
A ida àWall Street sela um período de controvérsia e abre uma nova etapa de expectativas ambiciosas. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, envolvidos na Operação Lava-Jato e controladores da empresa, chegaram a enfrentar um movimento de resistência à chegada deles aos EUA. O “Ban The Batistas” buscava fechar as portas do mercado de capitais americano à JBS em função do envolvimento dos executivos no escândalo de corrupção, mas não teve sucesso. A dupla listagem foi aprovada em maio, em uma votação apertada entre os acionistas, e agora o pregão número 1 do frigorífico abre novas possibilidades para a empresa.
Para José Ricardo Rosalen, analista da Ágora Investimentos, os papéis da JBS têm margem para subir 80% a partir dessa mudança. Isto porque estar listada na NYSE significa que a companhia terá acesso a um volume de capitais muito mais relevante do que se mantivesse os papéis apenas na B3. O frigorífico brasileiro também está “descontado”, segundo Rosalen, em relação aos pares internacionais, como a Tyson Foods. Em outras palavras, as ações da gigante do setor de proteínas estão mais baratas na comparação com as ações dos concorrentes.
“É uma perspectiva bem positiva para a JBS, que ganha mais visibilidade e liquidez por estar negociando no maior mercado do mundo”, afirma o analista da Ágora, que vê a migração para os EUA até mesmo como um gatilho para um ganho em relação à governança corporativa. “A SEC (CVM americana) é bastante rígida em relação à governança. É um fator positivo para o acionista minoritário. A percepção do mercado é bem favorável, pois a JBS possui diversificação em diferentes proteínas e exposições geográficas. Ou seja, ela não depende de um ciclo em determinada localização ou proteína”, afirma.
Contudo, a alta expressiva dos papéis traçada por Rosalen pode não ocorrer no curto prazo, já que a JBS só terá acesso aos índices americanos após 12 meses do início das negociações na NYSE. “Enquanto não estiver nesses índices, talvez a liquidez no mercado americano ainda continue restrita. Então essa alta de 80% pode não ser fechada imediatamente”, ressalta o analista da Ágora. Essa também é uma avaliação feita pelo Citi – a instituição prevê uma valorização de 30% a 80% para os papéis com o alinhamento dos múltiplos da JBS ao dos pares internacionais. “JBS estreia na NYSE hoje, marcando o final de quase uma década dedicada a lidar com requisitos regulatórios, discussões sobre boas práticas ambientais, sociais e de governança, e ceticismo. Isto abre as portas para um potencial significativo de valorização”, diz o Citi, em relatório.
Joao Abdouni, analista da Levante Inside Corp, já possui recomendação de compra para os BDRs da JBS, com preço-alvo de R$ 90, alta de 16% em relação ao patamar atual. “A empresa busca ser vista como uma companhia global que tem operações no Brasil e não o inverso, com isso tentará destravar um valor de mercado mais próximo dos pares internacionais”, explica. Abdouni também não vê grandes questões em relação à “volta” dos Batistas para o dia a dia da companhia. “Os controladores, apesar de controversos, conseguiram levar a empresa ao posto de maior empresa do setor de proteína animal.”
Por outro lado, há quem ainda tenha preocupações com essa mudança na gestão. Roberto Gonzalez, especialista em governança corporativa, vê justamente a dependência dos irmãos Batista no comando da empresa como um risco. “O mercado tem o entendimento de que os irmãos Batista são bons em estratégia no segmento que eles atuam. Se o mercado avalia que os dois são essenciais para levar a empresa para patamares mais altos, a perda dos dois pode fazer com que a ação despenque rapidamente e vertiginosamente. Por isso, não concordo que você fortaleça demais um acionista, criando uma dependência”, diz Gonzalez. Já Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa, chama a atenção para os efeitos dessa concentração também na estrutura acionária. Joesley e Wesley poderão ficar com até 85% do poder de voto após a reorganização societária. “Quem tem 85% dos votos não precisa pedir nada para ninguém e não haverá qualquer decisão que precisará ser construída em consenso”, afirma Silva.